ANCINE apresenta estudo sobre diversidade de gênero e raça no mercado audiovisual
O mercado cinematográfico brasileiro é uma indústria protagonizada por homens brancos. Levantamento da Agência Nacional do Cinema – ANCINE, tendo como base os 142 longas-metragens brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição no ano de 2016, mostra que são dos homens brancos a direção de 75,4% dos longas. As mulheres brancas assinam a direção de 19,7% dos filmes, enquanto apenas 2,1% foram dirigidos por homens negros. Nenhum filme em 2016 foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra.
Esta é apenas uma de uma série de informações de um estudo apresentado, nesta quinta-feira, 25, na sede da Agência, no Rio de Janeiro. O levantamento, intitulado “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016”, dá continuidade à análise de dados sobre a participação feminina que a Superintendência de Análise de Mercado vem produzindo desde 2014. Trata-se do primeiro estudo que apresenta recortes de cor e raça a ser realizado pela ANCINE. A publicação promete ser anual e o balanço de 2017 será divulgado em junho deste ano no Observatório do Cinema e Audiovisual (OCA).
O evento contou com a presença do Secretário do Audiovisual do MinC, João Batista da Silva, e do diretor da ANCINE, Alex Braga. O estudo foi apresentado pela Superintendente de Análise de Mercado, Luana Rufino, e pela equipe da Coordenação de Monitoramento de Cinema, Vídeo Doméstico e Vídeo por Demanda, que elaborou o estudo: Gledson Merces, Heloisa Machado e Danielle Borges (SAM/CCV).
O universo da pesquisa apresentada consistiu na análise dos 142 longas brasileiros lançados em 2016, segundo dados do SADIS – Sistema de Acompanhamento da Distribuição em Salas de Exibição. Cada filme teve as funções de Direção, Roteiro, Produção Executiva, e Elenco classificadas quanto a identidade de gênero e raça/cor. Já as funções de Direção de Fotografia e Direção de Arte, tiveram classificação quanto a identidade de gênero. No total, foram analisadas 1.326 pessoas envolvidas no cinema brasileiro de 2016.
A análise apontou o domínio de homens brancos não apenas na direção, mas nas principais funções de liderança no cinema, o que evidencia que as histórias exibidas nas telas do país, produzidas por brasileiros, têm sido contadas majoritariamente do ponto de vista dos homens: 68% deles assinam o roteiro dos filmes de ficção, 63,6% dos documentários, e 100% das animações brasileiras de 2016. Os homens dominam também as funções de direção de fotografia (85%) e direção de arte (59%).
As posições só se invertem nas funções de produção. Assinam a produção executiva 36,9% de mulheres brancas, contra 26,2% de homens brancos. As equipes mistas, com homens e mulheres brancas, somam 26,2%. Os homens negros assumem 2,1% da função de produção. Sozinhas, as mulheres negras não assinam nenhuma produção. Apenas 1% de mulheres brancas e negras respondem à função em equipes mistas.
A participação nos elencos das obras também mostra a sub-representação da população negra. Apesar de o Brasil ser formado por 50,7% de negros, o percentual de negros e pardos no elenco dos 97 filmes brasileiros de ficção lançados em 2016 foi de apenas 13,4%.
O Ministério da Cultura – MinC divulgou, por meio de nota, algumas medidas que já serão implementadas sobre o tema. A primeira ação dessa política, que está sendo discutida no Conselho Superior de Cinema, é o lançamento do maior pacote de editais em volume de recursos da história da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, voltado a estimular a inserção de mulheres, negros e indígenas no mercado audiovisual. Também será incentivada a participação de novos talentos. O anúncio acontecerá na primeira quinzena de fevereiro.
Outras ações serão discutidas pelo Conselho, com o objetivo de consolidar uma política consistente de promoção da diversidade no setor. Com isso, o Ministério da Cultura espera impactar diretamente o mercado, promovendo mais igualdade e oportunidade no âmbito cultural.