Rebeldes do Super-8

“Naquela época, anos 70, ditadura militar, os que faziam filmes em 35mm queriam construir monumentos. Os que faziam em 16mm queriam questionar os monumentos. E os que se dedicavam ao Super-8 queriam jogar merda nos monumentos”. Esta frase, enunciada pelo baiano Póla Ribeiro, diretor do longa “Jardim das Folhas Sagradas”, merece, por seu humor e rebeldia, ser multiplicada. Ela está impressa no livro “Cinema e Memória – O Super-8 na Paraíba dos Anos 1970 e 1980”, organizado por Lara Amorim & Fernando Trevas (EdUFPB). Rubens Machado Jr., professor da USP e grande estudioso do Super-8 brasileiro, participa do livro com um ótimo artigo (“A Experimentação Cinematográfica Superoitista no Brasil: Espontaneidade e Ironia como Resistência à Modernização Conservadora em Tempos de Ditadura”). Ele sabe muito bem o que significou, naqueles duros tempos de muitos embates políticos e culturais, a briga entre os que faziam cinema com grandes orçamentos, geralmente, oriundos da Embrafilme, e os que se expressavam pelas bordas. Em Super-8, claro. Foi nesta bitola que Edgard Navarro, Póla Ribeiro e dezenas de superoitistas se iniciaram no cinema. Navarro, o mais subversivo de todos, filmou um ânus defecando em “O Rei do Cagaço” (numa citação paródica de “O Rei do Cangaço”). Hoje, as novas gerações têm o cinema digital como poderosa porta de entrada, não há mais censura política, nem militares sugerindo documentários sobre monumentos cívicos, que festejavam “heróis da pátria”. O livro paraibano merece ser lido. Nos faz rememorar um tempo terrível.

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