Philippe Garrel em grande retrospectiva
Um dos mais importantes cineastas franceses tributários da Nouvelle Vague, Philippe Garrel terá uma grande retrospectiva de sua obra, apresentada no CCBB Rio de Janeiro, de 17 de outubro a 5 de novembro, que depois segue para Brasília, de 30 de outubro a 18 de novembro. Serão exibidos 24 filmes realizados por Garrel, desde o seu primeiro curta, Os Jovens Desajustados (1964), até o seu último longa metragem, Amante por um Dia (2017), a maioria deles em cópias 35mm, formato ao qual o cineasta sempre se mateve fiel. Completando a mostra, serão apresentados filmes de Andy Warhol, Screen Tests (1964) e Imitação de Cristo (1966), e de Jean Eustache, A Mãe e a Puta (1973) e O Papai Noel Tem os Olhos Azuis (1966) – artistas com os quais Garrel dialogou em seu cinema –, além de Home Movie sobre O Leito da Virgem de Philippe Garrel (1968), um making of feito por seu amigo Frédéric Pardo.
Em 53 anos de carreira, o francês Philipe Garrel, nascido em Paris, em 1948, construiu uma obra vigorosa que aborda a experiência da juventude de Maio de 1968 e seus desdobramentos. Produtor, roteirista, editor, diretor e, ainda, ator em alguns de seus filmes e de outros cineastas, Garrel é pouco conhecido do público brasileiro apesar de ter sido premiado diversas vezes no Festival de Veneza, com filmes como Os Amantes Constantes (Leão de Prata, 2005) e Inocência Selvagem (Prêmio FIPRESCI, 2001), e participado de outros grandes festivais, como o de Cannes. A mostra O Cinema Interior de Philippe Garrel é uma oportunidade única para o público conhecer profundamente a sua obra. Além dos filmes, quem juntar cinco ingressos rebeberá um catálogo editado pelos curadores com a tradução de textos essenciais sobre a obra do cineasta, acrescidos de outros inéditos e de uma filmografia completa.
Philippe Garrel pelos curadores Maria Chiaretti e Mateus Araújo
Ao captar os discursos e os gestos dos jovens que protagonizariam 1968, o primeiro longa de Garrel, Marie pela Memória (Marie pour Mémoire, 1967) ao lado de A Chinesa (La Chinoise, Jean-Luc Godard, 1967) é tido como um filme precursor das revoltas de maio daquele ano. Os episódios da vida de Garrel inspiram a maioria de seus filmes que figuram frequentemente suas relações mais íntimas, seja com a cantora Nico (vocalista do Velvet Underground), com quem atravessa os duros anos pós-1968, seja com suas atrizes-colaboradoras (Zouzou, Jean Seberg) ou sua família (pai, companheiras, filhos).
Na virada dos anos 1960 para os 1970, ao lado de Nico e de amigos, como Zouzou, Tina Aumont, Bernardette Lafont, Frédéric Pardo e Pierre Clementi, Garrel cria uma espécie de colaboração que resulta em filmes quase artesanais, como O Revelador (Le Révélateur, 1968), O Leito da Virgem (Le Lit de la Vierge, 1969) e A Cicatriz Interior (La Cicatrice Intérieure, 1972). Fruto da ressaca pós-1968, os filmes anunciaram os impasses vividos pelos jovens franceses daquela época: autodestruição, falta de perspectiva, alienação, loucura e memória das atrocidades da guerra. Nos anos seguintes, suas musas terão um tratamento fantasmagórico, mas é a França que desaparecerá de seus filmes. Exilado no seu próprio interior, Garrel cria obras únicas sem roteiros ou diálogos. Tomando o rosto de suas atrizes como um território virgem, o cineasta nos presenteia com Altas Solidões (Les Hautes Solitudes, 1974) e O Berço de Cristal (Le Berceau de Cristal, 1975).
Após um hiato de quatro anos, A Criança Secreta (L’Enfant Secret, 1979) inaugura um novo período. O cinema de Garrel ganha agora um caráter mais narrativo. Se, nos anos 1970, a autobiografia era vivida literalmente no interior dos filmes, nos anos 1980, trata-se de encenar o que foi vivido e de se confrontar com o passado, com seus fantasmas, com tudo o que assombra o presente. Em Liberdade, a Noite (Liberté, la Nuit, 1983) e Rua Fontaine (Rue Fontaine, 1984), episódio de Paris Vista por… Vinte Anos Depois (Paris Vu par… 20 Ans Après, 1984), seus filmes seguintes, a questão da autobiografia continua central, mas sua encenação é delegada aos atores e formalizada narrativamente. Beijos de Emergência (Les Baisers de Secours, 1989) é o primeiro filme em que o cineasta conta com a colaboração de um roteirista-dialogista – no caso, Marc Cholodenko, que o acompanhará até recentemente. De lá pra cá, as vicissitudes da relação amorosa dão a tônica do seu cinema, que se concentra na intimidade dos personagens, mas filtra a seu modo o espectro de uma Europa exausta. A atenção ao jogo do ator, a fotografia em preto e branco e um senso obstinado da beleza são marcas de um cineasta que manteve ao longo de cinco décadas de trabalho uma fidelidade intransigente aos seus princípios estéticos.
Debate e sessão inclusiva com entrada franca (RJ)
A mostra promove uma sessão inclusiva, no dia 29 de novembro (segunda), às 17h30, do mais recente filme de Philipe Garrel, Amante por um Dia (L’Amant d’un Jour, 2017), com audiodescrição e closed caption. A entrada é franca e as senhas serão distribuídas uma hora antes do início da sessão.
E, na quinta-feira, 1º de novembro, logo após a exibição de Beijos de Emergência (Les Baisers de Secours,1989), será realizado, às 19h40, um debate, também gratuito, sobre a obra de Garrel com a participação dos curadores Maria Chiaretti, Mateus Araújo e do crítico e pesquisador Luiz Carlos de Oliveira Jr. O debate terá tradução simultânea para LIBRAS.
A programação completa da mostra pode ser conferida no site www.bb.com.br/cultura.
O Cinema Interior de Philippe Garrel (RJ)
Data: 17 de outubro a 5 de novembro
Local: CCBB RJ – Rua Primeiro de Março 66, Centro, (21) 3808-2020 – Salas de Cinema 1 (98 lugares)
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia entrada para todos)
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