“Adieu les Cons”, “Adolescentes”, “Nós Duas” e “Josep” são os vencedores dos Prêmios Cesar

Por Maria do Rosário Caetano

A premiação da Academia Francesa de Cinema, que anualmente distribui o Cesar, causou revolta. O franco favorito – “Love Affair(s)” ou “Les Choses qu’On Dit, les Choses qu’On Fait”, de Emmanuel Nouret – levou uma pancada. De 13 indicações, só venceu em mísera categoria (melhor atriz coadjuvante para Émilie Dequenne).

O grande vencedor da festa on-line, realizada no Olympia de Paris, foi “Adieu les Cons”, de Albert Dupontel, ator e diretor de comédias, ainda sem projeção internacional. Ele derrotou de forma acachapante “as coisas que a gente diz, as coisas que a gente faz”, o franco favorito, que além de somar o maior número de indicações (13), figurou na seleção de Cannes e entrou na lista dos dez melhores filmes de 2020 da revista Cahiers du Cinéma.

O jornal Libération, o Libé, em matéria assinada por três autores, não se conteve. Definiu o vencedor do mais disputado Cesar – “Adeus Babacas” – como “a farsa atroz” de Dupontel. Só amaciou o tom ao falar do melhor documentário da noite, “Adolescentes”, que os brasileiros viram no último Festival Varilux.

A trinca do Libé definiu este belo documentário, que acompanha o cotidiano de duas adolescentes no interior da França por alguns anos, como “gracioso”. Das seis indicações recebidas, o filme de Sebastien Lifshitz – que dialoga com o ficcional “Boyhood” (Richard Linklater, 2014) – levou três.

Além de “Loves Affair(s)”, o outro grande derrotado da Noite do Cesar foi François Ozon. Seu filme “Verão de 1985” (também mostrado no Festival Varilux) recebeu 12 indicações. Não triunfou em nenhuma delas.

Atrizes brilhantes (e veteranas) como a alemã Barbara Sukowa e a francesa Martine Chevallier, que vivem história de amor homoafetivo em “Nós Duas” (indicado da França ao Oscar internacional), também ficaram a ver navios. A eleita com o Cesar de protagonista foi Laure Calamy, por “Minhas Férias com Patrick”.

O melhor ator foi o franco-argelino Sami Bouajila, por “Un Fils”. Os cinéfilos brasileiros o conhecem do elenco de “Indigènes” (“Dias de Glória”, épico de guerra de Rachid Bouchareb, 2006), lançado no Brasil pela VideoFilmes. Sami derrotou Jonathan Cohen, sensação da comédia inteligente francesa, que concorreu a melhor ator por “Enorme”. Este filme, que também entrou nas lista dos melhores do ano da Cahiers du Cinéma, só recebeu uma indicação (a de Cohen) e de nada adiantou. Como se vê, a Academia e a bíblia da cinefilia francesa não se guiam pelos mesmos propósitos.

A jovem Fathia Youssouf foi eleita “atriz revelação” por seu trabalho em “Lindinhas”, o atrevido filme apresentado pela Netflix, que provocou a ira de conservadores brasileiros, liderados pela ministra Damares. Jean-Pascal Zadi, da comédia satírica “Sou Francês e Preto”, foi o ator revelação.

Nos prêmios dedicados a outras importantes categorias – como filme de diretor estreante, animação, documentário e longa estrangeiro – a Academia brilhou. A começar pelo dinamarquês “Druk – Mais uma Rodada”, comédia dramática e inteligentíssima de Thomas Vinterberg, eleito o melhor filme internacional. Raras vezes se viu, na história do cinema, narrativa tão ousada, atrevida mesmo, ao abordar a questão do consumo de alcoól. O protagonista Mads Nikkelsen dá mais um show de talento. O número de dança que ele executa no final da trama é arrebatador. Daqueles que fazem nossa alma levitar.

A escolha (categoria animação) de “Josep”, estreia na direção do cartunista Aurel, foi justíssima. Ao narrar a trajetória de Josep Bartoli, famoso ilustrador catalão, que lutou na Guerra Civil Espanhola, exilou-se na França (em precário campo de refugiados), depois no México, Aurel somou tantos méritos, que os acadêmicos devem tê-lo eleito por unanimidade. Trata-se, realmente, de filme para adultos, mas que pode agradar a jovens idealistas, de beleza ímpar e com muito por dizer. Os brasileiros de todos os quadrantes puderam ver “Josep” na Mostra Internacional de Cinema de SP e no Varilux, dois festivais on-line. Quem não o assistiu, que torça por seu lançamento nos cinemas e no streaming.

O melhor roteiro adaptado foi o de “A Garota da Pulseira”, escrito por Stéphane Demoustier. O Brasil, que era finalista nessa mesma categoria – com produção estruturada por Rodrigo Teixeira, “Wasp Network”, de Olivier Assayas – não levou o Cesar. O filme, baseado em “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, do mineiro-paulista Fernando Morais, não agradou à Academia.

Confira os premiados:

. “Adieu les Cons”, de Albert Dupontel: melhor filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante (Nicolas Marié), melhor roteiro original (Albert Dupontel), fotografia (Alexis Kavyrchine), direção de arte

. “Adolescentes”, de Sebastien Lifshitz: melhor documentário, melhor montagem, melhor som

. “Nós Duas”, de Filippo Meneghetti: melhor filme de diretor estreante

. “Josep”, de Aurel: melhor filme de animação

. “Druk – Mais uma Rodada”, de Thomas Vinterberg (Dinamarca): melhor longa estrangeiro

. “Un Fils”: melhor ator (Sami Bouajila)

. “Love Affair(s)”, de Emmanuel Nouret: melhor atriz coadjuvante (Émillie Dequenne)

. “Lindinhas”: atriz revelação (Fathia Youssouf)

. “Sou Francês e Preto”: ator revelação (Jean-Pascal Zadi)

. “La Nuit Venue”: melhor trilha sonora

. “La Bonne Épouse”: melhor figurino

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