Comunicação em trânsito
Maurilio Martins chamou a atenção com o curta “Contagem” (2010), dirigido com o sócio da Filmes de Plástico Gabriel Martins. Desde então, lançou “Quinze” (2014) e agora “Constelações” (2016), exibido nos festivais de curtas de Belo Horizonte e de São Paulo e no 49º Festival de Brasília, onde saiu premiado com o troféu de melhor ator para Renato Novais Oliveira. São três universos distintos que revelam um olhar sobre o trânsito e a comunicação no mundo. Em “Constelações”, um homem (Renato Novais Oliveira), que vai à terra natal para o funeral do melhor amigo da infância, dá carona a uma estranha (Stine Krog-Pedersen), uma mulher dinamarquesa que não fala português.
Para Maurilio, dois momentos foram importantes para conceber o curta. “Quando comecei a namorar a Stine, ela me contou uma história que havia vivido na Geórgia e que era basicamente esse encontro entre pessoas desconhecidas que não falavam uma língua em comum e que conseguiam estabelecer uma comunicação por outros modos. Adaptei a história e escrevi um roteiro que tendia para a comédia. Casei com Stine, mudamos para a Dinamarca, tivemos o Erik e quando da nossa separação, em 2014, e do meu consequente retorno temporário ao Brasil, me bateram questões muito fortes sobre eu não falar dinamarquês (nunca consegui aprender o idioma), sobre o Erik crescer lá sem aprender português e sobre como seria essa nossa relação daí pra frente. Esse medo fez com que retornasse ao roteiro e o modificasse completamente. O que era uma narrativa mais leve, sobre dificuldades temporárias de comunicação, virou um grito, um desabafo sobre aquela minha condição e como enxergava aquilo tudo”, conta.
“Constelações” se passa quase todo dentro de um carro em movimento, com os atores falando sem serem compreendidos e lidando com problemas externos que apareciam. Maurilio filma através de janelas e de vidros. “Optamos por vários elementos dificultadores e ainda acrescentamos o elemento chuva”, aponta. “Era fundamental para a narrativa que esse encontro se desse nesse espaço de transição. O carro na estrada, esse enclausuramento em movimento, me parecia vital. Sempre me encantou essa ideia de estarem no mesmo espaço, em trânsito, mas não serem dali, de estarem de passagem”, complementa.
Filmado em 3 dias, no interior de Minas Gerais, em duas madrugadas e uma manhã, com por volta de R$ 60/70 mil – dos quais R$ 30 mil são oriundos do edital da Fundação Clóvis Salgado –, “Constelações” conta no elenco com os atores não profissionais Renato Novais Oliveira, irmão do sócio André Novais Oliveira, com quem se encantou em “Ela Volta na Quinta” (2014), e Stine Krog-Pedersen, ex-mulher de Maurilio. “A partir do momento que modifiquei o roteiro e ele passou a falar de coisas caras a mim, não conseguia imaginar outra pessoa que não a Stine para essa mulher”, comenta.
Enquanto “Constelações” roda nos festivais, Maurilio filma o longa “No Coração do Mundo”, com Gabriel Martins, um retorno ao universo de “Contagem”, desde 17 de agosto. Também está com outros roteiros em fase de edital: “Evellyn, Nome Social” e “O Último Episódio”, este último, contemplado para desenvolvimento pelo FSA dentro dos Núcleos Criativos.
Por Gabriel Carneiro