Um novo foco para audiovisual

Recentemente empossada, a mais nova Secretária do Audiovisual – e primeira mulher no cargo –, Ana Paula Santana promete dar continuidade às gestões de seus antecessores, seguindo a lógica de que “em time que está ganhando não se mexe”. Como a Secretaria do Audiovisual (SAv) do Ministério da Cultura (MinC) tem crescido muito e recebido mais espaço nas negociações da área, Ana Paula pretende manter as principais conquistas, caso dos editais de longa de baixo orçamento, de desenvolvimento de roteiro, de curtas, o DOC TV, entre outros. Claro, devidamente reformulados, se for o caso. Em entrevista exclusiva à Revista de CINEMA, Ana Paula Santana conta o que continuará, o que mudará e o que de novo ela pretende implantar em sua gestão.
A nova Secretária é um caso raro em nossa política audiovisual. Brasiliense de 29 anos, advogada de formação, nunca trabalhou na prática audiovisual, ao contrário de seus antecessores. Entrou no Ministério da Cultura em abril de 2002, como estagiária da extinta TV Cultura e Arte e foi galgando posições ao longo desses quase nove anos: foi coordenadora de intercâmbio cultural, chefe de gabinete, assessora internacional e jurídica do secretário, e diretora de programas e projetos audiovisuais, até ser convidada pela nova Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para assumir o cargo de Secretária – o que fez no último dia 02 de fevereiro –, após muitas especulações. O quase um terço de vida dedicado à SAv lhe permitiu trabalhar muito proximamente dos quatro secretários anteriores: José Álvaro Moisés (1999-2002), Orlando Senna (2003-2007), Silvio Da-Rin (2007-2010) e Newton Cannito (2010). Isso, para Ana Paula, é seu grande diferencial.

Revista de CINEMA – Você dará continuidade às gestões anteriores? Em que medida?
Ana Paula Santana – Claro! A SAv cresceu muito nos últimos oito anos. Os editais são política estratégica para o setor. Pretendemos agora consolidar o que já foi feito, aprimorar onde há necessidades e avançar com ações novas para o setor. Isso tudo mantendo o diálogo permanente e a construção conjunta com todos os segmentos do audiovisual.

Revista de CINEMA – Você já teve reuniões com a Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para discutir qual será o foco da nova gestão?
Ana Paula Santana – Já estive, sim, com a Ministra algumas vezes, apresentando uma proposta de plano de vôo para a gestão 2011-2014. Esse plano será compartilhado e construído em conjunto com o setor audiovisual para que tenhamos consolidações e avanços. Esse diálogo permanente, além de ser uma prática que já permeava as ações da SAv, é uma orientação da Ministra. Queremos escutar todos do setor audiovisual e também os demais setores culturais que agregam valor ao audiovisual, como teatro, música, tecnologia e etc., promovendo um encontro interestético e de convergência artística e técnica que expresse a diversidade cultural e criativa brasileira.

Revista de CINEMA – Em que medida sua longa experiência na SAv ajudará na nova gestão? Quais as vantagens de ter trabalhado com os últimos quatro secretários?
Ana Paula Santana – Os secretários com os quais tive a honra de trabalhar me deram pernas, musculatura e asas, com eles aprendi a ouvir, dialogar e agir em prol do audiovisual brasileiro. Minha experiência decorre do constante aprendizado ao qual me dediquei para o exercício diário em busca do acerto. Fazer mais com o menos. Consolidar e avançar no que já existe de ganho para o setor e, sempre em conjunto com ele, propor e colocar algumas novas ideias em prática.

Revista de CINEMA – Quais novas propostas estão sendo discutidas e quando devem entrar em ação?
Ana Paula Santana – Temos várias novas propostas que vão da consolidação e continuidade do que já existe até o avanço na construção de novos programas e projetos. Essas novas propostas serão discutidas em diálogo aberto e permanente com todos os segmentos do audiovisual brasileiro. Esse planejamento estratégico da SAv tem como objetivos a valorização dos autores e realizadores do audiovisual, a qualificação de processos, o reconhecimento e investimento no fazer audiovisual. A SAv é a casa do audiovisual brasileiro, responsável por dar base à formulação da política nacional do audiovisual e incrementar todas as etapas da produção independente brasileira. É nesse sentido que pretendemos avançar, sempre em conjunto com o setor, para planejar as estratégias e diretrizes da política audiovisual.

Revista de CINEMA – O que será feito do Fundo de Inovação? Sairá do papel? Há previsão para tal?
Ana Paula Santana – O Fundo de Inovação está previsto no projeto de lei que cria o ProCultura, que está sob análise do Congresso Nacional. Temos que esperar para rediscuti-lo e redesenhá-lo com o setor. Ações de inovação para o audiovisual ampliarão ainda mais o escopo de atuação da SAv e iremos discuti-las com o setor para que integrem a Política Nacional do Audiovisual.

Revista de CINEMA – O edital de filmes de baixo orçamento é um dos maiores sucessos da SAv, mas recebe muitas críticas devido a seu aporte financeiro e quantidade de projetos selecionados. Ele será mantido? Há previsão de que seja reformulado?
Ana Paula Santa – O edital para longa BO é, antes de tudo, uma política que merece ser incrementada. O Secretário Silvio Da-Rin conseguiu aumentar o valor e o número de projetos no último edital, lançado no início de 2010. Em política que está dando certo não se mexe. Temos que aprimorar e buscar todas as formas de ampliar a quantidade e o valor. Mas a continuidade nos editais não ficará restrita ao longa BO. Continuaremos com os editais de curtas e de desenvolvimento de roteiros. O que pretendemos agora é ouvir os setores beneficiados com os editais, de forma a promover um aprimoramento de processos que vai desde a construção do edital até a última etapa de seleção.

Revista de CINEMA – E o DOC TV e o Revelando os Brasis?
Ana Paula Santana – O DOC TV é um modelo que deu certo. Precisa ser atualizado. Não conseguimos fazer isso no ano passado por falta de recursos. Trabalharemos no sentido de incorporar as sugestões que os produtores independentes trouxeram para a SAv no decorrer das edições passadas. O momento agora exige uma avaliação do que foi feito, trabalhar nas modificações necessárias, para assim darmos continuidade ao programa. Já no caso do Revelando os Brasis, queremos trabalhar no sentido de reforçar a capacitação dos selecionados, fazer uma costura do programa com os Cines Mais Cultura e com os Núcleos de Produção Digital do Programa Olhar Brasil. Trata-se de projeto que trouxe impacto positivo na propagação da cultura e do fazer audiovisual em todo o Brasil.

Revista de CINEMA – Como reverter o problema da distribuição que temos no audiovisual brasileiro?
Ana Paula Santa – A Programadora Brasil e os Cines Mais Cultura são programas que contribuem para a distribuição do audiovisual brasileiro. Mas não são suficientes. Fizemos, no ano passado, o Seminário Curta e Mercado, e queremos repetir isso. O Seminário abriu os horizontes para outras possibilidades inerentes ao conteúdo de curta duração. Queremos abrir um diálogo também com distribuidores, exibidores, televisões e demais agentes de outras plataformas para a distribuição da produção independente brasileira. Sentar à mesa com todos os elos da cadeia do audiovisual é ação emergencial. Estamos no grande momento do audiovisual brasileiro.

Revista de CINEMA – Outro problema encontrado no setor são os altos impostos de equipamentos e tecnologias (infraestrutura) vindos de fora do país, por não existirem no Brasil. Há alguma medida sendo estudada para reformular tal política?
Ana Paula Santana – As relações interministeriais representam um ponto que a Ministra solicitou especial atenção por parte de todas as secretarias. A SAv pretende estabelecer trabalho conjunto com todos ministérios com os quais o audiovisual tem relação. No caso específico da infraestrutura audiovisual, trabalharemos em conjunto com a Receita Federal e os ministérios da Fazenda, da Indústria e Comércio e o das Relações Exteriores. A carga tributária, na cadeia audiovisual, é um impeditivo de um crescimento mais progressivo. Temos que, agora, mapear onde estão os problemas, para atuarmos de forma mais eficaz.
Por Gabriel Carneiro

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