Quatro filmes brasileiros venderam mais de um milhão de ingressos em 2025 e “O Agente Secreto” tem o melhor desempenho dos lançamentos do ano

Foto: “O Agente Secreto” © Victor Jucá

Por Maria do Rosário Caetano

“O Agente Secreto”, filme de Kleber Mendonça Filho, que vem causando sensação desde sua estreia no Festival de Cannes, é nossa maior bilheteria se levarmos em conta os lançamentos brasileiros desse ano que termina hoje. Dados preliminares dão conta de mais de 190 lançamentos (ficções, documentários e animações) made in Brazil.

O quadro muda se lembrarmos que “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, fez boa parte de seu público no primeiro trimestre desse ano (2.814.000 de seus 5.850.000 ingressos acumulados). Mesmo caso de “O Auto da Compadecida 2”, que estreou no final de 2024, mas mobilizou cerca de 2.770.000 de seus 4.100.000 espectadores também em 2025.

Se levarmos em conta a trajetória destes dois filmes, que estrearam num ano e permaneceram em cartaz por muitas semanas do ano seguinte, “O Agente Secreto” passa a ocupar o terceiro lugar no ranking geral das bilheterias do ano de seu lançamento.

Na contabilidade que farão, doravante, o Boletim Filme B e a Ancine (Agência Nacional de Cinema) estes dados – a quantidade de ingressos vendida em 2025 pelo filme de WSJr e pelo de Guel Arraes e Flávia Lacerda – serão computados com base no ano de 2025. Até para cálculo da taxa de ocupação (market share) da produção brasileira, que ultrapassará os 10 milhões de ingressos.

“O Agente Secreto”, um filme que vem ocupando vagas nobres como finalista (ou semifinalista) ao Globo de Ouro e ao Oscar (e que ganhou dois prêmios dos mais importantes em Cannes – melhor direção para KMF e melhor ator para Wagner Moura) — ainda tem muita estrada pela frente. Se a Academia de Arte e Ciências Cinematográficas de Hollywood o indicar como um dos cinco finalistas a melhor filme internacional, melhor ator protagonista e melhor casting (há quem acredite que ele será um dos nove ou dez finalistas ao Oscar principal) poderá ver crescer sua bilheteria em nosso mercado exibidor.

Quando foi lançado, oito semanas atrás, “O Agente Secreto” conquistou circuito de respeito: 717 salas (de shoppings e circuito de arte). E fez média de espectadores (por sala) das mais respeitáveis, se levarmos em conta seu projeto estético, de alma disruptiva e algo anárquica, longe do melodrama: 395 (se arredondarmos, 400). Outro dado dissonante, que acaba dificultando o número de sessões do “Agente” disponibilizadas em cada sala de cinema: o filme dura 160 minutos (2h40). “Ainda Estou Aqui” dura meia hora a menos (2h10′).

De 5 de novembro, data de sua estreia, até hoje, “O Agente Secreto” (um filme pernambucano-recifense até a medula) vendeu 1.110.000 ingressos. E segue em cartaz em 88 salas (agora, especialmente no circuito de arte). E mantém-se com boa média: 282 espectadores/sala. Graças a esse circuito, o longa de KMF pode superar – se tudo der certo na noite de premiação do Globo de Ouro (11 de janeiro) e no dia da indicação dos finalistas ao Oscar (22 de janeiro) – 1,5 milhão de espectadores. Os mais otimistas arriscam cifra mais gorda: 2 milhões de tíquetes. Difícil, quase impossível. Mas…

Abaixo, a Revista de CINEMA publica levantamento prévio de 28 filmes brasileiros e seus respectivos desempenhos de bilheteria. Os dados são estimados. Ou seja, ainda passarão por crivos mais rigorosos. Nossa fonte é o Boletim Filme B, mas – registre-se – este importante Banco de Dados ainda não publicou sua lista definitiva com as maiores bilheterias brasileiras de 2025. Quando o fizer, o fará com a exatidão e rigor habituais.

Depois, será a vez da Ancine, agência estatal, esta sim, encarregada de computar dados exatos, até de filmes que ficaram abaixo de mil espectadores. No levantamento abaixo, estão listados 28 filmes.

Alguns dados chamam atenção: quatro longas-metragens venderam mais de 1 milhão de ingressos em 2025 e três foram de 400 mil (“Perrengue Fashion”, de Flávia Lacerda) a 800 mil (“Vitória”, de Andrucha Waddington). No meio dos dois, o vibrante “Homem com H”, de Esmir Filho: 700 mil tíquetes.

Um filme, “Fé para o Impossível”, de base religiosa (sobre missionária estadunidense, gravemente ferida num assalto, no Rio) aproximou-se dos 300 mil ingressos.

O outrora pé-quente nas bilheterias, o ator Leandro Hassum, já não anda agradando a milhões de espectadores. Tanto “Uma Advogada Brilhante” (200 mil), quanto “O Rei da Feira” (102 mil) tiveram desempenhos modestos. O cearense Halder Gomes, que já conquistou robustas bilheterias com suas comédias regionais, viu “C.I.C – Central de Inteligência Cearense” estacionar nos 140 mil ingressos.

Alguns filmes pequenos (ou artísticos) brilharam. Destaque para “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, premiado em Berlim, que aproximou-se dos 200 mil ingressos. Uma proeza para uma narrativa poética, de ingredientes oníricos. Outro que marcou presença foi “Malês”, de Antônio Pitanga, produção do craque Flávio Tambellini. O público afro-brasileiro prestigiou o longa histórico (sobre o Levante dos Malês, escravizados de origem muçulmana, na Bahia do século XIX): 110 mil espectadores.

No terreno do documentário, dois títulos deixaram muita produção ficcional no chinelo: “Ritas”, sacudida narrativa sobre a trajetória da cantora Rita Lee, vendeu 41 mil ingressos. Já “Milton Bituca Nascimento”, de Flávia Moraes, produção da Gullane Filmes, aproximou-se dos 30 mil tíquetes.

Dois filmes de gênero – a animação “Eu e meu Avô Nihonjin”, de Célia Catunda, quase atingiu os 40 mil espectadores. O terror “A Própria Carne”, de Ian SBF, praticamente sem publicidade, vendeu 35 mil ingressos.

Confiram a lista abaixo, sabendo que ela trabalha com dados aproximados. Que serão aperfeiçoados quando vierem a público as listas do Boletim Filme B e da Ancine referentes ao ano de 2025.

Chamamos, mais uma vez, atenção para a presença dos dois primeiros filmes – “Ainda Estou Aqui” e “O Auto da Compadecida 2” — na tabela. O primeiro dado se refere ao ano de 2025. O segundo, à bilheteria total por eles alcançada, soma do desempenho em 2024 e 2025. O primeiro se aproximou, no final de sua trajetória, dos 6 milhões de ingressos, e o segundo ultrapassou os 4 milhões.

Os mais vistos:

“Ainda Estou Aqui” …………………………. 2.814.000 (5.850.000)
“O Auto da Compadecida 2” …………….. 2.774.000 (4.100.000)
“O Agente Secreto” ……………………………………………. 1.200.000
“Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa” ……………….. 1.000.000
“Vitória”……………………………………………………………… 800.000
“Homem com H”………………………………………………….. 700.000
“Perrengue Fashion”…………………………………………….. 400.000
“Fé para o Impossível”………………………………………….. 280.000
“Uma Advogada Brilhante”…………………………………… 200.000
“O Último Azul”……………………………………………………. 190.000
“CIC – Central de Inteligência” ……………………………… 140.000
“Malês” ………………………………………………………….……. 110.000
“A Sogra Perfeita” ……………………………………………..…. 104.000
“O Rei da Feira” ………………………………………………..…. 102.000
“DPA 4 (Reino de Ondion) ……………………………………… 90.000
“Maurício de Sousa – O Filme”…………………………………. 85.000
“Uma Mulher sem Filtro”………………………………………… 60.000
“Ritas” (doc) …………………….…………………………………… 42.000
“Eu e meu Avô Nihonjin”………………………………………… 38.000
“A Própria Carne” ……………………………………………….…. 35.000
“Milton Bituca Nascimento” …………………………………… 27.000
“A Melhor Mãe do Mundo” …………………………………….. 25.000
“Perfeitos Desconhecidos” ……………………………………... 20.000
“Manas” …………………..……………………………………………. 18.000
“Um Lobo entre os Cisnes” ……………………………………… 16.000
“Traição entre Amigas” …………………………………………… 15.000
“Virgínia e Adelaide” ………………………………………………. 14.000

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