Secretaria do Audiovisual lança VOD Brasil com foco na formação de público

O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv), Pola Ribeiro, está entusiasmado com o novo projeto que pretende unir várias ações em benefício do cinema brasileiro em um único sistema, um canal de VOD, um tipo de Netflix brasileiro. A plataforma, que usará soluções híbridas na difusão dos conteúdos, poderá ser acessada tanto pela internet como por sinais UHF, P2P e CDN, e pretende unir a difusão do audiovisual brasileiro, como filmes séries e programas, à formação de público e preservação da memória.

O modelo de negócios e de sustentabilidade desenvolvido pela SAv, previsto para estrear no final deste ano, está fase de conclusão, mas já foram definidas as principais prioridades que serão incorporadas ao catálogo. Após longas discussões com diversos grupos de trabalho durante o ano de 2015, a proposta principal do Ministério da Cultura é transformar a Programadora Brasil em uma agregadora de conteúdos que serão difundidos não apenas no VOD Brasil, mas também em uma rede de salas de cinema e em um canal de televisão. Existem entre 7 a 8 mil títulos disponíveis.

Além do mercado da Ancine

Também estão previstos os licenciamentos de filmes produzidos com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual e com vocação mais comercial, contudo não para este primeiro momento. O objetivo inicial é aproveitar o acervo que já está em domínio público e, em seguida, os mil filmes que já foram licenciados pela Programadora Brasil e que serão novamente licenciados para a plataforma VOD Brasil, para o Canal Cultura e para a Rede de Salas. Da mesma forma, estão incluídos, nestas primeiras etapas, os filmes que foram produzidos pelos editais da SAv, como os de Baixo Orçamento, DOCTV, Edital Carmen Santos Cinema de Mulheres, Curta Afirmativo, dentre outros.

Em 2007, a Programadora Brasil iniciou o licenciamento para a distribuição de filmes nacionais em DVDs para exibições sem fins lucrativos, cuja curadoria visava especialmente alcançar os cineclubes e as escolas. O projeto, agora, não está completamente interrompido porque a SAv continua distribuindo os DVDs remanescentes para atender às demandas pontuais que surgem, porém não há uma continuidade efetiva. O plano do VOD Brasil, de acordo com Pola Ribeiro, é reativar essa proposta aproveitando as novas tecnologias e torná-la maior e em grande escala.

“Nós conversamos com o cineclubista, com o preservador, com o pessoal de formação, com os festivais, com todo o setor audiovisual que não é atendido diretamente pelo projeto da Ancine, que é um projeto mais voltado para o mercado, e estamos tentando buscar uma costura para esse atendimento mais forte e pensando em todos eles como parceiros para alcançar essa escala. O que nós estamos desenhando é um crescimento, uma atualização e uma diversidade tecnológica”, afirma Pola Ribeiro.

Orçamento e linhas de difusão

O VOD Brasil será a plataforma universal de vídeo sob demanda, que englobará todo o conteúdo e que contará com um orçamento de R$ 10 milhões. Já a Rede de Salas tem um aporte total de R$ 4,5 milhões para difundir os filmes nos cineclubes, nas escolas e nas universidades. Também está em desenvolvimento o projeto Quero Ver Cultura, voltado para o público que recebe o Bolsa Família e que não tem acesso direto à internet com banda larga. A expectativa do MinC é de levar um receptor de TV digital capaz de acessar o VOD Brasil em escala reduzida, com cerca de três longas-metragens por semana e que pode ser acessado a qualquer hora. O público estimado para esta linha é de 50 a 60 milhões de pessoas, em todo o território nacional.

Outra novidade que está em curso é o Canal Cultura. Em 2016, ele deve entrar no ar somente pela web e, no ano que vem, disponibilizar uma programação específica dentro da grade da TV Brasil (EBC), para só em 2018 ter um canal de TV próprio. De acordo com Ribeiro, o canal já era uma meta do Plano Nacional de Cultura e será incorporado nessa nova configuração da Programadora Brasil que está aglutinando tudo para dialogar e diversificar a distribuição dos produtos audiovisuais nacionais. O Canal Cultura também vai trabalhar como “um canal dos canais” na difusão das obras produzidas nos Núcleos de Produção Digital (NPC), que estão vinculados ao CTAV, além de veicular reprises de conteúdos expressivos da TV Cultura, SescTV e outros canais públicos, segundo o secretário.

Preservação e formação de público

Para disponibilizar os conteúdos até o final deste ano, a Programadora Brasil começará pelos licenciamentos mais baratos, embora ainda não se saiba qual será a validade desses contratos. A proposta do governo é dar acesso permanente ao acervo com o intuito de preservar e disponibilizar um patrimônio audiovisual para as próximas gerações e com foco também na educação. Na prática, a discussão será mais específica e caso a caso, tentando sensibilizar e convencer os realizadores.

“A própria ideia de preservação do conteúdo brasileiro passa por outro ponto de vista. As pessoas ficam contentes de saber que a Cinemateca Brasileira guarda a memória. Mas não sabem o que tem e não sabem acessar. No momento em que puderem acessar, você passa a ter uma outra dinâmica. Ganha uma outra dimensão. A gente não atua no mercado e na indústria, mas a gente potencializa o ambiente audiovisual como um todo. É uma formação de público direta”, reforça Ribeiro.

América Latina também adotará VOD com conteúdo local

O discurso da SAv é lembrar os produtores e autores que, passadas as quatro ou cinco semanas de circuito comercial, esses filmes “não podem morrer, eles precisam ter uma sobrevida” e “podem ser um sucesso no VOD” depois da exibição nas salas tradicionais. As conversas também já chegaram ao Ministério da Educação, que se interessou pelo assunto e agora aguarda o processo de licenciamento das obras para auxiliar nessa difusão mais diretamente, atuando junto às escolas e professores e aproveitando a curadoria da Programadora Brasil que já dispunha de seções voltadas para os estudantes.

Outra dinâmica que deverá fortalecer o projeto ao longo dos próximos meses é a internacionalização do VOD Brasil. Já existe uma interlocução com os países da América Latina para a troca de experiências, visto que “México e Argentina, por exemplo, já estão mais adiantados no assunto”, como reconhece Ribeiro. Mas a plataforma nacional deverá disponibilizar conteúdos de outros países de língua portuguesa, dando sequência também ao processo que foi iniciado com o DOCTV CPLP. É esperar para ver.

 

Por Belisa Figueiró

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