São Paulo cria empresa audiovisual
São Paulo, o Estado mais rico da Federação, tem 500 produtoras de cinema e audiovisual em atividade. Dispõe, ainda, do maior mercado de produção publicitária nacional e foi sede da mais ambiciosa produtora brasileira, a Vera Cruz (1949-1954). O circuito exibidor paulista é o maior do país. Somando capital e interior, o Estado chega a responder, sozinho, por até 40% da bilheteria de um filme. Mas no que toca à produção, o cinema paulista tem ficado bem abaixo do que poderia produzir, se comparado ao Rio de Janeiro, que tem realizado quase o dobro dos filmes que chegam ao mercado.
Para tentar melhorar estes números, Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura de São Paulo, apoiou a proposta de dez entidades cinematográficas paulistas; Apaci, Sindicato da Indústria do Audiovisual, Produtores Independentes de TV, entre outros; para criar um órgão forte e com recursos que podem chegar a R$ 40 milhões. O secretário buscou, além do apoio do prefeito Fernando Haddad, suporte federal no Ministério da Cultura e no Governo do Estado de São Paulo.
Soma de esforços – O modelo da SPCine (Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo) é a Riofilme carioca, criada há 20 anos. Um diferencial entre as duas empresas está no seu alcance. A Riofilme é uma empresa municipal. Quando foi concebida, o cinema brasileiro tinha na Federação (governo Collor) um antagonista. Já a SPCine nasce com apoio financeiro do Governo do Estado e do MinC, via Ancine (Agência Nacional de Cinema). O governo municipal paulistano, que detém 51% das ações, colocará R$ 25 milhões no primeiro ano da empresa. O Governo do Estado, segundo promessa do governador Geraldo Alkmin, também fará seu aporte (valor a definir). Os recursos da Ancine virão do Fundo Setorial do Audiovisual.
Em cerimônia com a presença de mais de 500 cineastas, atores e produtores, que lotou o imenso primeiro andar do Edifício Praça das Artes, no centro de São Paulo, o projeto foi sacramentado pela ministra Marta Suplicy e pelo governador Geraldo Alkmin, que sentaram-se à mesa com o prefeito Haddad, mais Manoel Rangel (diretor-presidente da Ancine), José Américo, presidente da Câmara de Vereadores de SP, a vice-prefeita Nádia Campeão e os secretários Marcelo Araújo (do Estado) e Juca Ferreira (do Município). Frente à tamanha união de esforços, tudo leva a crer que a Câmara de Vereadores aprovará o projeto de lei, encaminhado pelo Executivo Municipal (no dia 31 de outubro passado), até o final deste ano, de forma que a nova empresa entre em funcionamento ainda no primeiro semestre de 2014.
A SPCine se propõe a impulsionar o desenvolvimento do cinema e do audiovisual em suas várias dimensões (produção, distribuição e exibição). Toni Venturi, um dos integrantes do núcleo, que debateu com empenho a criação da empresa, ao longo dos últimos 13 anos, e após a eleição de Fernando Haddad, lembra que “a SPCine vai codistribuir os filmes com os players de mercado, ou seja, formando parceria com distribuidoras privadas já estabelecidas”. A empresa “só executará a distribuição alternativa nas periferias e regiões onde o produto audiovisual não chega”. Nesta busca do público das periferias – garantiu o prefeito Haddad na solenidade que encaminhou o projeto à Câmara Municipal – os CEUS (escolas especiais mantidas na capital paulista) desempenharão papel fundamental.
Panorama do cinema paulista – Apesar da grandeza dos números de público em São Paulo, por outro lado, a produção audiovisual paulista sofre derrota significativa se comparada à carioca. Das 20 maiores bilheterias da história do cinema brasileiro, 19 foram produzidas no Rio (“Tropa de Elite 2” e “Dona Flor e seus Dois Maridos” na liderança). Só um título (“Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, de Hector Babenco) representa São Paulo, ocupando o sexto lugar.
Se tomarmos a produção contemporânea, ou seja, o ciclo da Retomada e pós-Retomada (1995-2013), os dados continuam negativos para São Paulo; dos 20 maiores sucessos produzidos neste período, 17 são cariocas e só três paulistas: “Carandiru”, de Babenco, “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, e “Até que a Sorte nos Separe”, produção da Gullane Filmes.
Cariocas lançaram, nos últimos 20 anos, 468 longas-metragens, enquanto São Paulo lançou 277. Os primeiros captaram 64% dos recursos incentivados por leis de mecenato; São Paulo ficou com 29%. Meses atrás, Sérgio Sá Leitão, secretário municipal de Cultura e diretor da Riofilme, lembrou – no Boletim Filme B, número 823 – que “o Rio respondeu por 58% das produções nacionais e 94% dos ingressos vendidos (para filmes brasileiros) em 2012”. Este ano, os dados devem ser ainda mais favoráveis ao Rio, pois até o início de novembro, eram cariocas todos os títulos que passaram do milhão de ingressos (as comédias “Minha Mãe É uma Peça”, “De Pernas pro Ar 2”, “Vai que Dá Certo”, “Meu Passado me Condena”, “O Concurso”, “Mato sem Cachorro” e as cinebiografias “Somos Tão Jovens” e “Faroeste Caboclo”).
Por Maria do Rosário Caetano