Começa hoje o Cine PE com grandes produções e filmes autorais

O tradicional festival de cinema de Recife, o Cine PE, chega à sua 16ª edição com uma boa mostra do cinema brasileiro atual, com uma seleção de filmes que mostra o estágio da produção nacional, dividida entre grandes produções, com altos orçamentos, e outras de baixíssimos orçamentos. Mesmo a contragosto de muitos críticos e estudiosos, essa divisão entre o cinema comercial e autoral existe claramente. A seleção deste ano do festival demonstra isto. Os filmes oriundos de grandes produtoras são “À Beira do Caminho”, ficção de Breno Silveira, e “Paraísos Artificiais”, de Marcos Prado, produtor de “Tropa de Elite 2”, a maior bilheteria de todos os tempos do cinema brasileiro. Já Breno Silveira, da Conspiração Filmes, é o diretor de “Dois Filhos de Francisco”, também uma das maiores bilheterias do cinema nacional. Ambas as produções são do Rio de Janeiro, continuam inéditos e têm suas primeiras apresentações no festival pernambucano.

Entre os demais concorrentes, apenas “Corda Bamba, História de uma Menina Equilibrista” (RJ), ficção de Eduardo Goldenstein, ainda é inédito em festivais. O filme foi realizado através de um edital do BO do MinC. Os outros são “Na Quadrada das Águas Perdidas” (PE), de Wagner Miranda e Marcos Carvalho, exibido no Cine Ceará, em 2011; “Estradeiros” (PE), documentário de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira; “Boca” (SP), ficção de Flávio Frederico, já exibido em outros festivais, em 2011, e “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto” (RJ), documentário de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, que participou do festival É Tudo Verdade deste ano.

Filmes têm temas variados – O longa “À Beira do Caminho”, que já está pronto faz algum tempo, trata de uma história sobre um caminhoneiro (João Miguel) apaixonado pelo cancioneiro de Roberto Carlos. O filme teve o patrocínio da Volvo. Outro filme que teve sua estreia adiada no ano passado, “Paraísos Artificiais”, trata-se do primeiro longa ficcional de Marcos Prado, e mergulha no universo da juventude movida a ecstasy e outros aditivos. No elenco, Nathalia Dill, Luca Bianchi e Lívia Bueno. “Corda Bamba, História de uma Menina Equilibrista” é uma ficção baseada em livro infanto-juvenil de Lygia Bojunga, ambienta-se no mundo do circo e tem Gustavo Falcão (o equilibrista), Augusto Madeira (o engolidor de fogo) e Cláudio Mendes (como a mulher barbada) no elenco.

“Na Quadrada das Águas Perdidas”, filme ficcional de base documental, conta com um protagonista que nunca sai de cena: o caatingueiro vivido por Matheus Nachtergaele. Ele sai da roça rumo à cidade, onde espera adquirir os víveres necessários à sua modesta sobrevivência. Os diretores  Wagner Miranda e Marcos Carvalho apostaram em trilha sonora que soma composições do mestre caatingueiro Elomar e do pernambucano Geraldinho Azevedo. O filme foi mostrado no Cine Ceará e no Festival de Vitória da Conquista.

A programação de longas completa-se com “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto”, documentário de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, exibido no Rio e em São Paulo, na grade do festival É Tudo Verdade. Produzido pelo Canal Brasil, o filme chamou atenção pelo humor e espírito anárquico de seu protagonista, o septuagenário Jorge Mautner, autor de “Maracatu Atômico” e do longa ”O Demiurgo” (1972), filmado numa Londres lisérgica. Os melhores momentos desta louca “chanchada filosófica” foram incluídos na narrativa por Bial & D´Alincourt.

No terreno do curta-metragem, há, entre os 18 títulos escolhidos, nomes consagrados, como Jorge Furtado (com “Até a Vista”) e estreantes como a paulista Thaís Fujinaga, do delicado e premiadíssimo “L”, e a catarinense Cíntia Domit Bittar, de “Qual Queijo Você Quer?”, ambos selecionados por muitos festivais.

Boa safra de filmes – Alfredo Bertini, organizador do Cine PE (em parceria com Sandra Bertini), afirma que este ano houve muita concorrência, com uma “oferta interessante” de títulos. “Recebemos uma excelente safra de documentários de altíssimo nível, a ponto de “ficarmos com nó na garganta por termos que deixar de fora ótimas realizações. Já a safra ficcional trouxe filmes de produtoras importantes como a Zazen, de José Padilha e Marcos Prado, e a Conspiração, de Leonardo Monteiro de Barros, Andrucha Waddington, Breno Silveira e associados. “Estamos muito satisfeitos de tê-los em nossa mostra competitiva”, afirmou Bertini.

Ano passado, alguns cineastas regionais protestaram por maior espaço do cinema pernambucano, e Bertini atendeu aos pedidos. “Nosso diálogo com as entidades representativas do cinema pernambucano resultou na volta da Mostra do Cinema Pernambucano para o cenário do festival e, pela qualidade dos filmes, temos dois longas e quatro curtas pernambucanos na competição principal”, afirma. O documentário “Sons da Esperança”, de Zelito Viana, produzido por Bertini e Sandra, é o convidado da noite de encerramento desta edição. O filme registra a trajetória de orquestra de meninos carentes da periferia de Recife, projeto de reconhecido alcance social.

Homenagens – O festival pernambucano vai homenagear, este ano, o cineasta Fernando Meirelles, pelos dez anos de “Cidade de Deus”, e Cacá Diegues, que está comemorando 70 anos, 50 dedicados ao cinema. A obra de Diegues será lembrada com exibição de cópia restaurada de “Xica da Silva”. Outro homenageado, Ney Latorraca, por sua vez, terá um de seus papéis cinematográficos mais importantes mostrados no festival pernambucano: o Arandir, de “Beijo no Asfalto”, de Bruno Barreto, baseado em obra homônima do pernambucano Nelson Rodrigues.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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