Mostra SP: três vezes Victor Erice – O Sol do Marmelo
Nada foi mais valioso nesta Mostra SP 2014, que a mostra de três filmes de Victor Erice, o bissexto autor espanhol que amávamos tanto pelo magnífico e misterioso “O Espírito da Colmeia” (1973) e do qual sonhávamos ver “O Sul” (1983) e “O Sol do Marmelo” (El Sol del Membrillo), de 1992. Pois agora, nesta generosa parceria com a Espanha, Renata de Almeida e trupe nos permitem realizar o sonho de ver, de uma tacada só, os três filmes de Erice. Uma experiência epifânica. “O Espírito da Colmeia”, depois de anos desaparecido de nossas telas e telinhas, chegou ao DVD. Revê-lo na tela grande é ter um encontro com o sublime. E ver o raro “O Sul” é experiência igualmente impactante. E conhecer “O Sol no Marmelo”, um documentário de pouco mais de duas horas, é algo de que nos lembraremos para sempre.
O filme acompanha, no quintal do estúdio do pintor António López, em Madri, o corpo-a-corpo artístico que ele minuciosamente estabelece com um marmeleiro, carregado de folhas muito verdes e frutos de um amarelo único. E registra, também, as ótimas conversas do pintor com os amigos (e com uma chinesa e seu intérprete) que o visitam. Há ainda a presença e a voz de trabalhadores poloneses, que reformam o estúdio. Na correria, cometi falha que reparo agora. Na lista dos 50 Maiores Documentários de Todos os Tempos, recém-lançada, e da qual destaquei a presença de apenas três ibero-americanos (Guzmán com “Batalha do Chile” e “Nostalgia da Luz”, Buñuel com “Terra Sem Pão”, e Solanas & Getino com “La Hora de los Hornos”) figura a presença luminosa de “O Sol do Marmelo”. Um filme que nenhum cinéfilo digno do nome pode perder.
Por Maria do Rosário Caetano