Mirador
Por Maria do Rosário Caetano
“Mirador”, estreia de Bruno Costa na ficção de longa-metragem, chega aos cinemas nessa quinta-feira, 5 de maio, depois de conquistar o prêmio de melhor filme paranaense no Olhar de Cinema (Festival Internacional de Curitiba) e ser escolhido pelo público capixaba, no Festival de Vitória, como a melhor produção brasileira. E mais, receber troféu de melhor ficção no Festival Ibero-americano de Miami, prêmio especial do Júri no Festival de Guadalupe e integrar a seleção oficial da Mostra Tiradentes.
Este filme, obra singular originária do sul do país, tem como protagonista, ao invés de gente de origem europeia, personagens afro-brasileiros. Em especial um pai, o ótimo ator Edilson Silva, que interpreta aspirante a boxeador, “faz-tudo” em restaurante e ajudante de caminhão, e com sua filhinha pequena, abandonada pela mãe.
O paranaense “Mirador” é um drama social narrado com sensibilidade, que evoca a atmosfera dos filmes de Ken Loach e dos irmãos Dardenne. O curitibano Bruno Costa, de 38 anos, formado pela Unespar (Universidade Estadual do Paraná), depois de dirigir o documentário “Cinematoso” e um dos episódios do ficcional “Circular”, faz sua estreia solo na ficção para nos provar que estamos diante de talento dos mais promissores.
O cineasta foge da verborragia, acredita no poder da imagem, sabe que história quer contar e mostra-se atento às questões prementes de nosso tempo. Em especial, à precarização do trabalho e às novas relações parentais-afetivas.
O roteiro é lacunar, mas aos poucos vai nos fornecendo todas as informações necessárias. E o faz com imensa sutileza. Quem é Maycon, interpretado por Edilson Silva? Quem viu o filme “Brasil S.A.”, do pernambucano Marcelo Pedroso, fica intrigado: por que um ator nordestino foi convidado para protagonizar um filme paranaense?
Sem didatismo e com uma simples peça de vestuário, tudo se revelará. Maycon, que treina boxe com a dedicação possível – já que precisa fazer bicos lavando pratos e carregando sacos de lixo (num restaurante) e auxiliando caminhoneiros – nos aparece com camisa rubro-negro-amarela do Sport, um dos grandes times de futebol do Recife. Ele é um migrante pernambucano tentando a vida no Paraná.
Vida que sofrerá grande revés quando Michele (a estonteante Stephanie Fernandes), com quem, em relacionamento casual, teve uma filha, desaparecer sem deixar vestígios. A avó (Léa Albuquerque) ajudará, mas não poderá ficar com a menina, pois faz faxina em pontos distantes da cidade. Com a pequena Malu (Maria Luiza Costa) nos braços, Maycon terá que se virar, cuidar da filha sozinho. Aprender a ser pai, em meio à exaustiva rotina de treinos e bicos que mal lhe garantem a sobrevivência. Contará, de certa forma, com o auxílio atrapalhado do amigo Ramiro (Luiz Pazello). E até com ajuda nada previsível de outro colega, o descolado Wanderlei (Jordan Machado) – um desvio (erótico) que o filme abraçará com contenção e segurança em seus enxutos 95 minutos. “Mirador” é mesmo uma bela estreia vinda das terras do Sul.
Mirador
Brasil, 95 minutos, 2022
Direção: Bruno Costa
Roteiro: Bruno Costa e William Biagioli
Elenco: Edilson Silva, Maria Luiza Costa, Stephanie Fernandes, Luiz Pazello, Léa Albuquerque, Victor Haygert, Jordan Machado, Rafaelle Becker, Giovana Soar, Sandro Tueros
Fotografia: Elisandro Dalcin
Montagem: Matheus Kerniski
Direção de arte: Ana Bona
Figurino: Isbella Brasileiro
Desenho de som: Luiz Lepchak
Produção: Fran Camilo, Bruno Costa e William Biagioli (Metafixa, Costa Filmes e Guaipeca)
Edital de Arranjos Regionais, parceria com Fundação Cultural de Curitiba/Fundo Setorial do Audiovisual/Ancine
Distribuidora: Olhar Distribuição