Temporada de prêmios
De fevereiro a maio, a temporada de prêmios cinematográficos vive seu auge em diversos territórios, em especial nos EUA e Europa. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood distribuirá a mais cobiçada das estatuetas, o Oscar, dia 24 de fevereiro. Antes, serão entregues (dia 2 de fevereiro) o Goya de número 33, que este ano troca Madri por Sevilha e vai premiar os três discursos de agradecimento mais sintéticos. Oito dias depois (10 de fevereiro) serão entregues, em Londres, as estatuetas do Bafta 72, prêmio que carrega as iniciais da British Academy of Film and Television Arts – Academia Britânica de Artes do Cinema e TV. Trata-se da premiação que estabelece a mais sólida aproximação com a Academia de Hollywood.
A França, que fez do Festival de Cannes (71 edições) sua mais poderosa vitrine cinematográfica, demorou a criar sua Academia e os Prêmios Cesar. Este ano, Paris realizará sua edição de número 44 (dia 22 de fevereiro). Mesmo com menos da metade de edições do Oscar, a festa parisiense já fez história e motivou discussões acirradas (fratricidas) entre dois astros da Nouvelle Vague (François Truffaut x Jean-Luc Godard). O primeiro, premiado com o Cesar (por “Noite Americana” e, depois, “O Último Metrô”) e o segundo detonando o prêmio e os rumos tomados pelo cinema francês (e pelo diretor de “Os Incompreendidos”).
O David di Donatello 63, da Itália, será entregue em Roma, dia 27 de março. O prêmio peninsular só perde em longevidade para o Oscar estadunidense e o Bafta inglês.
Os Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano, edição número 6, serão entregues dia 12 de maio. O sucesso da quinta edição, realizada ano passado na ensolarada Riviera Maya, no México, foi tão grande, que, pela primeira vez, um cenário receberá bis. O México – registre-se – está vivendo temporada audiovisual especialíssima: o filme com mais chances, até agora, de triunfar na noite do Oscar tem DNA 100% mexicano: “Roma”, de Alfonso Cuarón. Além de ambientado em partes ricas (Colônia Roma) e pobres (bairros periféricos) da capital azteca, o filme é falado em espanhol (com alguns – poucos – diálogos em mizteca). A grana que o financiou vem da Participant Media (associada à Esperanto Filmoj, do próprio Cuarón) e da poderosa Netflix (sua distribuidora). Tudo indica que “Roma” dominará, também, a lista de indicados ao Ariel mexicano, que este ano realizará sua edição de número 61 . Registre-se que este é o único prêmio latino-americano – só perde em longevidade para o Oscar –, que este ano realizará sua edição número 91.
A Academia Mexicana de Cinema ainda não anunciou data de entrega dos prêmios Ariel, nem os finalistas. Além de “Roma”, pelo menos mais dois filmes, lançados nos festivais de Berlim, “Museu”, de Alonso Ruizpalácios (Urso de Prata de melhor roteiro), e Cannes, “Nuestro Tiempo”, de Carlos Reygadas, devem receber muitas indicações.
A Academia Italiana de Cinema também não revelou os finalistas ao David di Donatello, mas já fornece, no espaço digital, todos os filmes habilitados à competição. Dois deles encabeçam, por suas imensas qualidades, as listas de especulações: “Dogman”, de Matteo Garrone, e “Lazzaro Fellice”, de Alice Rohrwacher. Os protagonistas destes dois filmes – o magricela Marcello Fonte, melhor ator em Cannes, e o angelical Adriano Tardiollo – devem encabeçar a lista de candidatos a melhor intérprete masculino.
O brasileiro Otelo (homenagem ao ator Grande Otelo) luta, junto a patrocinadores, pela antecipação de sua data para o primeiro semestre. Ano passado, aconteceu em setembro. Este ano, a Academia Brasileira de Cinema planeja realizar a décima-oitava edição do Otelo em julho, no Rio de Janeiro (houve edições, nos primeiros anos, no Quitandinha, em Petrópolis).
Os espanhóis e os britânicos já anunciaram seus finalistas. E o Goya, além de contar com a bela cidade andaluza de Sevilha como cenário, traz novidade que deveria ser adotada por todos: um de seus patrocinadores, a LG, vai distribuir três prêmios entre os laureados que fizerem “os melhores e mais sintéticos” discursos. Ou seja, desestimulará aqueles que gostam de agradecer a pais, filhos e metade dos créditos técnicos do filme que o colocou no palco. Quem ganhará, na verdade, serão os ouvidos dos telespectadores (a festa será transmitida pela TV Espanhola).
Os candidatos a melhor filme espanhol, este ano, são “El Reino”, thriller político de Rodrigo Sorogoyen (13 indicações), “Campeones”, comédia de Javier Fesser (11 indicações), “Todos los Saben”, do iraniano Asghar Farhadi (8 indicações), produção 100% castelhana, com Javier Barden, Penelópe Cruz e Ricardo Darín encabeçando o elenco, “Carmen y Lola”, de Arantxa Echevarría (8 indicações), e “Entre Dos Águas”, de Isaki Lacuesta (só duas indicações: filme e direção).
Os astros Bardem e Penélope concorrem a melhor ator e atriz por seu trabalho no drama “Todos los Saben” (que abriu, hors concours, o Festival de Cannes, e será lançado, em breve, no Brasil, pela Paris Filmes). Na categoria filme estrangeiro, o Goya adota subdivisão que privilegia o cinema europeu e o cinema ibero-americano. Na primeira categoria, os indicados são o polonês “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowiki, o belga “Girl”, de Lukas Dhont, o britânico “ A Festa”, de Sally Potter, e a coprodução britânico-estadunidense “Trama Fantasma”, de Paul Thomaz Anderson (com o astro inglês Daniel Day-Lewis, nesta sua anunciada “despedida das telas”).
Na categoria ibero-americana, os concorrentes ao Goya são o mexicano “Roma”, de Afonso Cuarón, o uruguaio “A Noite de 12 Anos”, de Alvaro Brechner, o chileno “Los Perros”, de Marcela Saïd , e o argentino “El Angel”, de Luis Ortega.
O Bafta tem quatro categorias muito importantes: melhor filme (cinco títulos que geralmente integram a lista de finalistas ao Oscar), melhor filme britânico, melhor filme europeu e “estreia notável”. O ano britânico está bem servido por dois filmes: “A Favorita” (12 indicações), épico ambientado na realeza inglesa (quem produz filmes de reis melhor que o Reino Unido?) e “Bohemian Rhapsody” (sete), cinebiografia de Fred Mercury (sobre outro trunfo british: o rock’ nd roll e a Banda Queen). Olivia Colman, estrela de imenso talento premiada em Veneza, deve ser a grande rival de Glenn Close na disputa pelo Bafta e pelo Oscar.
Disputarão, em Londres, o Bafta de melhor filme: “A Favorita”, de Yorgos Lanthimos, “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, “Roma”, de Alfonso Cuarón, “Green Book”, de Peter Farelly, e “Nasce uma Estrela”, de Bradley Cooper. Na disputa de melhor filme britânico, “A Favorita” concorre com a cinebio de Fred Mercury, com “Você Nunca Esteve Realmente Aqui”, “Beast”, “McQueen” e “Stan & Ollie”.
Na categoria “Estreia Notável”, destaca-se o ótimo “Ray & Liz”, de Richard Billinghan (muito bem-recebido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo), que concorrerá com “Apostasy”, “Beast”, “A Cambodian Spring” e “Pili”.
Na lista de melhor filme estrangeiro do Bafta, um time realmente excepcional: “Assunto de Família”, do Japão, “Dogman”, da Itália, “Roma”, do México, “Guerra Fria”, da Polônia, e “Cafarnaum”, do Líbano.
A Academia de Artes e Técnicas do Cinema, que atribui o Cesar francês, divulgará seus finalistas no dia 23 deste mês, portanto, um dia depois dos finalistas ao Oscar. A Academia de Hollywood, a mais antiga e poderosa do mundo, está vivendo uma mais que significativa renovação. E, por isto, tornando-se mais cosmopolita. Se, este ano, premiar mesmo o mexicano “Roma”, será a primeira vez que um filme falado em outro idioma, que não o inglês, triunfará. “O Artista”, do francês Michel Hazanavicius, premiado em 2012, era mudo e ambientado no mundo imaginário-metalinguístico do cinema hollywoodiano. Já “Roma” fala a língua do país que Donald Trump quer isolar dos EUA (por uma grande muralha) e conta história 100% mexicana, protagonizada por mexicanos.
CALENDÁRIO:
Goya 33 (Espanha) – Dia 2 de fevereiro
Bafta 72 (Grã-Bretanha) – Dia 10 de fevereiro
Cesar 44 (França) – Dia 22 de fevereiro
Oscar 91 (EUA) – Dia 24 de fevereiro
Donatello 63 (Itália) – Dia 27 de março
Prêmios Platino 6 (Riviera Maya) – 12 de maio
Ariel 61 (México) – data a definir
Otelo 18 (Brasil) – data a definir
Por Maria do Rosário Caetano
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