Solidão em stop motion
Dentro da animação, o nome de Cesar Cabral vem ganhando destaque desde que seu “Dossiê Rê Bordosa” (2008) começou a rodar o mundo e a ganhar diversos prêmios. Seu último curta, “Tempestade”, também em stop motion, é um dos concorrentes na categoria curta de animação do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e já levou, entre outros, o prêmio de melhor direção no Festival de Paulínia, em 2010. Formado em cinema pela ECA-USP, Cabral logo escolheu a animação, numa época em que o gênero estava longe do boom de hoje, atraído pelos quadrinhos e pelos desenhos.
“Tempestade” traz, em 10 minutos, a aventura de um marinheiro solitário para encontrar sua amada em meio a uma tempestade no oceano, que o tira, por diversas vezes, de sua rota. O curta é inspirado na canção “Eleanor Rigby”, dos Beatles, e nas pinturas de J.M.W. Turner. “’Tempestade’ surgiu quando ouvia uma música dos Beatles, antes mesmo da realização do ‘Dossiê Rê Bordosa’. Ainda estava na faculdade quando escrevi o argumento. No final de 2009, vi que estava aberto o edital da Cultura Inglesa, em que uma das exigências era que o projeto fosse baseado numa obra com origem na língua inglesa, e me lembrei desse argumento”, conta Cabral, um dos sócios da Coala Filmes.
O prêmio do edital era de R$ 33 mil, mas o filme saiu por volta de R$ 50 mil, agregando prêmios conquistados com o filme anterior, como transfer para película, edição e mixagem de som, equipamentos de luz, entre outros.
O filme trouxe algumas complicações técnicas, como animar manifestações de fenômenos naturais, tal qual uma tempestade real. “Estava buscando seguir um caminho diferente do filme anterior, sem diálogos, com um único personagem, desafios para realizar tecnicamente – algumas coisas complicadas em animação, como a tempestade, água/ondas, etc.”, pontua o realizador. O mar, porém, talvez tenha sido o mais difícil. “Considerava o mar como um segundo personagem do filme e sabia que a forma como o realizaríamos seria fundamental para criar um ‘diálogo’ ou mesmo uma força onipresente que ditaria os rumos do marujo. Fizemos vários testes com tintas, celofane, tecidos, etc., até chegarmos nesse caminho, que foi a modelagem de 15 tubos curvos em resina translúcida colocados em paralelo e com uma pequena defasagem progressiva de inclinação. Animando o eixo de cada tubo, criamos a sensação de um deslocamento das ondas”, explica.
Cabral, enquanto vasculha suas anotações em busca de um próximo curta, está desenvolvendo projetos de séries para a TV e um projeto de longa com Angeli. “Esse primeiro contato que tivemos durante o ‘Dossiê’ deixou claro para a gente que podemos ter uma excelente parceria num projeto desse porte”, conclui.
Por Gabriel Carneiro
Meus parabéns Cesar Cabral…assistir aos seus curtas e achei excelente!