Cancelamento da recepção da Embaixada será uma vitrine a menos no Festival de Berlim
Nesta semana, a Embaixada do Brasil em Berlim confirmou que o tradicional coquetel de recepção aos participantes do Festival Internacional de Cinema de Berlim foi cancelado, sem anunciar por quais razões, pelo menos até a data de publicação desta coluna. O encontro costumava reunir não apenas cineastas, produtores, distribuidores e agentes de vendas brasileiros, mas também os seus colegas estrangeiros, tentando reforçar laços culturais históricos e promover um ambiente que estimule novos projetos em conjunto.
Além de celebrar a seleção de filmes brasileiros na Berlinale (como o festival é conhecido mundialmente), até o ano passado, o evento demonstrava um aceno diplomático primordial para realçar o interesse do Brasil em levar o nosso cinema para o resto do mundo. Isso porque cada convidado internacional teria uma aproximação com os filmes e realizadores brasileiros que só festivais da envergadura de Berlim (e também de Cannes) podem propiciar. Portanto, independentemente de qualquer motivo extra-festival, o que também se perde é uma ótima oportunidade de se fazer bons negócios.
A recepção oficial da Embaixada funcionava como uma vitrine a mais para os filmes que lá estão sendo apresentados pela primeira vez aos olhos do mundo, ao lado de outros longas-metragens estrangeiros que também estão competindo por distribuidores e agentes de vendas para darem continuidade às suas carreiras internacionais. Nesse sentido, os eventos de networking promovidos pelas embaixadas e instituições cinematográficas de cada país são decisivos para que os produtores possam encontrar eventuais interessados em comprar e distribuir os seus filmes em outros territórios.
Muitos projetos de coprodução internacional nascem a partir dessas aproximações durante os festivais ou se fortalecem nessas ocasiões. Quando os coprodutores já estão em uma fase mais adiantada, eles aproveitam essas reuniões mais informais para avançar, apresentando novos talentos aos sócios e discutindo os rumos a serem tomados nos próximos meses ou anos.
Para os produtores brasileiros que cruzam o Atlântico e levam os seus projetos pela primeira vez aos mercados de coprodução que ocorrem na programação paralela da Berlinale – como o European Film Market e o Co-Production Market –, todas as ocasiões são valiosas para estreitar esses laços cinematográficos. E essa é a dinâmica internacional. Seja nos festivais de Berlim, Cannes, Veneza, San Sebastián, seja no American Film Market, que ocorre em Los Angeles, são os eventos de networking que oferecem essa abertura de negócios para os brasileiros.
Para além da promoção internacional exercida pelo Programa Cinema do Brasil nesses festivais e mercados – com patrocínio especialmente da Apex-Brasil – o apoio direto do Ministério das Relações Exteriores via Embaixada é sintomático nesse processo, uma vez que sinaliza ao mundo os rumos que se pretende dar para o cinema e o audiovisual brasileiros. E, em um cenário bastante competitivo no mercado cinematográfico internacional, todos os esforços são urgentes e imprescindíveis.
Por Belisa Figueiró, autora do livro “Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização”.
Muito triste a decisão desse governo que, deliberadamente, boicota nossa produção cultural. E as perspectivas não são nada boas.