Os amigos de Garrel
Os franceses têm fama de mal-humorados e sisudos. O ator e, agora, cineasta francês Louis Garrel, que visitou o Brasil para lançar “Dois Amigos”, seu primeiro longa como diretor, derramou inteligência, simpatia e… bom humor. Tirou sarro do tom excessivamente cerebral do cinema de seu país (e olhe que o pai, Philippe Garrel, dirigiu e ele protagonizou o pesadíssimo “A Fronteira da Alvorada”), cantou as virtudes da comédia italiana (principalmente, de Mario Monicelli), colocou o humor agridoce de Nanni Moretti em seu olimpo cinéfilo e conformou-se em “não ter cara de mau” para interpretar bandidos em filmes de ação norte-americanos.
A prova de que o ator tem mais afinidade com as “dramédias” ou “filmusicais” de Christophe Honoré, que com o cinema cerebral do pai (do qual o momento mais luminoso é o cabeçudo “Amantes Constantes”), está posta em “Dois Amigos”. O filme, uma comédia levemente dramática, foi escrito por Honoré, “um grande dialoguista e um grande reinventor de clichês”, e pelo próprio Garrel. Os protagonistas são uma jovem presidiária (a iraniana Golshifiteh Farahani) e dois rapazes de trinta anos. Um deles, interpretado pelo rechonchudo Clément (Vincent Macaigne), é apaixonado pela moça e vive de bicos como figurante de cinema. O outro, Abel (o próprio Garrel), trabalha num posto de gasolina e sonha em ser escritor. Como a moça não quer saber do apaixonado Clément, ele pede ao amigo Abel que o ajude, atuando como cupido. Claro que não vai dar certo.
A estreia do ator que, em 2008, aos 27 anos, encapou a revista “Cahiers du Cinéma” (fazendo jus a entrevista de 11 páginas), na direção é das mais promissoras.