CineOP homenageia a memória e obra de Eduardo Coutinho
A Mostra de Cinema de Ouro Preto celebra, entre 22 e 27 de junho, a memória de dois nomes muito especiais: Eduardo Coutinho (1933-2014), um dos diretores mais importantes e referenciais da história do cinema brasileiro; e Francisco Sérgio Moreira (1952-2016), o Chico, considerado pioneiro no trabalho de restauração, por anos tendo trabalho na Cinemateca do MAM e na Labocine e com carreira também de montador. De Coutinho, será exibido na mostra Cabra Marcado para Morrer (1984); de Chico, o público vai poder conferir dois títulos montados por ele: Jango (1984), de Silvio Tendler, e Lost Zweig (2002), de Sylvio Back.
O filme mais conhecido e cultuado de Coutinho será o longa-metragem de abertura do evento: Cabra Marcado para Morrer (1984). Trata-se de um trabalho de resistência à opressão e à perseguição, um projeto de sobrevivência em tempos sombrios e que se conecta diretamente à Temática Histórica da mostra este ano, O Cinema Brasileiro da Abertura à Nova República.
A 11ª CineOP selecionou ainda 91 filmes distribuídos em 34 sessões de cinema que serão realizadas em três espaços da cidade histórica: Cine Vila-Rica, Cine BNDES na Praça e Centro de Convenções. Serão exibidos 19 longas, sete médias e 65 curtas, sendo 42 deles produzidos por educadores e estudantes no contexto escolar e que serão apresentados na Mostra Educação, que integra pelo segundo ano consecutivo a programação de filmes da CineOP.
Além da Mostra Educação, a programação abrangente e gratuita do evento exibirá filmes distribuídos nas mostras Contemporânea, Preservação, Homenagem, Histórica e Praça, para longas e médias, e as Mostras Preservação, Histórica, Praça, Venturas, Mostrinha e Horizontes para os curtas-metragens. Os títulos representam diversas expressões da produção cinematográfica brasileira, em diferentes formatos e épocas, de 12 Estados brasileiros (SP, RJ, MG, PR, RS, SC, RN, PB, PE, CE, GO e SE).
A seleção da Mostra Histórica, assinada pelo curador e crítico de cinema Francis Vogner dos Reis, buscou reunir produções históricas enfocam a temática proposta para esta edição da CineOP: o período da chamada Abertura Política que vai de 1976 até a nova Constituição, em 1988. O público poderá conferir nas telas, e também nos debates, como o cinema, de alguma maneira sentiu, pensou e reagiu ao processo de abertura democrática brasileira.
Além disso, a homenagem ao diretor Eduardo Coutinho, um dos mais importantes documentaristas do país, exibirá ainda os longas-metragens Jogo de Cena e Últimas Conversas.
Entre os títulos selecionados para a Mostra Histórica, os filmes Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman (1981) e A Próxima Vítima, de João Batista de Andrade (1983), fazem uma avaliação mais direta desse período político no país. Já o longa Extremos do Prazer, de Carlos Reichenbach (1983), tentava entender a experiência de uma juventude, filhos da ditadura; o média Superoutro, de Edgard Navarro (1989) é uma perspectiva tardia da contracultura frente a falta de horizonte político num período de pós-ditadura e, por fim, um filme que exemplifica bem o processo dessa Nova República pós-constituinte é Festa, de Ugo Giorgetti (1989). Outros filmes que merecem atenção do público são os Cases Cinema e TV, que integram a Mostra Histórica e que dialogam também com a Temática Preservação.
Ainda a partir de um olhar para o passado, mas mudando o foco para outro tipo de dispositivo audiovisual, na 11ª CineOP, a Temática Preservação vai refletir sobre o acesso e a preservação de Arquivos de Televisão. O filme emblemático da Mostra Preservação em 2016 é o documentário Jango (1984), de Silvio Tendler. Para a realização do longa-metragem, o diretor utilizou vasto material de arquivo para acompanhar a trajetória do ex-presidente João Goulart, deposto no golpe civil-militar de 1964.
A Mostra Contemporânea da CineOP contará com duas pré-estreias nacionais: Filhos de Bach, uma coprodução Brasil-Alemanha, dirigida por Ansgar Ahlers, e Crônicas da Demolição, dirigido por Eduardo Ades. A seleção de produções contemporâneas traz filmes que, de diversas maneiras, relacionam-se com a noção de Cinema Patrimônio, que é um dos focos de atenção da mostra. Alguns dos destaques são: Mar de Fogo, de Joel Pizzini; Satan Satie ou Memórias de um Amnésico, de Juruna Mallon e Lucas Parente; Sem Título #2: La MerLarme, de Carlos Adriano.
O público que participar da CineOP poderá conferir a diversidade da produção em curtas-metragens nas mostras: Horizontes, Histórica, Praça, Preservação, Venturas, Educação, Mostrinha e Cine-Escola. A curadoria dos títulos contemporâneos (Horizontes, Praça e Venturas) ficou a cargo de Francis Vogner dos Reis. Entre os filmes estão Retalho (MG), de Hannah Serrat; Super Frente, Super-8 (SE), de Moema Pascoini; A Casa sem Separação (PR) de Nathália Tereza; História de uma Pena (CE), de Leonardo Mouramateus; Lápis sem Cor (GO), de Iuri Moreno, e A Bolsa (SP), de Deborah Perrotta, Jason Tadeu e Marcela Cardoso, entre outros.
A Mostra Educação, reúne 42 curtas produzidos no Brasil por educadores e estudantes no contexto escolar e espaços não-formais de ensino. Os filmes serão exibidos em duas sessões durante a mostra, divididos nas temáticas Mostra Kino Animação, Mostra Kino Ambiental, Mostra Kino Ocupação, Mostra Kino Diversidade, Mostra Kino Carta e Mostra Kino Mudo.
Em 2016, a Mostra Educação contará ainda com a exibição do documentário em longa-metragem Acabou a Paz, isto Aqui Vai Virar o Chile, escolas ocupadas em São Paulo, dirigido por Carlos Pronzato. O filme retrata o levante dos estudantes paulistas no segundo semestre de 2015 contra o fechamento de 94 escolas, que culminou na ocupação de mais de 200 que seriam afetadas pelas ações de precarização do ensino público engendradas pelo Governo de Geraldo Alckmin. A coragem, a autonomia, a horizontalidade e solidariedade demonstradas pelos secundaristas paulistas, inspirados no exemplo dos estudantes secundaristas chilenos, os famosos Pinguins, deixou sua marca na história das lutas populares do Brasil.