A trajetória crítica de Anna Muylaert

Era uma vez uma garota de cabelo loiro com alguns curtas da faculdade no bolso em busca de uma proposta de cinema – apaixonada por Wim Wenders e cheia da cômica, porém, indispensável pretensão juvenil. Essa moça cresceu, foi crítica de cinema, ajudou a escrever um dos capítulos mais brilhantes da dramaturgia televisiva e voltou para o cinema. Anna Muylaert narra uma longa trajetória criativa, no roteiro e na direção, com três longas como diretora, “Durval Discos” (sete prêmios no Festival de Gramado, em 2002, incluindo os de melhor direção e melhor filme), “É Proibido Fumar” (oito prêmios no Festival de Brasília, em 2009, incluindo os de melhor roteiro e melhor filme) e “Chamada a Cobrar”, filmado este ano e em fase de finalização.

Numa passagem por São Paulo, atualmente está estabelecida no Rio e é uma das diretoras convidadas da série “Preamar”, Anna se sentou para conversar com a reportagem da Revista de CINEMA. Em pauta, o seu processo criativo, os personagens medrosos, o humor sem piada de seus filmes, a cinefilia, e os três projetos que desenvolve paralelamente. Além da expectativa para lançar em cinema seu terceiro longa, “Chamada a Cobrar”, sobre um falso sequestro anunciado por telefone, mais um filme sobre o seu universo particular e enraizado na cidade de São Paulo. Também relata os primeiros passos após sair da faculdade e os curtas experimentais (disponíveis no YouTube), as vídeo-reportagens e a participação na criação de “Mundo da Lua” e “Castelo Rá-Tim-Bum”, os programas infantis da TV Cultura que viraram marcas de sucesso. Colaborou nos roteiros de “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, “Desmundo” e “Xingu”.

Revista de CINEMA – Quando se fala do seu nome, a gente costuma pensar que o começo da sua carreira está no “Castelo Rá-Tim-Bum” ou no “Mundo da Lua”. Mas desde o início dos anos 1980, na ECA/USP, você fez curtas, exercícios experimentais como o “Hot Dog”, brincou com o vídeo também com o “Zona Eleitoral”, em 1989, e até filmou em super8. Fale um pouco dessa fase.

Anna Muylaert – O “Zona Eleitoral” é do meu período na TV Gazeta, quando eu comecei realmente a trabalhar. Era repórter-abelha, que fazia sozinha as entrevistas e operava a câmera simultaneamente, usando o VHS. Aquilo foi uma escola: escrevia o texto na Gazeta, gravava e colocava música, só então saía com a câmera – já com o áudio gravado – e ia fazendo insert na rua. Depois passei a fazer algo que chamávamos de trash video. Estava casada com o André Abujamra [músico, criador da banda Karnak], ele fazia as trash trilhas, foi quando começou para ele essa coisa de “samplear”, misturar – só que ele levou isso mais adiante na música.

Foi um período importante, fiquei um ano lá, mas cansei. Tinha de coordenar câmera, locução, entrevista, tempo – tudo ao vivo. Quando peguei o lance, saí. Comprei uma câmera e comecei a fazer experiências. Aí o Serginho Groisman saiu do “TV Mix” e foi fazer o programa dele na Cultura [“Matéria Prima”] e me chamou. Eu disse que só toparia se pudesse editar [um dos mais divertidos vídeos de Anna é sobre o lançamento do livro de Arnaldo Antunes, “Tudos”, em que a edição acompanha o ritmo da escrita de Arnaldo].

Ou seja, eu vim com a experiência de edição. Era uma brincadeira, mas sabia fazer. Era muita loucura o que a gente fazia…

Revista de CINEMA – Essa loucura seria possível hoje na televisão?

Anna Muylaert – Ah, não sei, depende. Havia uma ânsia de experimentação. Existe um contexto: quando saí da ECA/USP não tinha cinema, né? A Gazeta, esse negócio de repórter-abelha, foi a porta de saída. Eu queria fazer cinema, mas de repente fui fazer reportagem em VHS na Praça da Sé!

Só que eu era alguém que tinha uma intenção muito maior, de cinema. Depois de um ano, cansei. E estava tendo a tal crise de roteiro no “Mundo da Lua”, o programa onde fui parar. Um momento muito especial, porque na ECA as aulas de roteiro eram descritivas. Nunca houve ninguém falando de regras, de métrica, de nada, nem de Aristóteles, nada. Não havia nenhuma conceituação. Então, eu achava o roteiro uma coisa careta, eu nem sabia o que era dramaturgia, não sabia nada. Eu achava que o negócio era câmera, tanto que meus filmes eram só câmera. Quando cheguei ao “Mundo da Lua”, no qual entrei para ser diretora de segunda unidade, as coisas mudaram.

Revista de CINEMA – Por quê?

Anna Muylaert – Eu lia os roteiros da primeira fase e eles não tinham sentido nenhum. Pensei muito sobre aquilo, como filmar uma coisa que não se observa, até que uma hora me ocorreu ir além à coisa do gravador – que já existia, mas entrava aleatoriamente, não estava vinculado a desejo algum, era uma brincadeira.

Foi crescendo o pensamento e tive um surto em torno disso e cheguei a uma proposta: o episódio começaria com o Lucas Silva e Silva com alguma questão, com o desejo tão forte que ele vai para o gravador e o vive, se deparando com a realidade depois. Quando ele desligar o gravador, vai ter aprendido alguma coisa. Dentro desse formato, as fichas com as histórias, preenchíamos juntos, o Flávio de Souza, a Claudia Dalla Verde e eu, que virei uma espécie de coordenadora disso.

Aí foi tendo padrão e sentido. E depois disso determinado, dava para fazer 500 episódios. Só então comecei a entender o que é série, dramaturgia. Dali pra frente, comecei a estudar, a ler Aristóteles, Syd Field, essas coisas. Esse bicho me mordeu. Com o tempo, isso tudo foi se tornando natural…

Revista de CINEMA – Isso tudo o quê?

Anna Muylaert – Todas essas regras de dramaturgia, Syd Field, os americanos, esses modelos, a coisa da página 10 e tal. Como fui descobrindo os conceitos por conta própria. Quando leio isso num livro é apenas um eco. Sabe como é, muita gente que quer escrever roteiro lê um livro do Syd Field e cumpre as regras como se estivesse num ritual e não tem nada dentro, não é nada. Para muita gente, qualquer regra é uma coisa que amarra, que impede. Para mim, as regras vêm para ajudar a voar mais livre.

Revista de CINEMA – No contexto atual do cinema brasileiro, você acha que falta essa percepção?

Anna Muylaert – Não sei, hoje em dia tem muito tipo de gente trabalhando com regras. Para mim, essas regras são muito naturais, não é algo forçado. Vejo muita gente falando “ah, mas o herói tem de passar por uma transformação”, a pessoa tem aquilo como uma fórmula, não como uma coisa natural. Óbvio que herói tem de passar por transformação, senão não tem história! Mas tem gente que escreve com o Syd Field introjetado.

Há uns cinco anos eu levei o roteiro do “É Proibido Fumar” para um laboratório e encontrei um roteirista belga chamado Chris Craps, que me ensinou uma coisa chamada sequence model, que é explicada mais profundamente no livro “Sequence Approach”, do Paul Joseph Gulino. Basicamente, é uma estrutura que ajuda a dar conta do ritmo e equiparar a importância de cada cena. Os filmes do Kubrick, do Woody Allen, Billy Wiler e muitos outros seguem esse modelo.

É óbvio que a partir desse esquema proposto você tem de ter a sua história, sua essência, suas cenas, porque só esse esquema não é nada. O que essas regrinhas estão dizendo no fundo? Que cinema é música! Você tem de saber qual é seu andamento. Você vai entender que a cena vai acabar e o filme vai deslizar como um transatlântico, ao contrário do que se faz no Brasil muitas vezes: começa rápido, depois fica devagar, depois acelera… porque não há a consciência de que você está fazendo algo no tempo, a musicalidade da construção dramática. Cinema é música, na medida que é algo que acontece no tempo.

É Proibido Fumar

Revista de CINEMA – Já se tornou costume dizer que o cinema brasileiro nunca valorizou a posição de roteirista porque é uma cinematografia por demais influenciada pelo conceito de autor da crítica francesa. O que você acha disso?

Anna Muylaert – Sou roteirista, mas conheço o outro lado, o set, montagem, e quanto o roteiro é modificado na hora de filmar. Não tenho apego algum aos meus diálogos, valorizo mais o que vem depois. Agora, acho a profissão de roteirista muito ingrata. Quem são os roteiristas hoje no mundo? É o Charlie Kaufman? O roteirista está a serviço do diretor: se o cara for bom, ótimo; senão, danou-se, o filme vai ser ruim. É difícil achar um roteirista com personalidade para ir além do diretor, o roteirista, normalmente, é uma pessoa que não aparece. Dizem que não há bons roteiros, mas não sei: então não tem bom diretor porque o responsável pelo roteiro, no final, é o diretor. O mesmo roteirista escreve para diretores bons e ruins.

Acho que o problema no cinema brasileiro é a oscilação de qualidade. Nesse sentido, a gente deveria se mirar no cinema argentino. Não entendo porque lá tem uma qualidade média que aqui não tem…

Revista de CINEMA – O problema é que o cinema argentino às vezes é médio demais.

Anna Muylaert – Tudo bem, pode ser médio demais, mas é médio. Não tem aquela bomba. Aqui tem um genial e uma bomba e você nunca sabe o que vem depois, é muito isolado. Todos os filmes são exceções. A gente acaba tendo monstruosidades todo ano. E quando digo isso não estou falando de comédia popular e tal, porque eu acho o Daniel Filho um cara altamente respeitável dentro de uma linha de cinema.

Revista de CINEMA – Só que o Daniel Filho é uma exceção dentro do cinema que se diz popular.

Anna Muylaert – Mas dentro da comédia popular ele é um mestre. Quem quer fazer isso, tem de se espelhar nele, fazer direito. Eu gosto dos filmes dele? Não, mas não é para mim que ele faz.

Revista de CINEMA – Voltando à sua trajetória, como se deu o encontro com o Cao Hamburger, com quem você tem trabalhado nos últimos vinte anos?

Anna Muylaert – Nós nos encontrávamos nos corredores da TV Cultura na época do “Mundo da Lua”, mas eu já o conhecia da ECA/USP. Havia uma questão complicada na época: o presidente era meu pai [Roberto Muylaert presidiu a Fundação Padre Anchieta entre 1986 e 95]. Ele tinha horror de que parecesse aos outros que eu era protegida – tanto que entrei no canal pelo programa do Serginho Groisman. Quando fui para o “Mundo da Lua”, cresci, mas o meu pai como presidente não queria que eu aparecesse.

A primeira coisa que Cao e eu fizemos foi a bíblia do “Castelo”, o planejamento macro, desenhar os temas dos programas, fazer os espelhos, os quadros e a ficção. Trabalho louco, porque tudo no programa dialoga e isso estava já no nosso planejamento. Eu também participei um pouco da criação, junto com o Flávio de Souza e o Cao – a Morgana, por exemplo, eu criei, mas não podia aparecer nos créditos, tinha de permanecer na beirada.

Cao e eu fomos aprendendo juntos, ele me ensinou essa coisa da minuciosidade. Mas eu acho que minha relação com ele não é exatamente de roteirista com diretor, é uma relação de igual para igual.

Revista de CINEMA – Você entrou na universidade aos 16 anos, mas só foi dirigir o primeiro longa, o “Durval Discos”, aos 36. Qual é o tamanho da pressão de dirigir o primeiro filme num país em que não há certeza de fazer o segundo?

Anna Muylaert – Foi muita tensão, durante a pré-produção eu chorava. Foram 20 anos me preparando para chegar naquele momento. Óbvio que não esperava fazer o melhor filme do mundo, mas pelo menos um minimamente decente, que justificasse sua existência. Por outro lado, também foi gostoso, uma delícia de filmar, um momento especial na minha vida. Consegui rodar em Pinheiros, perto de casa, eu tinha um bebê de um ano, minha relação com o Ary França foi fantástica – e um filme depende muito da relação do diretor com o ator.

Durval Discos

Revista de CINEMA – Você acredita que é do encontro dos personagens que surgem seus filmes? É do embate de Baby com Max em “É Proibido Fumar” que os sentimentos saem de dentro e vêm para fora?

Anna Muylaert – Tem um detalhe tão legal no filme que ninguém repara: Baby e Max, um é diminutivo e o outro, aumentativo. Fralda baby, fralda max; milk shake baby, milk shake max. É uma maneira de falar sobre a mulher se diminuindo e o homem se aumentando. Mas eu nunca tinha pensado nessa questão dos encontros que você está comentando…

Revista de CINEMA – Por exemplo, é no embate entre Baby e a irmã bem sucedida que o tema da obsessão, representado pelo sofá da tia falecida, vem à tona.

Anna Muylaert – Ah, mas o sofá existe como desculpa para qualquer coisa no filme. Quando o Max é sacana com a Baby, o sofá volta, é um elemento de neurose. A questão é que todo mundo tem essa metáfora do sofá.

Revista de CINEMA – Apesar de algumas transformações, os personagens de “Durval Discos” e “É Proibido Fumar” são medrosos, não saem do conforto. Você gosta de personagens assim?

Anna Muylaert – Acho que sim, isso não dá muito para negar. Trata-se de uma grande questão humana, que eu também tenho em mim e deve ser muito profunda, porque sempre surge nos filmes. É difícil sair do lugar, né? As pessoas não saem para um quarteirão desconhecido, ficam dentro dos próprios pensamentos. Se têm uma opinião, as mantém até o fim da vida.

Eu mostrei o roteiro do “Proibido” para a Regina Casé e ela falou uma coisa ótima: esse filme é a história do chinelo velho com o pé cansado. Porque para o Max também é cômodo, ele está duro, sem dinheiro, e com a Baby tem comida, o apartamento está mais cheio de móveis…

Revista de CINEMA – Por que nos seus dois longas há uma predominância de cenas internas?

Anna Muylaert – Tem a ver com os personagens medrosos. Porém, são espaços internos, mas não fechados para o mundo. Em “Durval” é uma loja em que as pessoas compram discos, em “Proibido” é a casa em que Baby recebe seus alunos de violão.

Revista de CINEMA – Tenho a sensação de que o humor em seus filmes não funciona no papel, no roteiro: apenas quando é encenado. Quando uma situação patética é registrada por uma câmera elegante, é que surge o riso…

Anna Muylaert – Curioso você falar isso, porque quando tivemos uma leitura de roteiro do “Proibido”, as pessoas ficavam ressabiadas, sem entender muito o que eu queria. Elas confiavam porque tinham visto o “Durval”. O meu humor é muito no limiar: se você ri, bem; se não, bem. Não é uma piada, é humor. Eu não faço piada.

Revista de CINEMA – Mas seus filmes são engraçados.

Anna Muylaert – É engraçado pela encenação, mas também porque eu convido os atores a fazer, há muita coisa de improviso que eles compõem. É puxar o ridículo da vida, que é muito engraçada se pararmos para pensar. As coisas são muito patéticas. E lindas.

Revista de CINEMA – Que tipo de humor que você gosta? Quais cineastas?

Anna Muylaert – Me veio na cabeça agora que eu lia muito “MAD” na adolescência, adoro humor. Tem os irmãos Coen, amo os filmes deles, Woody Allen também. Não sei se são necessariamente influências, apenas gosto deles. São pessoas que amo, o próprio Almodóvar. No humor da vida não existe piada, existem situações absurdas. Do Nelson Rodrigues, gosto muito, mas não é influência. Ainda vou fazer um filme totalmente engraçado.

Revista de CINEMA – Como foi sair de dois longas de interiores para filmar na estrada o “Chamada a Cobrar”?

Anna Muylaert – Foi incrível, trabalhei com dois super atores, a Beth Dorgam e o Pierre Santos. Fiz teste por telefone [o filme é sobre um falso sequestro e o bandido só age por telefone] e não deixei que eles ensaiassem juntos nem que se conhecessem. A Beth não sabia a cara do Pierre, sequer que ele existia. E ele foi junto com a gente sempre oculto, no caminhão, montando equipamento, fingia que era da equipe.

Ela só o ouvia na hora de rodar mesmo. Eu ficava do lado dele e ia provocando. Eles eram muito bons e tudo foi crescendo, por isso virou cinema. O Pierre é ator, mas também dá aulas de violão, mora no Vidigal, é do Nós do Morro, ou seja, tem um universo que eu jamais conseguiria colocar sozinha no roteiro. Fomos pela estrada a fora. Tem o lado incômodo da logística, mas teve também a alegria, diversão, gargalhada em ver a inteligência dos dois. Eu fazia takes de trinta minutos!

Revista de CINEMA – Como se dá a transformação do “Para Aceitá-la, Continue na Linha” em “Chamada a Cobrar”, ou seja, de telefilme para cinema?

Anna Muylaert – Ele nasceu da televisão e virou filme, é minha produção mais pobre em termos de orçamento, filmei com R$ 950 mil, na estrada, em digital. Eu vejo nele uma força que já dialoga com o “Que Horas Ela Volta?”, um dos meus próximos projetos. Como um cara preso pode dominar, por telefone, uma pessoa livre? Só pela voz! Por que? Porque ela é débil! No filme, a gente já viu que ela é débil porque é inteiramente dependente da empregada.

Eu só quis transformar o “Chamada a Cobrar” em cinema, porque acho muito importante a discussão que ele traz: a debilidade da classe alta e do abismo social – sem sangue, sem luto, sem guerra.

Revista de CINEMA – Você prefere a solidão da escrita do roteiro ou a agitação do set?

Anna Muylaert – Os dois, prefiro alternar. Só o set não dá. Só escrever também eu não aguento.

Revista de CINEMA – Você me disse que o curta-metragem “A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti” (1995) é o único filme em que você ganhou dinheiro como diretora. Por quê?

Anna Muylaert – Por que? Porque ele eu distribuo. Se alguém quer comprar, me liga e eu vendo. Essa é uma questão muito grave no Brasil que vem desde a época do Getúlio Vargas: as distribuidoras de cinema não têm de prestar contas. Se elas disserem que gastaram R$ 100 mil com internet para anunciar seu filme em São Bernardo do Campo você é obrigado a acreditar. Não tem diálogo. Só que eu faço um curta e ganho dinheiro, mas com um longa que muita gente vê, que ganha prêmio em todo lugar, não vejo um centavo. Isso é a realidade. Isso é errado, não entendo por que a Ancine não entra nessa questão, não mexe com isso. Por que nós, produtores, temos de justificar um cafezinho tomado e o distribuidor não?

 

Por Heitor Augusto

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