Cinema do IMS Paulista exibe mostra de filmes de Thomaz Farkas
O cinema do IMS Paulista exibe, de 6 a 16 de março, a mostra Thomaz Farkas Filmes, reunindo alguns marcos da produção cinematográfica do fotógrafo, produtor e diretor Thomaz Farkas (1924-2011). A mostra acontece em diálogo com a exposição Thomaz Farkas, Todomundo, inaugurada no IMS Paulista em 2024, no marco do centenário de Farkas, e que segue em cartaz até 9 de março. A mostra de cinema apresenta um conjunto de alguns dos filmes mais representativos das empreitadas documentais de Farkas e de seus principais colaboradores, como Geraldo Sarno, Sérgio Muniz e Paulo Gil Soares. A programação traz a estreia das restaurações de “Hermeto Campeão” (foto) e “Nossa Escola de Samba”, em parceria com a produtora Sobrenada Filmes, novas digitalizações produzidas especialmente para a exposição do IMS Paulista, exibições em 16mm, um debate e apresentações especiais.
São 11 filmes, divididos em quatro programas. A sessão de abertura, no dia 6/3, às 19h, terá como atração “Nossa Escola de Samba”, “Hermeto Campeão”, nas novas cópias restauradas, e “Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba”, em nova digitalização 2K, que juntos compõem o Programa 1. Em seguida, haverá um debate entre o cineasta e crítico Juliano Gomes, curador da mostra e cocurador da exposição Thomaz Farkas, Todomundo, a arquiteta e pesquisadora Isabel Sanchez, autora da dissertação de mestrado Diálogos modernos: Lina Bo Bardi e a Caravana Farkas, e o editor e mixador de som Guilherme Farkas, um dos responsáveis pela gestão do acervo audiovisual de Thomas Farkas. Nesse dia, a exibição será gratuita, com distribuição de ingressos 60 minutos antes da sessão.
No dia 8, sábado, após visita mediada às 16h pela exposição, haverá uma sessão às 18h apresentada por Juliano Gomes, quando serão exibidos os filmes do Programa 2: “Memórias do Cangaço”, “Viramundo” e “Erva Bruxa”. Nesse dia, o ingresso custa R$ 10 e R$ 5 (meia entrada), mesmo valor praticado para todas as sessões da mostra. Os outros dois programas da mostra Thomas Farkas Filmes são “Subterrâneos do Futebol” e “Todomundo” (Programa 3) e “Jaramataia, Beste” e “Viva Cariri” (Programa 4).
Exibidos nessa seleção em diferentes programas, os filmes “Memórias do Cangaço”, “Subterrâneos do Futebol”, “Nossa Escola de Samba” e “Viramundo” foram originalmente filmados em 16mm, depois ampliados para o formato 35mm e exibidos como um longa-metragem intitulado “Brasil Verdade”, lançado em 1966.
Thomaz Farkas nasceu em 1924 na Hungria, em uma família de origem judaica dedicada ao comércio de equipamentos fotográficos e cinematográficos. Em 1930, quando tinha 6 anos, sua família se mudou para São Paulo, onde seu pai havia, anos antes, aberto com o irmão a loja Fotoptica, no centro da cidade. Assim como os empreendimentos da família na Hungria, a loja era dedicada à venda de equipamentos e produtos, mas, com o tempo e o envolvimento de Farkas, tornou-se um ponto de encontro e circulação de ideias em torno do fazer fotográfico e cinematográfico.
O universo da produção de imagem esteve presente, portanto, desde a infância do artista, que o abraçou com entusiasmo. Em 1943, ingressou na Escola Politécnica da USP, onde se formou engenheiro mecânico e elétrico. Na mesma época, começou a trabalhar na loja da família e se tornou membro do Foto Cine Clube Bandeirante, o mais avançado centro de debates sobre fotografia da cidade. Junto com outros associados do FCCB, nomes como Geraldo de Barros e German Lorca, Farkas usava o laboratório da Fotoptica para imprimir imagens, organizava exposições nos seus corredores, entre outras ações.
Também na década de 1940, começou a frequentar o circuito artístico do Rio de Janeiro, aproximando-se do cotidiano e da história da cidade, marcados intensamente pelas heranças da diáspora africana e da escravização. Ao longo da década de 1950, a exemplo de outros fotógrafos do período que transitaram da experimentação formal para um engajamento social, Farkas gradualmente optou por um compromisso cada vez maior com a cena cultural e política do país, atuando como profissional e empresário. No fim da década, acompanhando o trabalho de colegas arquitetos, documentou a construção da cidade de Brasília, em imagens que mostram tanto detalhes dos projetos arquitetônicos e paisagísticos quanto as precárias condições de moradia dos trabalhadores imigrantes de várias regiões do Brasil.
O interesse de Farkas pela cultura como forma de atuação social se concretizou nos anos 1960 e 1970, quando se voltou ao cinema documental, tema da sua tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo. Em 1964 e 1965, junto com os cineastas Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Maurice Capovilla e Manuel Horacio Giménez, produziu os quatro documentários em preto e branco que compõem o longa-metragem “Brasil Verdade”. Em 1969, quando o país vivia sob o regime de ditadura e após a edição do AI-5, produziu um segundo projeto, “A Condição Brasileira”, reunindo, além de Sarno e Paulo Gil, Sérgio Muniz e Eduardo Escorel. Juntos, percorreram o interior do Nordeste brasileiro, para registrar, agora em filmes documentários prioritariamente em cor, manifestações culturais e a realidade social da região. Pensado como um projeto de difusão amplo, os documentários foram realizados com o intuito de serem, também, exibidos na televisão e em escolas e universidades. O projeto reuniu, além dos diretores, uma equipe de fotógrafos de cinema e técnicos, que construíram essa série pioneira de cinema documental no Brasil, utilizando o som direto em sincronia com registro visual em formato 16mm.
Farkas morreu em 26 de março de 2011, aos 86 anos. Seu arquivo, com mais de 34 mil imagens, encontra-se desde 2007 sob a guarda do IMS. Os filmes dirigidos e produzidos por ele, bem como uma série de informações adicionais, podem ser encontradas no Canal Thomaz Farkas.
Em cartaz até 9 de março no IMS Paulista, a mostra Thomaz Farkas, Todomundo reúne mais de 500 itens, entre fotografias, filmes, equipamentos e documentos, distribuídos por dois andares do centro cultural. A exposição celebra a obra e o legado de Thomas Farkas, abordando sua trajetória como fotógrafo e cineasta, além de sua atuação enquanto articulador do campo cultural brasileiro. Com curadoria de Juliano Gomes, Rosely Nakagawa e Sergio Burgi, a retrospectiva exibe ainda obras de outros fotógrafos e cineastas que atuaram em colaboração com o artista. Ao reunir esse amplo material, enfatiza a coletividade enquanto aspecto central da trajetória de Farkas.
Mostra Thomaz Farkas Filmes
Data: 6 a 16 de março
Ingressos: dia 6/3, sessão de abertura da mostra seguida de debate com Juliano Gomes, Isabel Sanchez e Guilherme Farkas, com entrada gratuita – distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição, limite de uma senha por pessoa e sujeito à lotação da sala / dia 8/3, às 16h, Juliano Gomes realiza uma visita mediada à exposição Thomaz Farkas, todomundo. Às 18h, no Cinema, Gomes apresenta a exibição dos filmes “Memória do Cangaço”, “Viramundo” e “Erva Bruxa”. R$ 10 / Demais sessões: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Local: IMS Paulista – Avenida Paulista, 2424, São Paulo/SP – 11 2842-9120
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h