Visões diferentes do cinema
Dois livros fazem um enfoque diferente do cinema brasileiro. “Cinema Brasileiro no Século 21” (Summos Editorial), de Franthiesco Ballerini, faz um panorama da produção através de entrevistas com diretores, produtores, distribuidores, críticos, abordando os aspectos que envolvem toda a cadeia produtiva do cinema no Brasil. Mostra o fenômeno da comédia e a busca pela adaptação para conquistar o grande público e a busca por um cinema de produtor e uma indústria comercial. É um grande livro de debate, onde todo mundo é ouvido. A falta de uma direção ao conteúdo, de busca por sínteses e análises do que dizem os filmes dessa geração que começou a produzir no século 21, não derruba a qualidade dos depoimentos.
Outro livro, “Porvir que Vem Antes de Tudo – Literatura e Cinema em Lavoura Arcaica” (Ateliê Editorial), de Renato Tardivo, é uma análise no outro extremo do cinema brasileiro. A análise do conteúdo em nível acadêmico, onde o cinema se presta ao uso de outras artes, especialmente aqui neste caso, onde a ideia central da análise do filme e do livro é a convergência de Freud e Merleau-Ponty. A análise de Tardivo é, primeiramente, com relação aos sujeitos e ao corpo, o poder da imagem e do sentido, onde se cruzam psicanálise e fenomenologia. Tanto a análise do livro como também a maneira como Luiz Fernando Carvalho transpôs a obra de Raduan Nassar (“Lavoura Arcaica”) para o cinema. Da maneira com que, através da história, dos personagens e seus reflexos, passa da literatura para o cinema, do imaginário do texto para o corpo dos personagens, a claustrofobia contida na obra literária. Uma sessão de análise da obra de arte.
A Geração Editorial está lançando dois bons romances com histórias que se passam nos autoritários anos 70, e que viraram adaptações de sucesso; “Morango e Chocolate”, de Senel Paz, que virou filme em 1993, dirigido pelo veterano cineasta cubano Tomás Gutiérrez Alea, e que foi indicado ao Oscar; e “Luna Caliente”, do premiado escritor argentino Mempo Giardinelli, que virou minissérie na TV Globo adaptada pelas mãos de três diretores da Casa de Cinema de Porto Alegre, em 1999, dirigida por Jorge Furtado e depois exibida como filme em 2003. O livro relata a paixão de um homem maduro por uma adolescente de 13 anos, no final dos anos 70. “Morango e Chocolate” relata o desejo de expressão em uma sociedade autoritária, e se passa em 1979.