As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

O Tempo de Eduardo Nunes

Filho de um arquiteto e de uma professora de piano, o niteroiense Eduardo Nunes gostava mesmo era de contar histórias com imagens. Quando criança, fazia uns filminhos desenhando em slides e projetava para a irmã. Era também completamente fascinado pelo cheiro das salas de cinema. As dúvidas que ainda existiam foram embora depois de ler “Esculpir o Tempo”, do cineasta russo Andrei Tarkovski, sua maior influência. Integrante de uma geração que germinou nos anos 80 à base de curtas-metragens, Eduardo se formou na UFF e fez do cinema uma espécie de investigação pessoal em nome de uma linguagem poética e melódica.

Cinco curtas mais tarde – “Sopro” (codirigido com Flávio Zettel, 1994), “Terral” (1995), “A Infância da Mulher Barbada” (1996), “Tropel” (2000) e “Reminiscência” (2001) – é difícil não falar em autor. Pois Eduardo vem construindo um estilo, uma temática e um universo absolutamente particular que nos remete a nossa realidade, mas que existe somente nos filmes. “Sudoeste” (2011), seu primeiro longa, confirma o termo. A história de uma menina (vivida por Simone Spoladore, Raquel Bonfante e Regina Bastos) que de manhã é uma criança, no início da tarde, uma jovem, no final da tarde, uma mulher madura, e, à noite, uma velha senhora, é contada através de uma montagem sincopada, elíptica, como um batimento, e de um uso expressivo da fotografia de Mauro Pinheiro Jr. Para se ter uma ideia, o formato do longa é o inusitado 3,66, que remete ao cinema dos anos 30, a Abel Gance, outra grande influência. “Pedimos a ATON (fabricante da câmera que usamos), na França, para fazer um dispolido (peça da câmera) neste formato. Eles não entenderam muito o motivo (que era captar a horizontalidade da paisagem), mas fizeram”, conta o cineasta, que já levou o filme a mais de 20 festivais internacionais e vem colecionando 15 prêmios (entre eles, há um de nome sugestivo, que muito agrada a Eduardo, o prêmio Andrei Tarkovski). “Para mim, o fascinante é ter contato com plateias tão distintas como em Havana, Chicago, Coréia, Toulouse, Guadalajara e Rússia”.

Sudoeste

“Sudoeste”, um filme entre o real e o imaginário, já tem distribuição nos EUA, França e Alemanha, e estreia por estas bandas em outubro. Mas se engana quem pensa que tudo foi fácil. “Sudoeste” teve dificuldades para vir ao mundo. Entre a ideia inicial à produção efetiva, foram-se dez anos. Eduardo tem pensado muito sobre o assunto: “Acho que havia um entendimento (nas pessoas que participavam dos comitês que selecionavam os filmes a serem produzidos) que o cinema brasileiro precisava ter determinadas características que o meu projeto não tinha”, divaga. Aos 42 anos, Eduardo, no entanto, mostra-se mais esperançoso. E não é para menos. Ele acaba de ganhar um prêmio da fundação holandesa Hubert Bals para desenvolvimento de um novo roteiro, “A Morte Feliz”, uma adaptação do romance homônimo do francês Albert Camus. “Acho que agora vai ser mais rápido”.

 

Por Julio Bezerra.

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