Público da Mostra SP seleciona quinze filmes de novos realizadores

Por Maria do Rosário Caetano

O Brasil emplacou cinco filmes entre os quinze finalistas ao Troféu Bandeira Paulista, prêmio da principal competição – a de Novos Realizadores – da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O maior festival do país prossegue em edição on-line até quarta-feira, 4 de novembro.

A escolha dos finalistas foi feita por voto popular. Durante uma semana, foram exibidos mais de 30 títulos brasileiros, sendo 17 assinados por diretores de primeiro ou segundo longa-metragem. Os que receberam as maiores notas dos espectadores estão agora na disputa com dez produções internacionais. A escolha do vencedor será feita por júri formado pela montadora Cristina Amaral (“Serra da Desordem”), a produtora Sara Silveira (“Todos os Mortos”) e o cineasta Felipe Hirsch (“Severina”).

Os títulos mais votados da safra brasileira são o baiano “Filho de Boi”, de Haroldo Borges, os paulistanos “Chico Rei Entre Nós”, de Joyce Prado, “Mar de Dentro”, de Dainara Toffoli, e “O Livro dos Prazeres”, de Marcela Lordy, e o mineiro “Valentina”, de Cássio Pereira dos Santos.

Como se vê, as mulheres são maioria na representação brasileira. A afro-paulistana Joyce Prado chega com documentário sobre figura histórica, o escravo Chico Rei, tema de ficção histórica de Walter Lima Jr (1985). A intenção da jovem realizadora é explorar ecos da escravidão setecentista na vida dos brasileiros de pele preta, mas projetados em nossos dias.

Dainara Toffoli, do ótimo curta “Um Homem Sério”, estreia na ficção de longa duração com “Mar de Dentro”, protagonizado por Manu (Monica Iozzi), publicitária surpreendida por gravidez não planejada, após relação casual com Beto (Rafael Losso).

Marcela Lordy buscou na obra de Clarice Lispector a matéria-prima de seu primeiro longa, “O Livro dos Prazeres”. À frente do elenco está a atriz Simone Spoladore, que interpreta Lóry, professora presa a monótona rotina, perturbada por relações amorosas fugares. Quando ela conhece Ulisses (o ator argentino Javier Drolas, de “Medianeiras”), também professor (de Filosofia), egocêntrico e provocador, ela terá que enfrentar suas angústias. O filme, ambientado num Rio de Janeiro paradisíaco e branco, conta com Martha Nowill e Felipe Rocha no elenco e muitas crianças (aí, sim, veremos cabelos crespos).

“Valentina”, do mineiro Cássio Pereira, que chamou bastante atenção com o curta “Marina Não Vai à Praia”, sobre uma adolescente downiana que sonhava com o mar, tem agora, como protagonista, uma jovem transexual (Thiessa Woinbackk). Ela contracena com Guta Stresser, Rômulo Braga, Letícia Franco e Ronaldo Bonafro.

“Filho de Boi” é fruto da nova geração de cineastas baianos, a mesma que realizou o delicioso “Jonas e o Circo sem Lona” (Paula Gomes, 2018). A diretora soteropolitana produz o filme do colega Haroldo Borges, cujo roteiro ela ajudou a escrever. Trata-se de obra ficcional com assumido diálogo com o documentário. Os atores não são profissionais (uma das exceções é Luiz Carlos Vasconcelos, o Lampião de “Baile Perfumado”). O protagonista João (João Pedro Dias), de 13 anos, tem relação difícil com o pai. Eles vivem num povoado perdido no sertão da Bahia. Quando um circo chega ao local, João faz amizade com o palhaço e este o ajuda a enfrentar seus temores.

“Filho de Boi” iniciou sua trajetória no Festival de Busan, na Coréia do Sul, mesmo território de lançamento de “Aos Olhos de Ernesto”, da gaúcha Ana Luiza Azevedo, filme que, ano passado, conquistou, na Mostra SP, o Prêmio da Crítica como “melhor longa brasileiro”.

Um filme merece toda a atenção do público (e tem o Brasil como parceiro secundário): é o lusitano “Mosquito”, de João Nuno Pinto. Trata-se de um épico de guerra (sem batalhas), ambientado na África Portuguesa. Para preservar seus territórios coloniais da cobiça germânica, durante a Primeira Guerra Mundial, o império português envia tropas a Moçambique. Um soldado, ainda na adolescência, viverá experiências que o farão amadurecer de forma ora traumática, ora bem humorada. De um militar de patente mais alta, que desconfia ser o rapazote “ainda cabaço”, este ouvirá conselho debochado (o filme tem saboroso humor): aproveite “para enterrar a minhoca na selva virgem”.

Os 17 longas de diretores brasileiros estreantes (e não só os cinco pré-selecionados pelo público) serão avaliados pelo Júri da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), formado pelos jornalistas e críticos Ela Bittencourt, Juliana Costa e Francisco Carbone.

Confira os 15 selecionados:

Josep , de Aurel (França, Espanha e Bélgica)

Casulo , de Leonie Krippendorff (Alemanha)

De volta Para Casa – Marina Abramovic e Seus Filhos , de Boris Miljkovic (Sérvia)

Eyimofe (Esse é meu desejo) , de Arie Esiri e Chuko Esiri (Nigéria)

Problemas com a Natureza, de Illum Jacobi (Dinamarca e França)

Al- Shafaq – Quando o Céu se Divide , de Esen Isik (Suíça)

Mãe de Aluguel , de Jeremy Hersh (EUA)

Feels Good Man , de Arthur Jones (EUA)

17 Quadras , de Davy Rothbart (EUA)

Chico Rei Entre Nós , de Joyce Prado (Brasil)

Filho de Boi , de Haroldo Borges (BA-Brasil)

O Livro dos Prazeres , de Marcela Lordy (SP-Rio-Brasil e Argentina)

Mar de Dentro , de Dainara Toffoli (SP-Brasil)

Valentina, de Cássio Pereira dos Santos (MG-Brasil)

Mosquito , de João Nuno Pinto (Portugal, Brasil e França)

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