Cinebiografia de Allan Kardec

Por Maria do Rosário Caetano

Dois filmes – “Nosso Lar” (4,1 milhões de espectadores) e “Chico Xavier” (3,3 milhões) – comprovaram o poder do filme “espírita” no mercado brasileiro. Por isto, a volta de Wagner Assis, responsável pelo blockbuster “Nosso Lar”, ao gênero, desperta curiosidade.

O cineasta, afinal, deixou de lado as esquisitices (e cafonices) do lar esbranquiçado de seu mais bem-sucedido (comercialmente, claro) filme, ao optar pelo drama cinebiográfico de recorte clássico “Kardec – A História por Trás do Nome”, estreia desta quinta-feira, 16 de maio, em grande circuito, em todo território brasileiro.

O filme está mais próximo da cinebiografia de Chico Xavier, comandada por Daniel Filho, que de “Nosso Lar” e “As Mães de Chico Xavier”. Afinal, “Kardec” traz os valores de produção da badalada Conspiração Filmes, responsável por cinebiografias bem-sucedidas como “2 Filhos de Francisco” (retrato da dupla Zezé de Camargo e Luciano, 5,6 milhões de ingressos) e de “Gonzaga – De Pai para Filho” (Gonzagão e Gonzaguinha, 1,6 milhão de espectadores).

Os cinco minutos iniciais de “Kardec” causam impacto, pois anunciam-se como um tratado contra a intolerância. O professor Hyppolite Léon Denizard Rivail (1804-1869), interpretado por Leonardo Medeiros, trabalha em um liceu privado. Ele enfrentará a ira da Igreja Católica, representada pelo Padre Boutin (Genésio de Barros, em desempenho tão bom quanto o de Medeiros), quando defender, ardorosamente, a ciência e o ensino laico. Graças às reviravoltas e revezes da Revolução Francesa, os católicos retomariam seu poder e voltariam a ter imenso peso nas diretrizes educacionais francesas.

Claro que o filme, baseado na biografia “Kardec”, escrita por Marcel Souto Maior, vai ocupar-se do espiritismo, doutrina que o ex-professor de Liceu sistematizou em livros (em especial, “O Livro dos Espíritos”) que venderam milhões de exemplares e foram parar em fogueiras inquisitoriais (na cinebiografia, simbolicamente representadas pelas chamas que devoraram milhares de volumes na Catalunha espanhola). As “mesas girantes”, essenciais ao espiritismo, terão destaque. Mas perto de “Nosso Lar”, “Kardec” pratica um espiritismo até ligth.

O quarto longa-metragem de Wagner Assis foi rodado parte em Paris, parte no Brasil. O elenco é brasileiro (além dos excelentes Leo Medeiros e de Genésio de Barros, há que se destacar Sandra Corveloni, Palma de Ouro em Cannes por “Linha de Passe”, como a gentil e prestativa Gabrielle, esposa de Allan Kardec). E, também, embora em pequenos papéis, Guilherme Piva (Didier), Licurgo Espínola (Sr. Babinet) e Guida Vianna (Madame De Plainemaison).

Com elenco essencialmente brasileiro (há franceses em papéis diminutos), o filme, claro, é falado em português, o que causa incômodo aos mais exigentes, mas está longe do universo de preocupações do grande público, acostumado a filmes dublados. Se for lançado na França (a Conspiração está negociando com possíveis compradores), o longa-metragem será, claro, dublado para a língua de Racine.

A Revista de CINEMA conversou com Eliana Soárez, do coletivo de produtores da Conspiração, responsável dedicada ao projeto “Kardec” desde que ele foi concebido.

Qual foi o papel da Conspiração na formatação deste projeto? Vocês aceitaram produzir o filme desde que pudessem dar a ele alcance maior que o de “filme espírita”?

Em 2012, tínhamos um grupo de desenvolvimento de roteiros na Conspiração Filmes e, na época, a Kiki Lavigne nos trouxe o tema Kardec. Começamos uma longa pesquisa sobre o personagem. Convidamos o Wagner de Assis, que tinha dirigido “Nosso Lar”, para ser o diretor do projeto. E, por coincidência, o Marcel Souto Maior, conhecido do Wagner, estava terminando de escrever a biografia de Allan Kardec, então tivemos acesso ao livro do Marcel antes mesmo dele ser publicado. Convidamos então o L.G. Bayão para escrever o roteiro junto com Wagner de Assis. Nascia assim o roteiro do filme, há quatro anos. Ao todo, ele teve onze tratamentos. Desde o início, trabalhamos o roteiro para ser uma cinebiografia sobre o professor Rivail, que mais tarde iria se tornar Allan Kardec. Já tínhamos produzido outras biografias antes: “2 Filhos de Francisco” e “Gonzaga – De Pai de Filho”. Desta vez, queríamos contar a trajetória/vida do Kardec.

Quanto do filme foi rodado na França e quanto em estúdios, no Brasil? As locações em Paris encareceram o filme? Há parceiros franceses, ou trata-se de produção 100% brasileira?

Começamos o filme pelo final, filmamos dois dias em Paris com os cabeças de equipe brasileiros, além de Sandra Corveloni e Leonardo Medeiros no elenco. Filmamos depois mais quatro semanas e meia no Rio de Janeiro, em diversas locações. Quase todas as filmagens foram supervisionadas pelo Peralta, nosso supervisor de efeitos especiais na Conspiração, para garantir uma Paris no Rio de Janeiro. A produção é 100% brasileira. Além da prestação de serviços em Paris ter sido paga em euros, a tributação é muito alta para remessa de pagamento no exterior. Mas as filmagens em Paris aumentaram muito o valor de produção do filme. O filme não só se passa em Paris como também é um filme de época – 1850.

A Conspiração participou da escalação de elenco e de créditos da ficha técnica? Como se deu a escolha de Leonardo Medeiros para o papel principal?

A Conspiração e o Wagner Assis escolheram o elenco e a equipe técnica do filme. Alguns profissionais já tinham trabalhado conosco em outras produções. Convidamos Leonardo Medeiros para uma leitura informal, e depois da leitura tínhamos certeza que ele faria um lindo Kardec. Outra grande surpresa se deu no dia da caracterização do Leonardo, quando Anna Van Steen, diretora de arte, terminou o trabalho, Leonardo estava igual ao Kardec.

Com a classe C, historicamente solidária com a produção brasileira, alijada das salas de cinema, você acha que o filme poderá, mesmo assim, atingir bilheterias tão grandes quanto as de “Nosso Lar” e “Chico Xavier”?

O mercado mudou muito. Os números das bilheterias nacionais caíram nos últimos anos, mas estamos confiantes que “Kardec” terá um bom público. Trabalhamos muito nesta reta final de lançamento do filme, com palestras pelo Brasil sobre o tema, assessoria de imprensa, mídia direcionada e divulgação on line. Vai ser um sucesso!

Confira o trailer do filme aqui.

 

FILMOGRAFIA DE WAGNER ASSIS

2004 – A Cartomante
2010 – Nosso Lar
2016 – A Menina Índigo
2019 – Kardec, A História por Trás do Nome

BILHETERIAS ESPÍRITAS NO BRASIL

Nosso Lar (2010)…………………………………….4.060.000
Chico Xavier (2010)………………………………….3.315.000
As Mães de Chico Xavier (2011)……………………512.000
Bezerra de Menezes, Diário de um Espírito…..486.000

 

Kardec – A História por Trás do Nome
Brasil, 1h50, 2019)
Direção: Wagner Assis
Elenco: Leonardo Medeiros, Sandra Corveloni, Genésio de Barros, Dalton Vigh, Guida Viana e Licurgo Espínola
Produção: Conspiração Filmes
Distribuição: Sony Pictures.
Quem montar grupos de, no mínimo 50 pessoas, terá direito a comprar 50 ingressos com valor de meia-entrada.

 

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