A difícil barreira

O cinema brasileiro de empenho cultural tem sofrido muito para conquistar o público. Raros, raríssimos, são os títulos que ultrapassam os 50 mil espectadores. Mesmo “Boi Neon”, uma das produções mais festejadas e premiadas de nosso cinema contemporâneo, estacionou em 40 mil ingressos. “O Menino e o Mundo”, que graças à indicação ao Oscar de melhor longa de animação teve a chance de um segundo lançamento, atingiu apenas 49 mil espectadores.

Fora as comédias, as chamadas globochanchadas (que vendem de dois a quatro milhões de ingressos), a situação se mostra desesperadora. Filmes, como “A Luneta do Tempo”, de Alceu Valença, não venderam nem 10 mil ingressos. Neste quadro, um longa-metragem chamou atenção desde seu modesto lançamento: “Nise, o Coração da Loucura”, de Roberto Berliner. Até sua oitava semana em cartaz, ele vendeu 150 mil ingressos. Conseguiu, portanto, sair do atoleiro em que estão nossos filmes de empenho cultural. Conseguiu, como “Cronicamente Inviável” (80 mil ingressos), “Cidade de Deus” (3,2 milhões), “Tropa de Elite 2” (11,1 milhões) – estes dois, verdadeiros blockbusters –, “O Som ao Redor” (100 mil) e “Que Horas Ela Volta?” (500 mil), ocupar espaço social (inclusive saindo dos cadernos de Cultura para outras editorias) e dialogar com um público maior. No caso de “Nise”, dá para acreditar que o interesse pela rebelde psiquiatra alagoana (maior nome da luta antimanicomial no país) motivou o público mais informado a prestigiar este longa que tem em seu elenco, liderado por Glória Pires, outro grande trunfo.

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