Contagem

O cinema mineiro tem despontado como fonte de produções de linguagem ousada, feitas com pouco dinheiro, desde o sucesso de Cao Guimarães. Sócios na Filmes de Plástico, Gabriel Martins e Maurílio Martins – sem parentesco algum – estrearam como dupla com “Contagem”, filme que já venceu os prêmios de direção no Festival de Brasília e de Vitória. Escrito por Gabriel no Ensino Médio, o projeto foi retomado em 2010, como trabalho de conclusão de curso, para o Centro Universitário UNA. Mesmo que conjunta a direção, Maurílio acabou focando nos atores, personagens e diálogos, enquanto Gabriel se preocupou mais com os planos.

A história se divide em quatro eixos narrativos, a visão de quatro personagens sobre uma série de mesmos eventos. “Interessava-nos mostrar como a multiplicidade de pontos de vista inibe a possibilidade de verdade acerca de um fato. Com isso, sobra a subjetividade de cada um. Em um filme que fala de violência, é fundamental não buscar algo moral ou algum discurso nos acontecimentos centrais da narrativa”, explica Gabriel Martins.

Para contar tal história, não houve dúvidas de que deveria se passar em Contagem, cidade onde ambos moram e cresceram, na divisa com Belo Horizonte. “Há uma busca por uma forma de falar, de agir, que são particulares de uma camada da população que vive em espaços parecidos ao nosso, e optamos por filmar perto de casa porque temos um contato mais forte, também porque facilita conhecer a geografia”, aponta Maurílio. “Filmar onde vivemos era uma questão fundamental. A cidade não se faz evidentemente presente nem em fala nem com algum elemento específico de roteiro, mas é visível enquanto geografia, o que faz com que o filme ganhe texturas e uma ambientação não antes vistas no cinema nacional”, complementa Gabriel.

Estrelado por Kelly Crifer, Leo Pyrata, Bárbara Colen, Osman Rocha Alcântara e Robert Frank, “Contagem” foi filmado em dois dias e teve um custo total de R$ 6 mil, sendo R$ 1500 na produção e R$ 4500 na finalização em 35mm. A câmera foi uma Canon 5D e o curta foi rodado em scope. “Penso que o formato concentra a atenção no rosto do personagem ao mesmo tempo em que parece o deixar mais sozinho dentro do plano. É uma sensação que tenho a partir de referências visuais claras como Sérgio Leone”, explica Gabriel.

Atualmente, Maurílio e Gabriel finalizam dois curtas, “Sorin” e “Dona Sônia Pediu uma Arma para seu Vizinho Alcides” (este dirigido apenas por Gabriel), além de um primeiro longa, “Estado de Sítio”, feito com parcos recursos por oito diretores-atores, os dois entre eles. “Estado de Sítio” estreia na 10ª Mostra do Filme Livre, em março. (Gabriel Carneiro)

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