Filmes brasileiros que prometem encarar o circuito exibidor
A maré não está pra peixe. O ano de 2018 tem sido desesperador para a produção cinematográfica brasileira. As bilheterias minguaram de forma alarmante.
Os exemplos do mau desempenho de nossos filmes são fartos. Duas comédias desenhadas como possíveis blockbusters – “Não se Aceitam Devoluções” e “O Candidato Honesto 2” – protagonizadas ambas pelo ator Leandro Hassum, outrora frequentador de nossas listas de campeões de bilheteria (sempre na casa dos milhões), apresentaram resultado apenas mediano. O primeiro vendeu pouco mais de 300 mil ingressos. O segundo, “O Candidato Honesto 2”, menos de 600 mil. Mesmo assim, ainda há outro “Hassum movie” com lançamento previsto para 29 de novembro:”Chorar de Rir”, de Toniko Melo.
Outro exemplo: “O Paciente – O Caso Trancredo Neves”, de Sérgio Rezende, tinha tudo para alcançar bilheteria de filme médio. Ou seja, os 500 mil ingressos de “Getúlio”, de João Jardim, que em 2014 vendeu 500 mil ingressos. Mas não! “O Paciente” deve estacionar em um décimo de seu congênere.
Mais estatísticas desesperadoras: “10 Segundos para Vencer”, de José Alvarenga Jr, foi construído como filme interessado em dialogar com o público. Escalou elenco notável e optou por gramática clássica. Teve boa recepção no Festival de Gramado, de onde saiu com prêmios importantes (inclusive o de melhor ator para Osmar Prado). Nem assim, adiantou. Lançado em 269 salas, fez 20 mil espectadores em seu primeiro final de semana, com média baixíssima (73 ingressos por sala). No mesmo final de semana, foi lançado o drama sertanejo “Coração de Cowboy”, de Gui Pereira, que pretendia seguir as pegadas de “Dois Filhos de Francisco” (Breno Silveira, um “tanque” que vendeu 5,6 milhões de tíquetes, em 2005). O resultado do “Cowboy” foi pífio: lançado em 193 salas, vendeu 12 mil ingressos em quatro dias (média de 53 ingressos/sala). Os dados são do Boletim Filme B.
O autor do blockbuster “Bruna Surfistinha” (3 milhões de ingressos), Marcus Baldini, lançou, em 36 salas, a comédia “O Homem Perfeito”, protagonizada por Luana Piovanni, Sérgio Guizé e Marco Luque. Vendeu menos de 4 mil tíquetes em seu primeiro final de semana (média de 90 ingressos/sala).
A situação está tão ruim, que muitos diretores e distribuidores transferiram o lançamento de seus filmes para 2019. Caso de “Cine Holliúdy, a Chibata Sideral”, de Halder Gomes, de “Turma da Mônica – Laços”, de Daniel Rezende (em live-action), idem para “A Turma da Mônica”, em desenho animado, e para o terror “O Juízo”, escrito por Fernanda Torres e dirigido por Andrucha Waddington. Caso, também, de “De Pernas pro Ar 3” (os dois primeiros foram dirigidos pelo midas Roberto Santucci, mas este foi comandado por Júlia Rezende, filha da produtora Mariza Leão, criadora do argumento que deu origem ao bem-sucedido projeto).
Cacá Diegues transferiu o lançamento de “O Grande Circo Místico” do feriado de sete de setembro (Dia da Independência) para outro feriado (15 de novembro, dia da proclamação da República). Será que vai dar certo?
Como Diegues, há outros diretores que acreditam que, passado o período eleitoral, a situação vai melhorar. Tanto que já programaram seus filmes para estas onze últimas semanas do ano. O juvenil “Tudo por um Popstar”, de Bruno Garotti, a partir de best seller de Thalita Rebouças, está programado para o próximo dia 12.
“Legalize, Já! – A Amizade Nunca Morre”, de Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, vibrante narrativa sobre o início musical de Marcelo D2 (e da futura Planet Hemp, banda que sempre defendeu a liberação da maconha), chegará aos cinemas dia 18 de outubro.
Uma semana depois (dia 25) será a vez de “Chacrinha, o Velho Guerreiro”, de Andrucha Waddington, com Stepan Nercessian balançando a pança e jogando bacalhau para a plateia, enquanto as chacretes dançam e os calouros desafinam.
No dia primeiro de novembro, dois brasileiros tentarão reverter a maré negativa. “Sai de Baixo, o Filme”, de Cris D’Amato, que recria o popular seriado televisivo de Miguel Fallabella, o Caco Antibes. O autor-ator lidera o elenco. E “O Doutrinador”, de Gustavo Bonafé (o mesmo de “Legalize, Já!”), baseado em história em quadrinho, chega com pinta de filme de ação.
Na semana seguinte, André Pellez lança “Tudo Acaba em Festa”, comédia sobre uma farra de final de ano, que se pretende de arromba, com Marcos Veras, Rosanne Mulholland, Giovanna Lancellotti e Nélson Freitas.
No feriado do dia 15 de novembro, além de “O Grande Circo Místico”, coprodução entre Brasil, Portugal e França, serão lançados dois filmes argentino-brasileiros, protagonizados por atores de expressão portuguesa: “Vergel”, de Kris Niklison (com Camila Morgado tão louca quanto Carmen Maura no almodovariano “Uma Mulher à Beira de um Ataque de Nervos”), e “Sueño Florianópolis”, de Ana Katz, com Marco Ricca e Andrea Beltrão.
No dia 22 de novembro, devem estrear um filme de suspense (“O Segredo de Davi”, de Diego Freitas) e cinco filmes de arte (dois ficcionais e três documentais). “Sequestro Relâmpago”, de Tata Amaral (com Marina Ruy Barbosa, Sidney Santiago e João Signorelli), e “A Voz do Silêncio”, de André Ristum (com este filme, ele foi eleito o melhor diretor no Festival de Gramado). Em seu elenco, estão Marieta Severo, Marat Descartes, Arlindo Lopes, Claudio Jaborandy e Nicola Siri.
Um dos longas documentais – “Excelentíssimos”, de Douglas Duarte – é realmente longuíssimo (158 minutos) e registra o Parlamento brasileiro e o processo de impeachment de Dilma Roussef. Já “Slam, a Voz do Levante”, de Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D’Alva, sagrou-se vencedor do FIFF (Festival Internacional do Filme Feminino). O terceiro título é curioso: “O Fantástico Patinho Feio”, de Denilson Félix. Ninguém pense tratar-se de documentário infantil. O “patinho feio” é um carro de corrida construído, em Brasília, por jovens apaixonados por automóveis. O protótipo, feito de sucata, correu as 500 Milhas de Brasília, anos anos 1970.
Dia 29 de novembro, Erasmo Carlos, que foi ator em “Paraíso Perdido”, de Monique Gardenberg (perto de 30 mil ingressos) será o personagem central de “Minha Fama de Mau”, de Lui Farias. Mas o Tremendão chegará aos cinemas na pele do belo, jovem e talentoso Chay Suede. Afinal, o filme optou pelos primeiros anos do astro da Jovem Guarda. No mesmo dia, estreia “De Novo Não”, de Pedro Amorim (que ano passado comandou o divertido “Divórcio”). O filme tem uma das rainhas da internet, Kéfera Buchmann, como estrela, ao lado do fogoió João Cortês e de Giovanna Lancellotti. No mesmo dia, estreia o “Hassum movie” “Chorar de Rir”.
Para seis de dezembro, estão previstos três filmes de arte: “O Olho e a Faca”, terceiro longa de Paulo Sacramento, filmado numa plataforma petrolífera, “Tinta Bruta”, dos gaúchos Felipe Matzembach e Mauro Reolon, e “Beijo no Asfalto”, estreia do ator Murilo Benício na direção.
Dia 13, mais dois filmes de perfil, digamos, médio: “Intimidade entre Estranhos”, de José Alvarenga Jr (com Rafaela Mandeli, Milhem Cortaz e Gabriel Corrente) e “Meu Mundial”, coprodução uruguaio-brasileira, com o adolescente Facundo Campelo e os adultos Nestor Guzzini, Cesar Troncoso, Veronica Perrota (todos uruguaios) e os brasileiros Roney Vilela e Fernando Muniz.
Nos dois últimos finais de semana de dezembro, estreiam “Detetives do Prédio Azul 2 – O Mistério Italiano” (dia 20), baseado em série infantil do Canal Gloob (o primeiro vendeu mais de 1,2 milhão de ingressos), e a comédia feminina “Minha Vida em Marte”, de Suzana Garcia.
Há outros lançamentos de menor fôlego anunciados para as próximas semanas: “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, épico regional de Tabajara Ruas (25 de outubro), “ Todas as Canções de Amor”, de Joana Mariani (duas histórias de amor embaladas por canções populares), “Homem Livre”, de Álvaro Furloni, “A Tecnologia Social”, de Patricia Innocenti (todos dia 8 de dezembro), e “Filme Paisagem – Um Olhar sobre Roberto Burle Marx”, de João Vargas (cujo lançamento foi programado para 15 de novembro).
Sempre que se pergunta a um diretor, produtor ou distribuidor brasileiro por que não adia, para 2019, seu lançamento comercial, ele responde: “e quem garante que a situação estará melhor ano que vem? E que haverá boa data e bom número de salas disponíveis para o lançamento adiado? Afinal” – arrematam – “a safra 2019 vem aí com uma média de 130 novas produções brasileiras.”
Por Maria do Rosário Caetano
Ir ao cinema hoje está muito caro. Eu sempre conferia os filmes nacionais, pagando o valor cheio, hoje já não é mais possível, além de toda a locomoção, o ingresso está muito caro.
Todo o setor do audiovisual brasileiro defende a ESQUERDA no espectro político, isso está influenciando nas bilheterias! Ninguém quer sustentar militante de esquerda!