Em busca de circuito exibidor
Por Maria do Rosário Caetano
O esperado duelo, nas telas brasileiras, entre o Bispo Macedo (e seu “Nada a Perder 2”) e o guerrilheiro Carlos Marighella (em “Marighella”) não acontecerá mais. Afinal, nenhum deles estreará neste primeiro semestre. Os dois lançamentos – programados inicialmente para abril – sofreram profundas alterações.
“Nada a Perder 2”, cinebiografia do líder da Igreja Universal, foi adiada para o dia 15 de agosto. E “Marighella”, dirigido por Wagner Moura e protagonizado por Seu Jorge, pode ficar para o início de 2020. A decisão ainda não foi tomada, mas a Revista de CINEMA apurou que diretor, produtor (Fernando Meirelles, da O2 Filmes) e distribuidores (Paris/Downtown, ou seja, Márcio Fraccaroli e Bruno Wainer) estão estudando a melhor hora de lançar o primeiro longa-metragem dirigido por Wagner. Não querem lançar o filme por lançar. Querem, isto sim, encontrar um bom circuito e preparar forte campanha de divulgação para que alcance bilheteria significativa.
Bruno Wainer, da Downtown, não pauta seu trabalho pela ansiedade, mas sim, pelo planejamento. Nesta quinta-feira, ele lança a comédia “Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral”, de Halder Gomes. Realista, não promete bilheteria na casa do milhão. “Ano difícil para o cinebrasil”, admite. Para, em seguida, ironizar: “nada novo no front”. Ou seja, já esperava por isto. Com a crise econômica, a classe C desapareceu dos cinemas e as comédias brasileiras, capazes de estabelecer bom diálogo com este segmento, viram suas bilheterias reduzirem-se.
O primeiro “Cine Holliúdy” atingiu 400 mil espectadores. O longa seguinte de Halder Gomes, “O Shaolin do Sertão”, passou dos 600 mil. E aí veio “Os Parças”, com Tom Cavalcante, Whindersson Nunes e Tirulipa, e o diretor cearense e seu distribuidor comemoraram a venda de mais de 1,5 milhão de ingressos. Isto porque o projeto “parceiro” ultrapassou os limites do Ceará. Ambientado em São Paulo e sem o sotaque “ô macho!”, o filme ampliou seu alcance. A parte dois de “Os Parças” está prevista para 8 de agosto, mas não tem Halder na direção (e sim Cris D’Amato).
Bruno Wainer, com sua ponderação costumeira, adianta: “espero que ‘Cine Holliúdy 2’ consolide Halder Gomes como rei do Ceará e de parte do Nordeste e venda como o primeiro filme, possivelmente um pouco mais”. Ou seja, ele está trabalhando com bilheteria média de 400 mil, quem sabe 500 mil espectadores.
Na atual conjuntura, Wainer acredita que “só têm chance de vender milhões de ingressos” filmes que sejam “continuações, franquias e marcas”. E, “assim mesmo, se tiverem qualidade”. E acrescenta: “os dois dramas que, em 2018, fizeram bilheteria razoável (“Bohemian Rhapsody” e “Nasce uma Estrela” ) são a exceção que confirma a regra”.
O distribuidor analisa o desempenho de comédias brasileiras lançadas recentemente. “Sai de Baixo, o Filme” (450 mil ingressos, em três semanas) – ironiza – “não vingou pelos seus próprios ‘méritos’, né? O público não é bobo”.
Para “Cinderela Pop” (380 mil espectadores em duas semanas), distribuído pela Disney/Galeria, Wainer esperava mais. “Achei que este filme iria bem mais longe”. Afinal, “comparado com ‘Tudo por um Pop Star’, o nível de produção mostrou-se semelhante e ambos são estrelados pela Maísa, do SBT”. Ao analisar os borderôs da “Cinderela Pop”, percebeu, porém, a falta de alguns elementos que enriqueciam “Pop Star”: “os comediantes Felipe Neto e João Guilherme, a presença da Globo Filmes, a autora Thalita Rebouças (que talvez hoje venda menos que Paula Pimenta, mas é vendedora há muito mais tempo)”. E, por fim, lembra que “a data de lançamento também foi ingrata e o filme ficou espremido entre o Carnaval e a ‘Capitã Marvel’”.
Para outra estreia prevista para esta quinta-feira, “Chorar de Rir”, de Toniko Melo, Bruno Wainer prevê “dificuldades”. Leandro Hassum, outrora o rei das bilheterias da comédia brasileira, não vive um bom momento. “Se quiser voltar a ser um vendedor de ingresso” – propõe –, “ele precisa de uma estratégia de carreira”. E uma “boa estratégia” – receita – “implica em voltar ao Brasil (hoje Hassum mora em Orlando, na Flórida), fazer teatro e, de preferência, ter um bom programa na TV”.
Para os lançamentos brasileiros do próximo mês (abril), Bruno Wainer faz quatro apostas. Três são de sua carteira, ou seja, da Downtown em parceria com a Paris: “De Pernas pro Ar 3”, de Júlia Rezende, produção de Mariza Leão, com Ingrid Guimarães, a rainha da comédia brasileira, “Os Parças 2”, com Tom Cavalcante e trupe de abilolados que fazem festas para bacanas fajutos, e “Nada a Perder 2”, de Alexandre Avancini. O distribuidor desmente a informação de que este filme teve sua estreia adiada para fugir da força avassaladora de “Os Vingadores – Ultimato” (dia 25 de abril). O blockbuster norte-americano deve ocupar, sozinho, quase metade do circuito brasileiro. “’Nada a Perder’ foi recolocado em agosto por atraso na finalização”. O leitor que tire sua própria conclusão.
“Kardec”, a cinebiografia do francês que estabeleceu a doutrina do espiritismo, estreia dia 16 de maio. O filme, dirigido por Wagner Assis e produzido por Leonardo Monteiro de Barros, será distribuído pela Sony. “Se o nicho espírita estiver mobilizado” – pondera Wainer –, “o sucesso estará garantido”.
Outro filme no qual estão depositadas boas esperanças de bilheteria é “Turma da Mônica, Laços”, do craque Daniel Rezende, montador de “Cidade de Deus” (por este trabalho, recebeu uma indicação ao Oscar). No segundo longa do diretor de “Bingo, o Rei das Manhãs”, atores dão vida aos personagens (“de ótimo potencial”) das revistinhas de Maurício de Souza. O lançamento está previsto para outubro. Com a antecipação de ‘Malévola’ para o mês das Crianças (estava agendado para maio de 2020), Bruno Wainer defende mudança de data. “Espero que Fraccaroli reveja seu cronograma e adie o lançamento para o fim do ano ou começo de 2020”.
E o midas da comédia brasileira, Paulo Gustavo? “Minha Mãe é uma Peça 3” estreará ainda em 2019 ou fica para 2020? Bruno Wainer só tem elogios para o comediante. E não é para menos: “Minha Mãe é uma Peça 2” passou de 9 milhões de espectadores, e “Minha Vida em Marte”, no qual ele contracena com Mônica Martelli, ultrapassou, e bem, os 5 milhões.
O comediante de Niterói tem, segundo Wainer, “perfeito domínio de sua carreira, trabalha incansavelmente na criação dos seus filmes, linha a linha, passo a passo, e também no lançamento”. E mais: “é um artista, cada vez mais, no auge da sua criatividade. Sorte minha ter enxergado e apostado nele antes de todos. Temos uma parceria sólida, que espero continue por muitos outros projetos que virão”.
O distribuidor diz que “Minha Mãe é uma Peça 3” está, sim, previsto para o final do ano” e que tem “certeza de que será um novo e enorme sucesso”.
Depois dos elogios ao comediante Paulo Gustavo, Bruno volta à realidade: “o resto da produção nacional programada para este ano é uma incógnita, como em todos os anos”. Para piorar, “essa é uma temporada de ouro para Hollywood, especialmente para a Disney/Marvel, com oito lançamentos, o que torna as datas disponíveis muito escassas”.
Bruno Wainer acredita que se as quatro apostas elencadas acima (“De Pernas pro Ar 3”, “Os Parças”, “Nada a Perder” e “Kardec”) forem positivas, teremos “chance de repetir 2018 em número de ingressos vendidos” (como “Minha Mãe É uma Peça 3” está previsto para 26 de dezembro, o grosso de sua bilheteria será computado em 2020). Mas Paulo Gustavo já deu sua contribuição pessoal: os milhões de ingressos de “Marte 2” fizeram deste filme um blockbuster, quatro vezes maior que a bilheteria do primeiro filme de Mônica Martelli, “Os Homens São de Marte” (em 2014, este filme estacionou na casa do milhão).
Por fim, Bruno Wainer provoca: “a questão que se coloca para o cinema brasileiro é que já temos histórico suficiente para debater, em alto nível, que indústria queremos e podemos ter. Devemos continuar a produzir dessa maneira, ou seja, nos parâmetros atuais?”. E arremata: “admito que é um difícil debate, pois as conclusões podem ser dolorosas”.
Ah, se depender da vontade de Bruno Wainer, “Marighella”, em cujo lançamento é força minoritária, “será transferido para 2020”.
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Absurdo o filme Marighella estrear só em 2020, ainda mais que será transmitido pela Globo ano que vem como minissérie. O governo está pressionando os exibidores ou eles estão se auto censurando? Há algo de podre no ar.
O filme tem grande apelo popular, merece ser exibido no maior número de salas possível.