Thomas Farkas tem sua obra reunida em canal online
Parte significativa da obra do cineasta, diretor de fotografia e produtor Thomaz Farkas (1924/2011) estará disponível em plataforma digital, a partir do dia 16 deste mês de maio, no Canal Thomaz Farkas.
Quem acessar o endereço www.thomasfarkas.com encontrará substantivo lote de 34 documentários de curta e média-metragem que tem o brasileiro, nascido na Hungria, Farkas Tamás György (seu nome no registro civil) como produtor (todos os títulos da chamada Caravana Farkas, desenvolvida em duas fases), realizador (“Hermeto Campeão”) ou diretor de fotografia.
Para marcar o lançamento do canal, foram organizadas duas sessões de filmes no IMS, em São Paulo (dia 16 de maio, 19h30) e no Rio de Janeiro (dia 17, 19h30). Os paulistanos verão três curtas-metragens: “Beste”, de Sérgio Muniz (1970), “Vitalino Lampião”, de Geraldo Sarno (1969) e “Hermeto Campeão”, do próprio Farkas (1981). À mesa de debate, se sentarão Sérgio Muniz e as professoras universitárias Consuelo Lins e Amaranta César. O público carioca assistirá aos mesmos filmes, mas o debate reunirá, além de Consuelo Lins, o cineasta Geraldo Sarno e Cristiane Lima.
O húngaro, nascido em Budapeste, Thomaz Farkas chegou ao Brasil aos seis anos de idade. Aqui, tornou-se um de nossos mais importantes fotógrafos, empresário consolidado (dono da Fotoptica, rede de lojas de material fotográfico) e professor de cinema na USP. Tornou-se, tambem, realizador e produtor de cinema. Seu rico acervo de fotos fixas (com 34 mil imagens) está depositado no IMS (Instituto Moreira Salles) e tem sido mostrado em importantes exposições retrospectivas. Agora, chega o momento de dar visibilidade às suas produções cinematográficas.
Por isto, Guilherme Farkas, neto de Thomaz, dedicado como boa parte da familia ao audiovisual, está comandando a viabilização do Canal Thomaz Farkas. Formado em Cinema e Audiovisual pela UFF (Universidade Federal Fluminense), Guilherme trabalha com captação e edição de som (filmes que o tiveram nesta função foram selecionados para festivais como Cannes, Roterdã, Visions du Réel e Festival do Rio). Foi curador da mostra Sonoridade Cinema (2015), voltada ao debate do som no cinema contemporâneo. Em 2014 e 2015, produziu, ao lado de Joice Scavone e Bernardo Marquez, o Encontro Nacional dos Profissionais de Som do Cinema Brasileiro. Neste momento, além de cuidar do Canal Thomaz Farkas, Guilherme realiza o desenho de som do longa-metragem “Um Filme de Verão”, dirigido por Jo Serfaty.
Além de empenhar-se na difusão, junto às novas gerações, do rico acervo cinematográfico de Thomaz Farkas – em especial das duas fases da Caravana Farkas, compostas por “Brasil Verdade” (1964-65) e “Heranças do Nordeste” (1969-70) – o neto do “imigrante húngaro, que gostaria de ter nascido baiano”, cuida também da preservação de suas matrizes (já que as fotografias fixas estão garantidas no Instituto Moreira Salles).
Guilherme lembra que nem todos os filmes que Farkas dirigiu, fotografou ou produziu estão em perfeitas condições técnicas. “Nós ainda não dispomos” – explica – “de mapeamento completo do estado das matrizes e das cópias de exibição em 35 e 16 milímetros, que estão depositadas, em maior parte, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo”.
Recentemente, em conversa com o carioca Hernani Heffner, Guilherme soube que há cópias depositadas também na Cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna), no Rio de Janeiro. Em abril deste ano, os herdeiros de Thomaz Farkas encaminharam pedido oficial à Cinemateca Brasileira para saber o real estado das cópias lá depositadas. Ou seja, se alguma corre risco do ponto de vista de preservação.
“Estamos aguardando o levantamento” – conta Guilherme – pois “como são muitos títulos, só no Canal temos 35 obras registradas, esse pedido levará um tempo (aproximadamente oito meses) para ser respondido da melhor maneira”.
O neto de Farkas lembra que, “felizmente”, o próprio avô e o cineasta Sérgio Muniz digitalizaram os 35 filmes que farão parte do Canal Thomaz Farkas. E pondera: “poderiam estar com melhor qualidade, mas para visionamento on-line é suficiente”. E arremata: “uma das frentes de nosso trabalho agora é localizar as matrizes e cópias em película para fazermos nova digitalização e assim obter cópias digitais de alta qualidade para projeção em salas de cinema”.
No Canal Thomaz Farkas, o público encontrará filmes de Paulo Gil Soares (o clássico “Memória do Cangaço”, “Jaramantaia”, “Erva Bruxa”), Maurice Capovilla (“Subterrâneos do Futebol”), Geraldo Sarno (“Viramundo”, “Viva Cariri”, “Casa de Farinha”, “Padre Cícero”), Guido Araújo (“As Velas do Recôncavo”), Sérgio Muniz (“O Rastejador”, “De Raízes e Rezas”, “Roda & Outras Histórias”), Manuel Horácio Giménez (“Nossa Escola de Samba”), Vladimir Herzog, o Vlado (“Marimbás”), Affonso Beatto, Lauro Escorel, Eduardo Escorel, Sidney Paiva Lopes, Edgardo Pallero, entre outros.
Por Maria do Rosário Caetano