O teatro da maternidade

“Eclipse Solar”, lançado na 19ª Mostra de Tiradentes, onde recebeu o prêmio de melhor curta pelo Canal Brasil, é o terceiro filme do fluminense Rodrigo de Oliveira, hoje radicado no Espírito Santo, e seu primeiro curta. Anteriormente, Oliveira realizou os longas “As Horas Vulgares” (2011), com Vitor Grazie, e “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” (2015), previsto para estrear em abril. “Eclipse Solar” acompanha o reencontro de mãe e filho em circunstância atípica, em que ele recobrou a guarda de seu filho.

O curta olha para a maternidade. “‘Eclipse Solar’ lida, exclusivamente, com as consequências desse amor radical – me interessa sempre mais as consequências do que os fatos em si. O amor maternal é o amor humano mais absoluto, o mais poderoso. Todos nós temos histórias de como nossas mães ‘fizeram o que acharam melhor para nós’, e a sobrevivência da humanidade toda depende desse julgamento, que as mães sabem fazer melhor do que ninguém. Mas às vezes esse julgamento falha, e me fascina a ideia de que um erro capital (tomar a guarda de um neto por julgar que seu próprio filho é incapaz de cria-lo) possa nascer de um lugar de amor pleno, e não de mau-caratismo ou vilania”, comenta Oliveira, que rodou o curta em seis dias, em novembro de 2014.

Realizado com R$ 60 mil, oriundos da Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo, e com influências de Eric Rohmer e Manoel de Oliveira, “Eclipse Solar” encontra na teatralidade e no texto literário uma forma de aproximar o passado e o presente, o bem e o mal, o amor e o ódio, o lúdico e o realista, em uma janela 1.33:1 (“é a história de uma família em crise e o 4:3 reforça esse aspecto da impossibilidade desta família dividir o mesmo espaço”). O curta foi filmado no Museu Solar Monjardim, construído no século XVIII, em Vitória. “Pisar ali dentro significa abraçar a torrente de passado – o bom e o terrível do passado. Muitas alegrias se deram ali, mas também muita dor, muita desgraça, o escravagismo, toda a dimensão burguesa da subjugação do pobre, das mães arrestadas de seus filhos, e isso tudo contamina o filme”, explica.

Rodrigo de Oliveira conta que lhe interessa falar dos grandes temas. “Falar sobre ‘a maternidade’, e não ‘uma’ ou ‘esta maternidade’, é tentar dar alguma consequência histórica, algum peso de Vida ao filme. A minha geração tende a ser muito tímida na hora de filmar grandes declarações sobre o estado do mundo, mas eu sinto que essa é a hora de nos atrevermos a falar da Vida, do Amor, da Maternidade, com maiúsculas”, afirma.

No momento, Oliveira, além de lançar seus dois filmes mais recentes, escreve, com Luiz Pretti, montador de todos os seus filmes, o roteiro do longa “Fuga em Ré Menor”. Premiado para desenvolvimento de projeto pelo FSA, o filme é um musical distópico em forma de road-movie pelo Brasil, onde a música é proibida. O cineasta pretende também rodar seu terceiro longa-metragem em 2016, uma adaptação de “Noites Brancas”, de Dostoiévski, com os R$ 15 mil do prêmio do Canal Brasil.

 

Por Gabriel Carneiro

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