Humor genuinamente brasileiro
Muito se fala de uma suposta retomada das raízes das antigas chanchadas da Atlântida, que estaria acontecendo nesta nova safra de comédias brasileiras. Classificadas pelo cineasta Guilherme de Almeida Prado como “Globochanchadas” ou por parte da imprensa como “neochanchadas”, estas comédias, em sua maioria produzidas no Rio de Janeiro, seriam uma espécie de revival dos grandes sucessos de público comandados por Oscarito e Grande Otelo, que a crítica da época também execrava. Guardadas as devidas proporções, é claro.
Porém, comendo pelas beiradas, sem a pretensão de levar milhões e milhões de pessoas aos cinemas, eis que surge uma comédia cearense que, esta sim, a meu ver, tem muito mais raiz chanchadesca (no melhor sentido da palavra) que as produzidas e/ou apoiadas pela Globo Filmes. Trata-se do delicioso “Cine Holliúdy”, de Halder Gomes, que chega ao circuito comercial depois de passar por alguns festivais nacionais e até internacionais.
A trama traz a simplicidade que as grandes comédias costumam trazer. Ambientado no interior do Ceará, nos anos 70, “Cine Holliúdy” conta a saga do herói Francisgleydisson, um homem comum que luta para que o seu tão amado cinema não pereça diante da terrível ameaça da chegada da televisão. Mas não estão exatamente na história, criada e roteirizada pelo próprio diretor, os melhores méritos do filme. “Cine Holliúdy” se destaca no panorama das atuais comédias brasileiras pela sua autêntica, vamos assim dizer, “gaiatice”. Também no melhor sentido da palavra. Explicando: o filme é genuinamente brasileiro na sua irreverência ao fazer rir. Só para dar uma ideia, vale lembrar que “Cine Holliúdy” será lançado com legendas em português, uma vez que é falado em “cearencês”.
Ao contrário das “neochanchadas” (ou qualquer outro rótulo que se use), “Cine Holliúdy” assume abertamente a sua bem-vinda improvisação, escancara o bom humor da precariedade e sabe, como poucos, rir de si mesmo. E quando se fala em improvisação, bom humor, precariedade e autoironia, é impossível não fazer a conexão direta com o espírito libertário das boas e velhas chanchadas da Atlântida.
Ou, em outras palavras, enquanto “Cine Holliúdy” destila um cinema cômico, eminentemente brasileiro, os demais procuram inspiração em comédias norte-americanas que já foram exaustivamente exibidas na “Sessão da Tarde” da Globo.
“Foi um filme que sempre sonhei em fazer”, conta Halder. “Depois do sucesso do curta “O Astista Contra o Caba do Mal”, que inspirou o longa, veio o desejo de falar mais daquele universo e dos seus personagens”, afirma o roteirista/diretor. Halder diz também que a sua expectativa pela estreia comercial é “muito grande, uma vez que o filme tem obtido ótimas respostas do público por onde tem passado em festivais”.
Sem dúvida, trata-se de um humor bem particular, que provavelmente não será absorvido por um público mais acostumado às formulas internacionais. Não fará 5 milhões de ingressos… mas fará um bem danado ao cinema verdadeiramente brasileiro.
Cine Holliúdy
(BRA, 91 min., 2012)
Direção: Halder Gomes
Distribuição: Downtown Filmes
Por Celso Sabadin