Festival Indie traz retrospectivas e novas obras de diretores internacionais

O Festival Indie 2012, que acontece entre 21 de setembro e 4 de outubro, em São Paulo, terá como uma de suas principais atrações as retrospectivas dos cineastas Aleksey Balabanov, da Rússia, do norte-americano Charles Burnett e do japonês Kazuyoshi Kumakiri. A programação completa do Indie 2012 conta também com 60 filmes contemporâneos de 18 países, com destaque para os novos longas de Apichatpong Weerasethakul, “Hotel Mekong”, de Naomi Kawase“Vestígio”, e de Brillante Mendoza, “Em Nome de Deus”, além de “Apenas o Vento”, do húngaro Benedek Fliegauf, vencedor do Grande Prêmio do Júri – Urso de Prata no Festival de Berlim de 2012.

A cinematografia de Balabanov traz a versatilidade estilística combinada com uma impressionante consistência temática. A Rússia, a burguesa, a dos bolcheviques, da Revolução de 1917, soviética e a pós-soviética, a em guerra com a Chechênia, a do início do século ou contemporânea, é mais que cenário para os filmes de Balabanov, é constituição social, ética e moral de suas histórias. Personagens que vivem à margem da sociedade russa e sempre em situações extremas: bandidos, assassinos, vagabundos, burgueses, punks, prostitutas, ex-soldados, terroristas chechenos, policiais corruptos. Polêmico dentro do seu próprio país, Balabanov transformou um filme de baixo orçamento numa dos maiores bilheterias da indústria cinematográfica russa do período pós-soviético: “Irmão Brat”, de 1997. O filme traz como protagonista Danila Bragov, um jovem ex-soldado que se torna assassino, representante de uma nova identidade nacional, e impulsionado pelo sucesso comercial do filme, transformaram o personagem em um herói russo. A retrospectiva completa exibirá 11 filmes, todos em 35mm, entre eles, “Cargo 200” (2007), talvez o mais polêmico e violento deles,  “Morfina” (2008), “Sobre Homens e Aberrações” (1998), entre outros.

Um dos mais importantes diretores afro-americanos, Charles Burnett é, inexplicavelmente, pouco conhecido no Brasil. Seu primeiro longa, dirigido em 1977, “O Matador de Ovelhas” (Killer of Sheep), foi resultado da sua dissertação de mestrado no curso de cinema. Por sua importância histórica, o Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos o incluiu na lista das 50 obras a serem preservadas, como tesouro nacional, pela Biblioteca do Congresso Nacional norte-americano. Figura central da chamada “Rebelião de Los Angeles” da década de 1970 ― movimento de jovens cineastas afro-americanos que emergiram da Faculdade de Cinema da UCLA para criar uma nova forma de cinema independente ― Burnett vem produzindo filmes para cinema e televisão há mais de três décadas. Depois do reconhecimento da importância de seus três primeiros filmes –  além de “O Matador de Ovelhas”, os clássicos cults “O Casamento do meu Irmão” (1983), que será exibido numa nova versão digital realizada pelo diretor, e “Para Dormir com Raiva” (1990) – Burnett teve um flerte com o cinema comercial, mas sempre encontrou dificuldades de distribuição de suas obras. O Indie exibe, além dos filmes citados, a produção em 35mm de Burnett com “Conspiração Policial” (1994), “A Aniquilação de Fish” (1999), e “Namíbia” (2007). Completa a programação o filme que Burnett fez para a X Documenta de Kassel, “Insulto Final” (1997).

Uma obra política e extremamente violenta, um gore politizado, foi o primeiro filme realizado, aos 23 anos, pelo diretor japonês Kazuyoshi Kumakiri. O filme era “Kichiku: Banquete das Bestas” e causou comoção no Festival de Berlim em 1998. A terceira retrospectiva produzida pelo Indie 2012 quer apresentar ao público brasileiro a carreira heterogênea de Kumakiri. Aos 38 anos, Kazuyoshi passou da violência da sua primeira obra para a realização de filmes de diferentes gêneros e formatos: dramas psicológicos (“Antena”), histórias de amor, desilusão e desesperança no Japão contemporâneo (“Buraco no Céu”, “A Mulher Volátil”, “Esboços da Cidade de Kaitan”), e filmes baseados em mangás (“Freesia: Balas e Lágrimas” e “Casa Devastada: A Doença de Zoroku”). Aberto a pluralidade cinematográfica, seus nove filmes, selecionados pelo Indie, sempre estiveram presente nos principais festivais internacionais e nunca foram exibidos no Brasil.

O Indie, ao longo de 12 edições, já realizou inúmeras retrospectivas de diretores, muitos deles, eventualmente, voltam à programação, na Mostra Mundial, com seus novos filmes. É o que acontece nesta edição com quatro dos diretores favoritos do Indie: Apichatpong Weerasethakul (“Hotel Mekong”), Naomi Kawase (“Vestígios”), Brillante Mendoza (“Em Nome de Deus”) e Philippe Grandrieux (“É Possível que a Beleza Tenha Fortalecido nossa Determinação – Masao Adachi”). A Mostra Mundial apresenta ao todo 28 filmes, de 19 países, e promove a estreia no país de vários deles como “Apenas o Vento”, de Benedek Fliegauf, que recebeu o Urso de Prata, Grande Prêmio do Júri, no Festival de Berlim 2012; “Quando a Noite Cai”, do chinês Ying Liang, que recebeu o Leopardo de Melhor Diretor no Festival de Locarno 2012; “Vale dos Santos”, filme indiano que ganhou o Prêmio do Público do Sundance 2012; e “Ovo e Pedra” que recebeu o Tiger Awards do Festival de Roterdã 2012.

O Indie 2012 acontece em São Paulo, no CineSESC e Cine Olido. Todas as sessões têm entrada franca. A programação completa pode ser conferida no site www.indiefestival.com.br.

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