Um rosto para Alinor
Anos atrás, o cineasta e professor universitário Luis Alberto Rocha Melo mergulhou na obra de Alinor Azevedo (1914-1974), um carioca que fundou a Atlântida Cinematográfica, em 1941, com Moacyr Fenelon e os irmãos Paulo e José Carlos Burle. Os estudos de Melo deram origem a dissertação de mestrado aprovada com louvor pela UFF, mas que, por nossa “persistente desmemória”, continua inédita em livro. E assim, Alinor, roteirista e defensor juramentado do cinema brasileiro, apesar de sua imensa importância, segue pouco conhecido em nossos meios cinematográficos. Recentemente, este “Almanaque” promoveu campanha na internet em busca de imagens do roteirista de “Moleque Tião”, “Somos Todos Irmãos” e “Assalto ao Trem Pagador” (este em parceria com Barretão e Roberto Farias).
Pesquisadores de diversos Estados se mobilizaram e nos enviaram precária imagem do grande roteirista, reproduzida de alguma página de jornal. Na internet, não há uma única imagem que o retrate. Uma delas traz até um candidato a prefeito, de mesmo nome. A carência se mostrou tão grande que, entre nós, já chamávamos Alinor de “um homem sem rosto”. Até que o crítico de cinema, pesquisador e professor universitário José Carlos Monteiro revirou seus arquivos implacáveis e encontrou duas magníficas fotos de Alinor. Numa delas, o vemos sorridente, ao lado de Anselmo Duarte. Na outra, aparecem, com ele, os cineastas Watson Macedo, José Carlos Burle, Anselmo Duarte e Johnny Herbert (estes dois últimos, também atores).
Alinor e a Atlântida
José Carlos Monteiro, estudioso incansável da Atlântida (da fase pioneira à fase comandada pela Família Severiano Ribeiro), reconhece a raridade e o valor das duas fotos zelosamente guardadas por ele. A segunda imagem – testemunha – “mostra-se ainda mais valiosa”, por “tratar-se de registro singular, único, já que em nenhum outro momento de minhas pesquisas sobre a produtora carioca vi este grupo de profissionais reunido”. O autor do belo livro-álbum “História Visual do Cinema Brasileiro”, lembra que, “entre os críticos, quem mais valorizou Alinor foi Alex Viany”. Juntos, eles chegaram a “planejar e escrever roteiros de filmes nunca realizados”. Quem estiver interessado em conhecer melhor a trajetória de Alinor poderá – lembra Monteiro – consultar no MIS-Rio, depoimento revelador gravado por ele, nos anos 1960. “Se esta raridade estiver perdida, há pelo menos a transcrição que realizei ao constatar o calamitoso estado da fita-cassete guardada no MIS”. Foi ao ler o mais famoso livro de Alex Viany (“Introdução ao Cinema Brasileiro”), que Monteiro descobriu um “buraco negro”: a falta de informações sobre determinado período da história da Atlântida, aquele anterior à fase comandada pelo “tycoon” Luiz Severiano Ribeiro, que assumiu seu controle no final dos anos 1940”. Antes, porém, de escrever livro (sobre a empresa), que vem amadurecendo há décadas, Monteiro dedicou seu tempo à sua dissertação de mestrado (“Maneirismo e Cinema: uma Visão do Mundo e uma Ideia da Arte”) e à sua tese de doutorado (“Imagens Visionárias: Ideologia e Estética do Cinema de Esquerda Brasileira, 1950-1980”). E por que adiou tanto seu livro sobre a Atlântida? Ele conta que o amigo, o crítico Sérgio Augusto, supriu a lacuna com “Este Mundo é um Pandeiro” (Cia das Letras, 1989). “Sérgio fez a abordagem cultural da comédia popular (a chanchada). O meu foco é historiográfico”. E arremata: “em seu livro, já nos agradecimentos, Sérgio avisa (e cobra) a publicação que o Monteiro está devendo. Continuo, portanto, em dívida. E pretendo pagá-la”.
Com relação aos filmes de Alinor é citado no texto o filme Somos Todos Irmãos. Acredito que tenha havido um erro com relação ao título do referido filme com direção de José Carlos Burle e argumento de Alinor seria “Também Somos Irmãos”.
Sou sobrinho do Alinor. Se precisar de fotos falem comigo.