Encontrando Claudio Willer

O casal de cineastas e pesquisadores Priscyla Bettim e Renato Coelho contabilizam, juntos, quase duas dezenas de curtas-metragens, todos com uma verve experimental e ensaística, mas apenas com “À Propósito de Willer” (2016) parecem ter ganho a devida atenção. Exibido no Curta Kinoforum, no Curta Cinema e premiado na Semana Paulistana do Curta-Metragem, o filme se propõe a ser uma ode à poesia de Claudio Willer. “Sempre achamos a poesia do Willer extremamente imagética, com muito potencial cinematográfico a ser explorado: a intersecção harmônica entre a escrita beat e o surrealismo, uma poética potente, de fato”, aponta Bettim, que antes fez “Visão 2013 para Roberto Piva” (2013), sobre o poeta da mesma geração de Willer.

Realizado com R$ 80 mil, graças ao Prêmio Estímulo do governo do Estado de São Paulo, ao longo de 21 dias, em julho de 2015, “À Propósito de Willer” é um mosaico sobre Claudio Willer, um caleidoscópio de imagens, aparentemente aleatórias, acompanhadas por textos dos cinco livros de poesia que escreveu, declamados em off pelo poeta e por Bettim. No caos, busca-se um sentido, um encontro entre imagem e som. “A escolha das imagens, assim como as filmagens, se deu de forma mais sensorial e aberta. Saímos meio que à deriva para filmar em locais que de alguma forma fazem parte do universo willeriano, como a Liberdade e a Vila Maria Zélia, em São Paulo, mas também empreendemos viagens para Ubatuba e praias do litoral norte, ilhas, ruínas, Paranapiacaba etc., estradas e mar, carro e barco”, conta Renato Coelho.

Assim como nos trabalhos anteriores, Coelho e Bettim filmam em Super 8, bitola que parece fora de moda. “Afora a textura e o grão, tudo isso que nos encanta na película, filmar em Super 8 nos dá a possibilidade de utilizar efeitos que só são possíveis nessa bitola – e em algumas câmeras 16mm também –, como a chamada técnica do single-frame. Fazer isso em digital, essa coisa sem graça que você pode repetir quantas vezes bem entender, não tem graça nenhuma”, comenta Coelho, que dirigiu, entre outros, “Rua Julieta Palhares, 295” (2013), “O Cinema segundo Luiz Rô” (2013) e “Trem” (2015). “Na maneira que filmamos, é o espírito do momento que importa, tudo que filmamos é no ‘um pra um’, não tem take dois, essas coisas. A limitação imposta pela película também cria uma estética que podemos chamar de lampejos de memórias, de momentos, dos lugares por onde passamos, e por aí vai”, complementa Bettim, diretora também de “Livro de Haikais” (2015) e “Hototogisu” (2015). “À Propósito de Willer” foi apenas filmado em Super 8, mas toda finalização foi feita em digital. A ideia do casal, porém, é um dia montar um laboratório, poder revelar os filmes e finalizar tudo em analógico.

Enquanto o filme circula, Coelho e Bettim seguem no doutorado em Multimeios, na Unicamp – ele pesquisa Luiz Rosemberg Filho e ela, Andrea Tonacci –, e tentam encontrar tempo para concluir alguns projetos. Priscyla Bettim, atualmente, monta um filme a partir de mais de 100 horas de vídeos familiares em VHS de sua família, entre outros. E Renato Coelho está filmando um documentário sobre a amizade e parceria de Luiz Rosemberg Filho e Renaud Leenhardt, diretor de fotografia que trabalha com Rosemberg há mais de 50 anos.

 

Por Gabriel Carneiro

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