CPC-UMES lança “Spartacus”, um dos mais célebres balés do Teatro Bolshoi

Por Maria do Rosário Caetano

O escravo trácio Spartacus desafiou o poder da Roma imperial ao comandar rebelião que inspiraria poetas, ficcionistas, escultores, músicos, cineastas e, também, pensadores como Karl Marx e Rosa Luxemburgo. Em 1954, os soviéticos dedicaram ao gladiador e guerreiro um dos mais famosos balés do Teatro Bolshoi.

Com música de Aram Khachaturyan e coreografia de Yury Grigorivich, o espetáculo tornou-se uma das peças de resistência da mais famosa companhia de dança clássica do mundo. Agora, poderá ser visto em DVD, em cópia restaurada pelos Estúdios Mosfilm, e lançada pelo selo CPC-UMES Filmes.

Os brasileiros só conseguiram assistir a uma apresentação, ao vivo, do “Spartacus”, do Bolshoi, depois da abertura política. Na época da ditadura militar, durante o Governo Geisel, o ministro Armando Falcão, da Justiça, proibiu a Rede Globo de apresentar outro dos mais famosos balés do Bolshoi – “Romeu e Julieta” – para milhões de telespectadores. O argumento-justificativa apresentado foi dos mais curiosos: o espetáculo provinha da Rússia, parte da União da Repúblicas Socialistas Soviéticas. Assim sendo, poderia apresentar leitura comunista da tragédia de Shakespeare.

Quem quiser reviver a história do gladiador rebelde poderá fazê-lo assistindo ao registro de “Spartacus”, realizado em 1975, pelo cineasta Vadim Derbenyov, em parceria com o coreógrafo Yuri Grigorovich. Em sintéticos 89 minutos, grandes bailarinos do Bolshoi mostram o Império Romano expandindo suas conquistas pelo mundo. Moradores da Trácia (hoje, parte dos territórios da Grécia, Bulgária e Turquia) são derrotados pelo exército imperial e escravizados. Os mais fortes e aptos são selecionados para transformarem-se em gladiadores, atrações das mais demandadas pelas arenas-circo romanas.

Spartacus (109 a.C. – 71 a.C.) tornou-se um dos mais importantes lutadores de Roma. Diz a história, que sua revolta chegou ao ápice, quando foi obrigado a matar um de seus amigos (um dos contendores não poderia sair vivo da arena). O escravo-gladiador-guerreiro passou a liderar milhares de outros escravos. Há registros históricos (e muito de lenda) que afirmam que ele chegou a liderar 40 mil homens.

A rebelião ganhou contornos ameaçadores e Roma designou Claudius Glaber para destruir os escravos rebelados. O romano fracassou. Então, chegou a hora de Crasso, membro do Primeiro Triunvirato, assumir o comando das legiões imperiais e derrotar os sublevados. Os combates (da chamada Terceira Guerra Servil) foram, então, vencidos por Roma, mas a lenda do gladiador-guerreiro fertilizou imaginários ao longo dos tempos.

Para o historiador Plutarco, Spartacus “era inteligente e culto, mais helênico que bárbaro”. Já para Floro, Spartacus não passava de “um mercenário, de um desertor, de um bandido promovido a gladiador por sua força”.

Para o alemão Karl Marx, o rebelde trácio era exemplo a ser seguido por quem devia rebelar-se contra a tirania. Em carta a Engels, o filósofo contou que estava lendo, com entusiasmo, “sobre Spartacus e as guerras civis de Roma”. Durante a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht batizaram de Liga Espartaquista, o movimento que lideravam.

Além do belo espetáculo do Balé Bolshoi, Spartacus contou, para perpetuar sua memória, com um épico hollywoodiano protagonizado (e produzido) por Kirk Douglas, sob direção de Stanley Kubrick. O filme, realizado em 1960, ganhou quatro Oscars (ator coadjuvante, fotografia em cores, direção de arte, figurinos) e alcançou sucesso planetário com sua mistura de drama histórico, peplum (saiote, sandália, espada) e romance, temperado com tiradas de humor.

O Spartacus kubrickiano é um épico de longuíssima duração (3h20′), baseado em romance de Howard Fast, um norte-americano de origem judaica, simpatizante do comunismo. Perseguido pelo macarthismo – e por negar-se a revelar nomes de conterrâneos que haviam colaborado com a construção de hospital para refugiados da Guerra Civil Espanhola – ele foi preso. No cárcere, começou a escrever idealizada trama sobre o escravo-gladiador. Seu livro “Spartacus” foi lançado em 1951.

Alguns anos depois, os direitos de adaptação da obra de Fast para o cinema seriam adquiridos por Kirk Douglas (nascido Issur Danielovitch Demsky, portanto, judeu como o romancista). Outro estadunidense, também perseguido pelo macarthismo, o roteirista (depois cineasta) Dalton Trumbo assinou o script. Anthony Mann seria o diretor. Desentendeu-se, porém, com Kirk Douglas, que além de protagonista era produtor-executivo do filme, e foi substituído por Kubrick.

O jovem diretor, então em seus primeiros filmes, comandou elenco estelar. Além de Kirk Douglas, foram mobilizados Lawrence Olivier (Crassus), Peter Ustinov (Batiatus, o dono da escola de gladiadores, premiado com o Oscar), Charles Laughton (o senador Sempronius), John Gavin (Júlio Cesar), Tony Curtis (o escravo Antoninus) e a bela Jean Simmons, como Varínia, mulher de Spartacus.

O balé do Teatro Bolshoi é bem mais econômico em sua duração e mais contido na história que narra da épica spartakiana. Já o filme de Hollywood tem, sim, trunfos dignos de registro. A começar pelo roteiro de Dalton Trumbo, mesmo que pontuado por falas carregadas de proselitismo, pelo talento que Kubrick já demonstrava e pelo show da dupla Peter Ustinov e Charles Laughton. Os dois roubam a cena sempre que aparecem.

Kirk Douglas sabia que, ao mobilizar orçamento faraônico do estúdio, não estava ali para correr riscos. Por isso, “Spartacus” é um épico calculado como grande espetáculo, com cenas românticas e momentos engraçados. A primeira parte resulta em um típico filme de lutas de gladiadores. A segunda registra as duas batalhas entre os legionários romanos e os escravos trácios. O final é dos mais melodramáticos. Como Hollywood sempre gostou e defendeu.

Uma boa pedida – para relembrar o escravo que entrou para a história como símbolo de resistência – consiste em assistir ao registro do Ballet Bolshoi e ao filme idealizado por Kirk Douglas. No ballet russo, a esposa de Spartacus chama-se Frígia. E o bailarino que faz o escravo-gladiador é um força da natureza. Um admirável bailarino-acrobata capaz de, com a leveza de uma pena ao vento, erguer a moça e mantê-la nas alturas com um só braço. Impossível de resistir a tamanha habilidade.

Spartacus
URSS, 89 minutos, 1975
Filme que registra, com recursos cinematográficos, um dos balés mais famosos do Teatro Bolshoi (“Spartakus”, 1954)
Direção: Vadim Derbenyov, em parceria com o coreógrafo Yuri Grigorovich
Fotografia: Vadim Derbenyov e Viktor Pischalnikov
Música: Aram Khachaturyan
Distribuição: CPC-UMES Filmes
Preço: R$39,90
Pedidos: www.umes.org.br

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