Festival de Cinema de Berlim
Por Fátima Lacerda
De Berlim
Depois da posse do alemão Dieter Kosslick na diretoria do Festival de Cinema de Berlim, em 2002, a Berlinale passou de um evento internacional para um evento gigantesco, seja no acréscimo de mostras paralelas, como “Perspectiva do cinema alemão” e “Cinema culinário”. O número de plataformas envolvendo o mercado cinematográfico também aumentou com o Co-production market, destinada à encontros entre produtores e cineastas/roteiristas para facilitar a realização de filmes espelhando bem a tendência de coproduções com forte atuação de produtoras alemães.
Talent Campus, também criado na era Kosslick, é plataforma de aprimoramento dedicada a jovens cineastas que em forma de workshops tem a chance de apreender com Dinossauros da sétima arte. Por ela já passaram Dennis Hopper, Wim Wenders, Walter Salles, Daniela Thomas, José Padilha, Hans Zimmer e Werner Herzog.
No início da era Kosslick, os filmes eram escolhidos por ele a dedo. Com 10 anos de gestão, eles são escolhidos por uma comissão de seleção num procedimento que mudou totalmente a cara da mostra competitiva.
Produções rodadas em território alemão, filmes subvensionados pelo Ministério da Cultura do país, ex-participantes da plataforma Talent Campus, produções de Hollywood com a participação (mesmo que mínima) de atores/atrizes alemães, são características sempre presentes nos filmes concorrendo aos Ursos.
Mesmo não sendo possuidor do que a associação críticos alemães chama de „veia cinematográfica intelectual“, como seus colegas de Cannes e Locarno, Kosslick já provou inúmeras vezes ter faro o suficiente para formar uma coletânea eclética e instigante de filmes mesmo com a comercialidade necessária em qualquer festival de categoria A.
Esse novo procedimento de seleção de filmes se mostrou ruim também para o cinema brasileiro: na atual comissão parece faltar um conhecimento profundo do mesmo.
Mesmo com a intensa atividade cinematográfica em qualidade e quantidade do cinema nacional, os filmes brasileiros continuam ausentes da mostra de maior prestígio do festival.
Wieland Speck, há 20 anos curador da Mostra „Panorama“, é assíduo e fiel frequentador de festivais de porte no Brasil.
A segunda mostra mais importante do festival conta com a voracidade de cinéfilos ansiosos por novas aventuras em estilística, formato e contéudo. Mesmo com o cobiçado „Prêmio do Público Panorama“ não traz nem de longe o efeito dominó, quase automático em termos de divulgação e vendas de filmes.
Em 2012, o cinema brasileiro ficará (mais uma vez) restrito à mostra paralela. O Diretor Cao Hamburger, que participou da competição em 2007 com „O Dia em que Meus Pais Saíram de Férias“, retorna com „Xingu“.
Fátima Lacerda é jornalista freelancer, radicada em Berlim, formada em Letras, gestora cultural, curadora de filmes entre outros da mostra “Perspectiva América Latina” na Oficina das Culturas (Werkstatt der Kulturen), em Berlim.
Twitter @FatimaRioBerlin
Na Mostra “Panorama” também será exibido o Documentário “Olhe pra mim de novo” dirigido por Kiko Goifmann e Claudia Priscilla.
Kiko já esteve na Berlinale em 2006 na Mostra paralela “Forum” com “Ato dos Homens”.