O estratégico papel da distribuição no boom do cinema brasileiro
Com os novos e variados modelos de financiamento da produção e grandes oportunidades de comercialização no mercado nacional e internacional, o audiovisual nacional vive hoje o melhor momento das últimas décadas.
A produção audiovisual independente passa por enormes transformações e, apesar dos grandes desafios, predomina a oportunidade de consolidação de uma forte indústria de produção independente, com foco em retorno comercial e difusão em diversas plataformas.
No campo de mecanismos de financiamento, o grande destaque fica para o Fundo Setorial do Audiovisual, que teve verba de R$ 205 milhões em 2012, disponibilizada para investimentos na produção, distribuição e comercialização. Com o modelo de investimento de participação nos resultados, o fundo nos lança o importante desafio de olhar para o conteúdo sob uma perspectiva de retorno financeiro. Essa estratégia tem como objetivo a melhoria da posição competitiva das empresas nacionais e estímulo a modelos de negócios menos dependentes de recursos públicos.
O fato de duas das linhas de incentivo serem voltadas a distribuidoras nacionais (uma focada no financiamento da produção de obras cinematográficas e outra no lançamento de filmes em salas de cinema – P&A ou Print and Advertising), possibilita o envolvimento desde o início desse importante elo da cadeia na performance comercial do projeto. Por ser a grande conhecedora da demanda do público das salas de cinema, canais de televisão e outros veículos, a distribuidora está capacitada a reconhecer a necessidade de adequação do conteúdo para aumentar o seu potencial de retorno.
Estas linhas também são importantes por fortalecerem as empresas nacionais que, em sua maioria, priorizam o conteúdo local em contraposição a outras linhas como o Artigo 3º, voltado a distribuidoras estrangeiras que tratam o produto nacional como “second option”, priorizando apenas a janela de cinema e não explorando, por exemplo, as vendas internacionais, uma vez que tendem a focar em conteúdo produzido pelos grandes estúdios.
Devido à nova lei da TV paga, os canais têm procurado cada vez mais projetos para investimento. Criatividade e flexibilidade são essenciais para ajustar os valores ao bolso do canal investidor, adaptar o conteúdo ao seu perfil e ainda permitir o licenciamento futuro do mesmo produto para outros canais. A linha B do FSA, voltada para produções audiovisuais e com participação do canal na composição de 15% do orçamento, tem sido em especial utilizada pelos canais para séries dentro de um orçamento de aproximadamente R$ 1 milhão. Já em relação a longas-metragens e documentários, a linha preferida dos canais tem sido a linha C, que possibilita a relação direta com o distribuidor com modelo de pré-compra pelo canal e envolvimento desde o início do processo, mas que, no entanto, não estabelece nenhum padrão de valor de pré-compra vinculado ao valor do orçamento, deixando que o distribuidor – conhecedor de valores praticados no mercado – negocie o melhor valor e condições para o projeto.
Além da clara demanda advinda de canais de TV por assinatura com a aprovação da Lei 12.485/2011, as oportunidades de vendas em outras janelas também são otimistas. As salas de cinema contam com novos mecanismos de financiamento de expansão do parque exibidor, como as linhas do BNDES, e a cota de conteúdo nacional de 28 dias (no mínimo), para 2013, continua garantindo que o produto nacional chegue às telonas. A janela de VOD, apesar de ainda não ter se consolidado de fato, trouxe novos players ao mercado como a internacional Netflix e a brasileira NET que apostam no segmento de maneira segura e crescente.
Em relação ainda ao mercado internacional, vale lembrar que o Brasil está na moda. País da Copa e das Olimpíadas, da forte economia e reconhecido na política internacional, alcançou um novo patamar de destaque internacional e o interesse por seus produtos cresceu também.
Apesar do bom momento, ainda restam desafios a serem superados, como por exemplo, a necessidade de aprendermos a trabalhar com foco maior em resultados comerciais, pensando desde o início no público consumidor, na exportação de conteúdo para outros mercados e criação de formatos que também possam ser exportados.
É certo que ainda é muito cedo para prever como este mercado irá se desenvolver, mas com base nas experiências dos grandes distribuidores, estúdios internacionais e agentes europeus, as melhores estratégias estão sendo aplicadas no Brasil. Com modelos de financiamento alinhados com as necessidades do mercado, incentivo para uma cadeia produtiva consistente e independente e muita competência e criatividade, o mercado audiovisual brasileiro tem todos os elementos necessários para um desenvolvimento consistente e de longo prazo.
Por Sabrina Nudeliman, diretora executiva da Elo Company
Li o seu texto a partir de uma matéria na revista Isto é que citou a ABPITV. Somos uma produtora sediada na Baixada Santista e voltada para as oportunidades do mercado local. Enxergo a nova lei de incentivos uma demanda de profissionais e produtora para desenvolver e realizar projetos dentro das tvs a cabo.Na medida do possivel também vou estar divulgando e participando desse ´processo. Parabens Sabrina pelo texto e a maneira otimista e contagiosa com que escreveu .
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O que adianta fornecer um produto se ninguém deseja o consumir? Existe uma lei de causa e efeito, que é oferecer ao público aquilo que ele deseja. Caso continuem insistindo em filmes que não busquem a atender as expectativas vão continuar acumulando fracassos.
Quando a Tv a cabo, essa questão está no supremo que vai derrubar essa arbitrariedade.
Se o público anseia por conteúdo brasileiro que justfiquem o fracasso das Tvs públicas e o canal Brasil