Documentário sobre usuários de crack vence o Olhar de Cinema
Por Maria do Rosário Caetano, de Curitiba
Pela primeira vez, em oito anos de história do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, o Brasil conquistou o prêmio principal. O melhor filme foi o documentário paulistano “Diga a Ela que me Viu Chorar”, de Maíra Bühler, duro registro do cotidiano de usuários de crack abrigados em hotel-parque, no centro de São Paulo, durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad. O projeto foi desmontado pela gestão seguinte, mas as imagens colhidas pela equipe da cineasta, ao longo de um ano (2016), causaram fundo impacto junto ao júri, formado pela cineasta portuguesa Rita Azevedo Gomes, pelo curador cubano Alberto Ramos e pela brasileira Flávia Cândida.
Se, nas sete edições anteriores, o Brasil recebeu prêmios secundários, desta fez nossa produção fez barba cabelo e bigode. Ganhou quatro prêmios importantes. Todos com filmes documentais. E todos dirigidos por mulheres. Além da vencedora, Maíra Bühler, foram premiadas Camila Freitas, por “Chão”, sobre acampamento de trabalhadores Sem-Terra em Goiás (melhor filme pelo júri popular e Prêmio Especial do júri oficial), Letícia Simões, por “Casa”, registro de afetos e desafetos de três gerações de mulheres (uma avó nonagenária, uma mãe sexagenária e uma filha, a própria cineasta, de 30 anos), o escolhido da Crítica, e Eliza Capai, por “Espero tua (Re)Volta”, que mostra o Brasil das Jornadas de Junho de 2013 até a eleição de Bolsonaro visto por três estudantes secundaristas. Foi escolhido como o melhor filme brasileiro de duas competições paralelas (Novos Olhares e Outros Olhares).
A representação estrangeira, uma das mais fortes já mostradas pelo Olhar de Cinema (destaque e louvores para o espanhol “Entre Dos Águas”, o indiano “Levando Doces ao Cavalo”, o chinês “No Alto da Montanha”, e o mexicano “Família da Madrugada”) foram ignorados pelos diversos júris.
Depois da enxuta e singela festa de entrega dos prêmios — o agradecimento mais efusivo foi o de Camila Freitas e quatro representantes do MST integrados à produção do filme, que e subiram ao palco com a bandeira do “maior movimento social organizado do país” —, o Festival de Curitiba exibiu o longa-metragem argentino (coprodução com o Brasil) “Breve História do Planeta Verde”, de Santiago Loza. Trata-se de curiosa ficção premiada com o Teddy Bear, em Berlim (melhor filme LGBT), protagonizada por trinca de amigos (uma transexual, um rapaz e uma jovem tristes) em viagem pelo interior do país platino. Além de deparar-se com humanos de tipos os mais diversos, ele farão contato com um ser alienígena.
Antônio Júnior, diretor do Olhar de Cinema, apresentou balanço positivo desta oitava edição que enfrentou a crise “com ousadia e muitos parceiros comerciais”. Ao invés de nos retrairmos, garantiu, “ampliamos o alcance do festival realizando dez mostras, o maior número em oito anos, e fizemos o mesmo com o número de salas de exibição, que foram de cinco para oito”. E mais: “promovemos muitos debates, seminários e um grande Encontro de Cinema”. O saldo, anunciou, “foi dos mais positivos, pois o público, que aumentou, esteve nos espaços tradicionais (o Itaú Crystal e Cinépolis Batel, e também nas novas e belas salas do Cine Passeio, a maior e melhor novidade do circuito de exibição de filmes de arte em Curitiba). Ele encerrou a noite dos premiados convidando “o público e os patrocinadores a somarem forças, em 2020, para que se possa realizar edição tão bem-sucedida quanto a deste ano”.
Confira os vencedores:
. “Diga a Ela que me Viu Chorar” (Brasil) – melhor filme pelo júri oficial
. “Chão”, de Camila Freitas (Brasil) – melhor filme pelo júri popular, Prêmio Especial do júri oficial
. “Casa”, de Letícia Simões (Brasil) – Prêmio da Crítica (Abraccine)
. “Espero tua (Re)Volta”, de Eliza Capai (Brasil) – melhor filme brasileiro das Mostras Novos Olhares e Outros Olhares
. “Seguir Filmando”, de Saeed Al Batal & Ghiath Ayoub (Síria/França) – melhor contribuição artística
. “Aziza”, de Soudade Kaadan (Síria/Líbano) – melhor curta da competição internacional
. “Sete Anos em Maio”, de Affonso Uchoa (Brasil) – menção honrosa de curta/média-metragem
. “No Salão de Jolie”, de Rosine Mbakam (Bégica/Camarões) – melhor longa da Mostra Outros Olhares
. “Não Pense que Eu Vou Gritar”, de Frank Beauvais (França) – melhor longa da Mostra Novos Olhares
. “Indianara”, de Aude Chevalier-Beaumel & Marcelo Barbosa (Brasil) – menção honrosa na Mostra Outros Olhares
. “Quebramar”, de Cris Lyra (Brasil) – melhor curta da Mostra Novos Olhares
. “Mirror Mirror on the Wall”, de Igor Urban – melhor filme da Mostra Mirada Paranaense
. “Essa Terra Não Vai Terminar”, de Matias della Stella – menção honrosa (Mirada Paranaense)
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