Cine PE, por Maria do Rosário Caetano
O cineasta Luiz Rosemberg Filho, de 73 anos, apresentou, na terceira noite da mostra competitiva do Festival Audiovisual de Pernambuco, seu mais recente longa-metragem, GUERRA DO PARAGUAY, produção de Cavi Borges. O filme, protagonizado por Patrícia Niedermeir e Alexandre Dacosta, nasce do encontro de uma trupe teatral de nossos dias, com um soldado que acaba de sair – “vitorioso”, como ele faz questão de destacar – da Guerra da Tríplice Aliança, aquela que, no século XIX, quase exterminou a população masculina do Paraguai.
Chico Diaz tem participação especial interpretando um índio guarany, derrotado no conflito. E Ana Abott integra, junto com Francisca dos Santos, o núcleo teatral, que vai encontrar-se com o soldado. O que se verá daí em diante é um épico brechtiano, sedimentado nas ideias, resultando em poderosa reflexão sobre o absurdo das guerras.
Fotografado em poético preto-e-branco, por Vinícius Brum, o filme transforma paisagem idílica em cenário do embate entre uma artista que defende ideias libertárias e um soldado que acredita nas razões militares.
GUERRA DO PARAGUAY, que custou R$ 750 mil, é dedicado a “Dr. Fantástico”, de Kubrick, e “Os Carabineiros” (Tempo de Guerra), de Godard. Todo mundo sabe que Rosemberg, autor de filmes como “Jardim de Espumas” e “Crônica de um Industrial”, é o mais godardiano dos realizadores brasileiros (em 1986, até organizou o livro GODARD, JEAN-LUC). Se Maurício Gomes Leite tivesse seguido sua carreira de cineasta, os dois dividiriam o posto (e aposto).
***** Durante o debate de GUERRA DO PARAGUAY, Rosemberg, um dos personagens do livro CINEMA DE INVENÇÃO, de Jairo Ferreira, definiu sua família estético-espiritual, listando os cineastas brasileiros com quem se identifica: Andrea Tonnacci e Ana Carolina. Tem interesse, também, pelo cinema de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, mas faz questão de lembrar que, ao contrário destes, mantém relação profunda com a historicização. O “meia-oito” Rosemberg é um cultor de Walter Benjamin, entre outros pensadores, um “anjo da História”.
*****Cavi Borges está lançando, em DVD (cinco longas-metragens) e livro, a obra (quase) completa do cineasta. O pacote custa apenas R$ 50,00 e dá direito a “O Jardim de Espumas”, “Crônica de um Industrial”, “O Santo e a Vedete”, “A$$untina das Amérikas” e “Dois Casamentos”. O livro LUIZ ROSEMBERG FILHO – CINEMA DO AFETO (Azougue Editorial) vem como brinde. Além de seus longas, Rosemberg é autor de mais de 50 curtas e médias-metragens, colagens de alma godardiana em sua maioria.
