O Manuscrito Perdido
No documentário O Manuscrito Perdido, uma coprodução Brasil/Portugal, o cineasta português José Barahona, através de uma carta ao escritor angolano José Eduardo Agualusa, narra sua busca, no Brasil, pelo manuscrito perdido do poeta e aventureiro português Fradique Mendes, personagem criado, no século XIX, pelos amigos Eça de Queirós, Antero de Quental e Batalha Reis. Numa viagem de mais de dois mil quilômetros, da Bahia até o Rio de Janeiro, passando por lugares como uma aldeia indígena, um acampamento sem-terra e o Real Gabinete Português de Leitura, o filme nos faz refletir sobre a colonização portuguesa, as origens da sociedade brasileira e questões sociais como a luta pela terra.
Como escreveu Nelson Pereira dos Santos no prefácio do livro homônimo recém-lançado, “nessa ‘redescoberta’ do território brasileiro em busca do manuscrito acontece uma desmistificação da verdade histórica e da retórica da maioria dos documentários que se pretendem investigativos”.
Fradique Mendes, que insuflava ideias abolicionistas e libertárias em pleno século XIX, mexe com o imaginário desde quando foi criado por Eça de Queirós, Antero de Quental e Batalha Reis. A partir de 1869, os três chegaram a publicar poemas na imprensa lisboeta e carioca, confundindo os leitores em torno da existência do autor. Encantado pelo personagem, José Eduardo Agualusa escreveu, em 1997, o romance “Nação Crioula“, que conta a saga do homem que transforma as ideias em ações de alforria e distribuição de terra entre os escravos.
O Manuscristo Perdido estreou em São Paulo, na Matilha Cultural, em 2 de novembro. No dia 30, o filme também entra em cartaz em Palmas, no Tocantins.
O livro “O Manuscristo Perdido”, escrito a partir do convite de um editor da Tordesilhas, que asssitiu o filme na Mostra Internacional de São Paulo, em 2011, acabou de ser lançado na 36ª edição da Mostra e conta com prefácio de Nelson Pereira dos Santos. O livro, escrito por José Barahona, é dividido em duas partes: a transcrição da voz em off do filme, trechos de depoimentos e fotos do filme; e um diário de filmagens, com fotos da equipe e curiosidades.
Assisti o filme documentário e considerei-o muito pertinente, embora, ainda, esteja à procura da existência real de Fradique Mendes.