Festival Sesc Melhores Filmes começa nesta quarta

Por Maria do Rosário Caetano

“Los Silencios”, segundo longa-metragem da cineasta Beatriz Seigner, será exibido para convidados, na noite desta quarta-feira, 10 de abril, na abertura da quadragésima-quinta edição do mais antigo festival de cinema de São Paulo: o Sesc Melhores Filmes (do ano).

Antes da exibição de “Los Silencios”, serão entregues prêmios aos melhores filmes brasileiros (em sete categorias) e estrangeiros (quatro), escolhidos pela crítica cinematográfica e pelo público.

A partir desta quinta-feira (e até primeiro de maio), em várias sessões diárias, o CineSesc exibirá filmes como os mexicanos “Roma”, o mais premiado da temporada em festivais internacionais, e “A Forma da Água”, Oscar 2018, o uruguaio “Uma Noite de Doze Anos” (sobre a prisão do futuro presidente José Mujica e colegas tupamaros), os black movies “Infiltrados na Klan”, de Spike Lee, e “Pantera Negra”, blockbuster que vendeu 9 milhões de ingressos no Brasil, o intrigante e inventivo “Um Lugar Silencioso”, de John Krasinski (com trabalho de som dos mais impressionantes), “Trama Fantasma”, de Paul Thomas Anderson (anunciado como filme de despedida de Daniel Day Lewis), o cult homoafetivo “Me Chame pelo seu Nome”, de Luca Guadagnino, entre outros. Um, merece destaque especial: “Visages, Villages”, de JR e Agnès Varda, a cineasta belgo-francesa, que morreu dias atrás, depois de vida intensa e nonagenária e de ter legado à cinefilia mundial filmes de primeira grandeza (caso de “Os Catadores e Eu”, “Os Renegados”, “Duas Faces da Felicidade” e “Panteras Negras”).

No segmento brasileiro, a safra vem marcada com forte presença feminina. Foram eleitos pela crítica e público filmes como “O Processo”, de Maria Augusta Ramos (documentário sobre o impeachment de Dilma Roussef), “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral de Almeida, “ As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas (parceria com Marco Dutra), Aos teus Olhos”, de Carolina Jabor, “Auto de Resistência”, de Natasha Neri (em parceria com Lula Carvalho), vencedor do Festival É Tudo Verdade 2018, “Praça Paris”, de Lúcia Murat, “Slam, a Voz do Levante”, de Tatiana Lohman e Roberta Estrela D’Alva, “Histórias que nosso Cinema (Não) Contava”, de Fernanda Pessoa, “Sequestro Relâmpago”, de Tata Amaral, “Café com Canela”, de Glenda Nicásio (parceria com Ari Rosa), e Chega de Fiu-Fiu, de Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão.

O time masculino também comparece com significativa representação. A começar por “Arábia”, de Afonso Uchoa e João Dumans, vencedor do Festival de Brasília 2017, “Benzinho”, de Gustavo Pizzi (que concentra em sua atriz e corroteirista Karine Teles sua força máxima), “Ex-Pajé”, de Luiz Bolognesi, “Beijo no Asfalto”, a elogiada estreia de Murilo Benício atrás das câmaras, “Yonlu”, o tocante híbrido de documentário e ficção, de Hique Montanari, “Antes do Fim”, de Cristiano Burlan, com Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet em parceria iluminada, “Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Felipe Matzembacher, vencedor do Teddy Bear no Festival de Berlim, “Canastra Suja”, de Caio Soh, e o terror, que fracassou nas bilheterias, “O Segredo de Davi”, de Diego Freitas.

Além de filmes contemporâneos, o 45º Festival Sesc Melhores Filmes vai mostrar, em seu núcleo histórico, seis filmes realizados nas décadas de 1970 e 80 (alguns deles restaurados em 4k, ou seja, em tecnologia de ponta). Caso do japonês “Ran”, épico de Akira Kurosawa, e do alemão “Asas do Desejo”, de Wim Wenders, que permaneceu mais de um ano em cartaz em São Paulo. De Bernardo Bertolucci, morto no ano passado, será exibido o épico “O Último Imperador” (em 3D). Trata-se, nunca é demais lembrar, de um dos filmes que nasceram para ser vistos em tela grande, tamanho o requinte de sua direção de arte (só encontrando páreo em “Ludwig”, de Luchino Visconti).

O simpático, embora polêmico, “Bagdá Café”, do germânico Percy Adlon, também será exibido no núcleo histórico. Vale registrar que a crítica e professora de cinema, Lúcia Nagib, viu neste filme um desejo higienizador. Afinal, uma rechonchuda alemã chega a um motel perdido em região desértica dos EUA, comandado precariamente por uma mulher negra. E resolve botar tudo na mais perfeita ordem (higienizar). Dois filmes brasileiros foram escalados para este segmento do Festival Sesc: “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, de Hector Babenco (em 4k), e “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues.

O núcleo reflexivo do festival contará com três encontros com cineastas brasileiros, cujos filmes estiverem na lista de vencedores do Prêmio Sesc. Haverá três edições do Cinema da Vela e seminário que reunirá, em duas mesas, críticos e estudiosos para refletir sobre o presente e o futuro do cinema brasileiro. A hora é mais que apropriada, já que as diversas categorias cinematográficas temem novo desmonte da indústria do audiovisual brasileiro, em moldes similares aos verificados na era Collor. Hoje, o país produz média de 150 filmes por ano. No começo dos anos 1990 (com a posse de Collor), a produção caiu a 5 ou 6 filmes anuais. Somando longas-metragens para cinema e conteúdo para a TV por assinatura, o segmento audiovisual emprega, hoje, 330 mil profissionais.

O Cinema da Vela, que acontece no hall do CineSesc, debaterá, enquanto a chama estiver acesa, “Restauração e Memória” (dia 16), “Representatividade no Cinema de Herói” (dia 23) e “Cinema Pós-Terror” (dia 30). Este último debate encontrará, nos filmes selecionados para o festival, significativa matéria-prima. Tanto brasileira, quanto estrangeira.

Nas paredes do hall do CineSesc estarão expostas colagens cinemagéticas, criadas pela artista plástica Rochelle Costi, que as realizou a partir de cartazes dos filmes selecionados.

Para a criançada, o festival selecionou três animações de grande sucesso: “Viva: A Vida é uma Festa”, premiado com o Oscar, em 2017, “Touro Ferdinando”, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, e “Os Incríveis 2”, dos estúdios Pixar. A Pixar é responsável, também, por “Viva”, o fascinante e mágico mergulho na cultura mexicana, que comemora o Dia dos Mortos com muita festa, máscaras, doces em forma de caveiras e bebidas.

Em “Los Silencios”, Beatriz Seigner, diretora de “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano”, conta a história de Amparo (Marleyda Soto), que foge com seus filhos pequenos do conflito armado na Colômbia, até encontrar o pai (desaparecido) das crianças (interpretado pelo brasileiro Enrique Diaz). O encontro se dará em ilha fluvial amazônica, povoada por fantasmas. O cenário é muito especial, por situar-se justo na tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil. O filme, uma coprodução entre Brasil, Colômbia e França, mistura drama social com elementos mágicos, dialogando, em certos momentos, com o cinema do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

 

45º Festival Sesc Melhores Filmes
Data: até dia 1 de maio
Local: CineSesc, em diversos horários vespertino e noturnos. Haverá programação matutina, aos domingos, para público infanto-juvenil. Com exibição de 42 filmes (22 estrangeiros e 20 brasileiros), selecionados pela crítica e pelo público. No núcleo reflexivo, três edições do “Cinema da Vela”, três Encontros com Cineastas Brasileiros, e dois debates com críticos.

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