Vilanova Artigas
É a feição de um personagem contraído e contrariado que abre o documentário Vilanova Artigas: o Arquiteto e a Luz. A câmera exibe um antigo registro quando este que, já naquele momento, era reconhecido como um dos mais importantes arquitetos do país, retornara ao país e foi submetido a uma prova desnecessária. Um processo militar, em 1969, havia abolido por 10 anos o seu direito de lecionar. Ao voltar ao Brasil e à FAU, em 1979, ele teve de reassumir com o cargo de auxiliar de ensino. Só retomou a posição de professor titular ao prestar, a contragosto, um concurso em junho de 1984, – sete meses antes de morrer.
No dia 25 de junho, o filme, escrito por Laura Artigas, sobre João Batista Vilanova Artigas, seu avô, entra em cartaz, por 30 dias, na rede Espaço Itaú de Cinema, nas salas Augusta, Frei Caneca e Pompéia, em São Paulo, e também no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Salvador. Ela, que também é diretora do documentário ao lado de Pedro Gorski, com produção de Gal Buitoni e Luiz Ferraz, da Olé Produções, conta a história deste homem fundamental no universo da arquitetura brasileira – cuja obra é associada ao movimento arquitetônico conhecido como Escola Paulista – por meio das lembranças de familiares, amigos, alunos, assistentes, colaboradores, fotos e audiovisuais de arquivo e visitas a seis de suas principais obras.
A ação perpassa imagens dos tempos vividos em Curitiba, onde nasceu em 1915, a sua chegada a São Paulo, viagens ao exterior, a construção de suas primeiras residências. Segue na toada, com intensos depoimentos dele próprio e documentos de arquivo, mostrando o seu envolvimento na criação da Escola Paulista, as aulas que teve com Prestes Maia, a atuação no Partido Comunista, o exílio, o retorno.
Paralelamente, todo esse percurso é intercalado por depoimentos captados em um estúdio com jeito de sala de estar. Ali, individualmente, pessoas que conviveram com ele relembram, hoje, os fatos e as sensações provocadas por esta vivência. A história é alinhavada por depoimento de sua filha Rosa, dos ex-assistentes Paulo Mendes da Rocha e Pedro Paulo de Melo Saraiva, dos ex-alunos Ruy Ohtake e Jon Maitrejan, dos amigos Juca de Oliveira e Armênio Guedes, do cliente Juvenal Juvêncio, entre outros.
Não faltam visitas a suas obras mais reconhecidas, como as residências do arquiteto no bairro do Campo Belo, o Edifício Louveira, o Estádio do Morumbi, o edifício da FAU, o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães (CECAP/Guarulhos) e a Rodoviária da Cidade de Jaú, interior de São Paulo. Estas construções seguem firmes e ativas e, no filme, são apresentadas sob a ótica dos seus frequentadores. O serralheiro Ezequiel fala das janelas dos Edifício Louveira, em Higienópolis; Raí, o ex-jogador do São Paulo e um torcedor mostram o Estádio do Morumbi. Alunos da FAU-USP comentam a experiência de estudar no prédio. Nardo, experiente mestre de obras, relembra a construção da rodoviária de Jaú.
Em gravações capturadas em arquivo, entre uns e outros, Artigas fala por si até o final do filme, quando repassa para o entrevistado, ou espectador, a responsabilidade de pensar socialmente a arquitetura no emaranhado ambiente urbano deste milênio.