Mostra SP 2014

JOHN LENNON EM ALMERÍA – O mais novo filme de Davi Trueba – “Viver é Fácil com os Olhos Fechados”- produzido por seu irmão  Fernando “Sedução” Trueba, é uma deliciosa Sessão da Tarde. Programado pela Mostra SP (e pelo Festival da Juventude), o longa conquistou cinco Goyas, o Oscar espanhol, inclusive o de melhor filme e de melhor ator (Javier Cámara). O enfermeiro de “Fale com Ela”, de Pedro Almodóvar, é mesmo o maior trunfo deste filme dos Irmãos Trueba. Em março último, Javier Cámara disputou o Prêmio Platino do Cinema Ibero-Americano, em Ciudad Panamá, mas perdeu para o ator mexicano Eugenio Derbet (também diretor de “Não Aceitamos Devoluções”, blockbuster que vendeu 15 milhões de ingressos no México e 5 milhões nos EUA, e que ganhará remake nos EUA e no Brasil). Mas Cámara derramou simpatia em Ciudad Panamá. Deu entrevistas, posou para fotos, tocou piano, brincou com os jornalistas brasileiros e mandou um grande abraço para Caetano Veloso, de quem é fã. Caetano, aliás, canta “Cucurucucu Paloma” em “Fale com Ela” (e deixa o ator Dario Grandinetti arrepiado de emoção). Bem, e o que John Lennon tem a ver com “Viver é Fácil com os Olhos Fechados”? Primeiro, o nome do filme foi retirado de um verso da canção “Strawberry Fields Forever”. Segundo: encontrar Lennon em Almería, na Espanha, é o mote do filme. Em 1966, o beatle filmava, no berço de dezenas de produções western spaghetti (dirigidas pelo craque Sérgio Leone ou por diretores menores), o longa “Como Ganhei a Guerra”, de Richard Lester. António, um professor de inglês, de Albacete, vê chegada a hora de procurar Lennon, para que ele supra lacunas nas letras das canções que copia, de ouvido, dos discos. No caminho, abriga dois caroneiros: uma moça grávida e um jovem rebelde que foge dos pais. Será difícil chegar ao beatle. Mas não impossível, já que a história baseia-se em personagem real, o professor Juan Carión Gañán. O filme é docemente ingênuo. Lennon é visto em fragmento do filme pacifista de Lester e, de longe, na trama, recebendo o professor em seu trailer no set de filmagem. O filme registra, com gosto, a árida e poeirenta Almería. O foco da narrativa está todo no professor e nos caroneiros. De quebra, o filme homenageia Valerio Zurlini e seu belo “A Moça da Valise”, pois o dono do hotel, que hospeda a trinca de protagonista, é louco por Claudia Cardinale. No elenco do filme, estão Jorge Sanz e Ariadna Gil, do elenco do oscarizado “Sedução”.

FESTIVAL DA JUVENTUDE – Estive em duas sessões do Festival da Juventude, na Mostra SP. Ambas no Cine Livraria Cultura 1. Muitos estudantes na plateia. Vi, com eles o argentino “Ciências Naturais”, de Matías Lucchesi. Uma história delicada, que ganhou um prêmio paralelo em Berlim. A outra, uma bela animação francesa, “Tia Hilda”, de Jacques-Rémy Girerd & Benoît Chieux. Este ano, o Festival da Juventude cresceu bastante e está em novas salas: além do Livraria Cultura 1 (às 10h00 e às 14h00), seu palco mais tradicional, os filmes foram programados na CineSala Sabesp e no MIS. Os títulos selecionados são “A Pequena Casa”, do Yoji Yamada (Japão), “Brincante”, de Walter Carvalho (BR), “Viver é Fácil com os Olhos Fechados”, de Davi Trueba (Espanha), “O Segredo dos Diamantes”, de Helvécio Ratton (BR), “Queen & Country”, de John Boorman (Inglaterra), “O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum (BR), “Ballet Boys”, de Kenneth Elvebakk (Noruega), “Giraffada”, de Rani Massalhat (Palestina/França), “Fuga da Realidade”, de Christian Bach (Alemanha), “Encantados”, de Tizuka Yamasaki (BR), “Mais Perto da Lua”, de Nae Caranfil (Romênia), “Sam”, de Elena Hasanov, “Mateo”, de Maria Gamboa (Colômbia), “Labyrinthus”, de Douglas Boswell (Bélgica/Holanda), e “Casa Grande”, de Felippe Gamarano Barbosa (BR). Patrícia Durães, que desenvolve, no Circuito Cinespaço, o “Projeto Escola”, apresenta os filmes para o público jovem. A Mostra SP, ao investir em formação de plateia, garante seus espectadores futuros. E ajuda a diversificar o gosto de estudantes, permitindo que vejam filmes de todos os cantos do mundo.

SÉTIMO CICLO “OS FILMES DA MINHA VIDA” – Série de depoimentos de críticos, cineastas, roteiristas, cinéfilos e jornalistas. Helvécio Ratton (sexta-feira), Jean-Michel Frodon (sábado), em inglês (sem tradução) Jia Zhangke (domingo), em mandarin, com tradução Matheus Nachtergaele, depois Artur Xexeo (segunda) Braulio Mantovani (terça).

 

Por Maria do Rosário Caetano

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