O audiovisual como travessia
O Audiovisual, em 2016, apesar do cenário macroeconômico conturbado, cresceu muito acima de outros setores econômicos. Ainda há muito a conquistar para consolidar seu espaço relevante e sustentável da economia brasileira.
Com o impulso significativo da Lei 12.485, que gerou novo Marco Regulatório para a Comunicação Audiovisual e, em especial, a TV por assinatura em todas as suas plataformas; do novo patamar atingido pelo Fundo Setorial do Audiovisual; dos novos Acordos Internacionais de coprodução e editais dos recentes arranjos regionais – ainda mais fortalecidos; além de dezenas de premiações para a produção independente brasileira; o cenário para o audiovisual brasileiro, em território brasileiro e no mercado internacional, se apresenta promissor.
Nos últimos anos, o Audiovisual foi um dos setores que mais cresceu no Brasil. Segundo a ANCINE – Agência Nacional do Cinema – o setor audiovisual apresentou crescimento muito acima do restante da economia, puxado pela TV por assinatura, que, em 2015, passou a representar 51,6% do setor audiovisual, contra 30,3%, em 2007.
A título de exemplo dos resultados do setor no Brasil, em 2015, as empresas nacionais distribuíram 616 filmes, que atingiram 42,5 milhões de pessoas (24,6% do público total), gerando uma renda de R$ 557,2 milhões. As empresas internacionais distribuíram 168 filmes, que atingiram 128,8 milhões de pessoas (74,5% do público total) e geraram uma renda de R$ 1,77 bilhão.
Com a produção cada vez mais criativa e capacitada, os olhares se voltaram para o conteúdo nacional, agora presente com excelentes índices de audiência e boa avaliação da crítica em canais e plataformas do país e do mundo.
As exportações do conteúdo audiovisual brasileiro são, segundo a ANCINE, um importante e desejado reflexo da Lei 12.485/11, que estabeleceu o marco legal da TV paga e criou as cotas de programação e conteúdo audiovisual. Em 2014, o licenciamento de direitos representava apenas 14% das exportações do mercado audiovisual. Os serviços de produção e a TV aberta representavam 45% e 37%, respectivamente. Em 2015, no entanto, o licenciamento de direitos foi responsável por 52% das vendas internacionais. O total de exportações do setor saltou 110%, de US$ 73,69 milhões para US$ 154,81 milhões.
O audiovisual sempre foi ferramenta relevante na comunicação pública, de movimentos sociais, no diálogo civilizatório, republicano e também de entretenimento saudável. Hoje, o audiovisual se inclui também como setor relevante da economia – numa indústria criativa – e não somente no campo artístico.
A produção audiovisual, assim como todas as áreas da cultura, é uma indústria moderna, não poluente, que emprega mão de obra técnica especializada e gera mais de 450 mil empregos diretos e indiretos, que tem demonstrado um dinamismo que não se refreou em função da crise econômica, mas que, pelo contrário, tem cada vez mais se intensificado. Estamos falando em mais de 7.000 empresas brasileiras produtoras de conteúdo – cinema, publicidade, documentários, programas de televisão, séries de animação, games nacionais; canais de televisão por assinatura, distribuidores, agregadores de plataformas digitais.
Dentro da economia criativa, o setor audiovisual gera, no mundo, mais de US$ 400 bilhões por ano, ou cerca de R$ 1,6 trilhão (European Audiovisual Observatory, 2015).
A sociedade brasileira, representada por seus principais agentes públicos, protagoniza hoje a sua própria cultura, seus costumes, sua identidade, sua soberania, e tem no audiovisual uma de suas mais significativas expressões.
Mas, com tantos indicadores positivos e promissores, o que ainda falta para consolidarmos em definitivo o audiovisual brasileiro independente? A meu ver, falta a travessia rumo à sustentabilidade do setor. Subsídios existem em todo mundo para a atividade, considerada a função pública e de identidade de um país, de uma nação. Mas a sustentabilidade só poderá vir com a criação de novos mecanismos públicos e privados que privilegiem a meritocracia dos resultados de público, audiência; de crítica, de renovação de linguagens e formatos; de inovação nos modelos artístico e de negócio.
Se já competimos em qualidade nos conteúdos ofertados, ainda nos falta competir com a produção internacional em modelos contemporâneos de produção e distribuição. O setor audiovisual brasileiro ainda está calcado em modelos de financiamento e monetização; e canais de distribuição arcaicos, em entregas de programação que estão desconectadas das novas e novas gerações.
Hora de fazer a travessia, corajosa, efetiva, mas sem rupturas.
Por Mauro Garcia, presidente executivo da BRAVI – Brasil Audiovisual Independente