Relações poéticas
O curta-metragem paulista “A Navalha do Avô”, premiado no último Festival de Cinema de Gramado (melhor ator – Kauê Telloli –, melhor roteiro e prêmio Canal Brasil), de Pedro Jorge, retrata a relação de Bruno com seu avô, interpretado por Jean-Claude Bernardet, que acometido por uma doença inspira novas mudanças na vida dos dois, compartilhadas com cumplicidade.
Inspirado na própria vivência do diretor no final de vida com seu avô, Pedro se valeu de algumas referências marcantes, a principal delas, “Meu Tio”, de Jacques Tatit, onde existe uma relação entre ele e seu sobrinho, mas principalmente o livro escrito por Jean-Claude Carrière a partir do filme, que acrescenta questionamentos do sobrinho não apresentados no longa. Pedro buscou ainda no universo de Yasujiro Ozu a questão da memória na narrativa, que segundo ele “o grande desafio foi trabalhar as elipses temporais, que eram longos saltos na história, mas tinha certeza de como fazê-las, tanto nas filmagens, quanto na montagem”, conta. Para isso, contou com a coautoria de Francine Barbosa, e em 2011 começaram a esboçar o roteiro a partir de uma imagem do neto barbeando o avô com uma navalha. “De lá pra cá, o roteiro teve inúmeros tratamentos e muitos diálogos foram ‘coleções’ que fui trazendo de histórias que ouvi em diversas festas familiares, entre elas a história do ‘bigodinho do Tucuruvi’, e alguns amores próprios como o São Paulo Futebol Clube e o Clube Atlético Juventus”, acrescenta Pedro.
A escolha dos atores teve outro peso importante no curta, que Pedro, avesso a testes e preparadores de elenco, fez questão de escolher segundo suas afinidades e intuições. Seu grande amigo, Kauê Telloli, era desde o começo o escolhido para o papel de Bruno. O Jean-Claude Bernardet “veio por uma grande admiração que tenho pela figura dele, pelos livros que li, pelos filmes que vi, pelas palestras que assisti e por estar perto indiretamente, por ter trabalhado com grandes parceiros dele como o Kiko Goifman e o Rubens Rewald (também produtor do curta)”, comenta. Bernardet, que também já havia trabalhado em seu curta anterior, “A Vermelha Luz do Bandido” (vencedor de 15 prêmios em festivais), com um depoimento e uma pequena cena performática, interpretou o avô por gestos, grunhidos e olhares, já que no curta não havia falas para ele (novamente inspirado no avô do diretor).
O projeto foi realizado com o apoio do edital da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e já foi exibido, além de Gramado, no Festival Internacional de Curtas de São Paulo, e recentemente no Goiânia Mostra Curtas e na Janela Internacional de Cinema do Recife.