Festival de Cinema Judaico apresenta 33 filmes de 11 países
De 3 a 14 de agosto, a Hebraica realiza o 23º Festival de Cinema Judaico de São Paulo, e traz à capital paulista 33 produções premiadas e apresentadas em diversos festivais internacionais. O Clube Hebraica é responsável por idealizar e organizar o evento desde 1996 e hoje celebra seu reconhecimento no cenário cultural da cidade pela comunidade e público em geral.
O programa deste ano inclui longas-metragens de ficção, documentários e curtas-metragens, que serão exibidos no Teatro Arthur Rubinstein na Hebraica, no Sesc Bom Retiro, no Instituto Moreira Salles (IMS) e no Museu da Imagem e Som (MIS). As quatro salas terão ingressos a partir de R$ 4,00. Uma parceria com o Instituto Goethe traz ainda uma homenagem especial ao cinema alemão com a exibição de filmes dirigidos por Christian Petzold: Fênix e Em Trânsito.
A grande novidade deste ano é pré-abertura do festival, no dia 3/08 (sábado), em um evento voltado para o público jovem. Na ocasião, serão exibidos três importantes curtas-metragens: 1.000 Beijos, The Chop e o renomado Skin, vencedor do Oscar de melhor filme desta categoria em 2019. Na sequência, o público poderá desfrutar de um open bar de cerveja com aperitivos. O encontro acontece às 22h30, no Clube Hebraica, e tem como objetivo fomentar a discussão sobre a importância das salas de cinema em um período em que o streaming tem atraído cada vez mais a atenção das pessoas.
A abertura oficial do festival acontece no dia 4 de agosto, com a exibição do emocionante e dramático documentário Quem Vai Escrever nossa História? Já nos dias subsequentes, o público poderá conferir filmes como recém-restaurado Cidade sem Judeus, longa que estreou em 1924 e esteve desaparecido por quase 90 anos, tendo uma cópia encontrada em um mercado de pulgas de Paris, em 2015. A incrível história pode ser encarada como uma assustadora premonição do Holocausto – uma vez que a premissa é a expulsão de todos os judeus da cidade como solução de uma crise. Baseado no livro distópico de Hugo Bettauer e originalmente concebido como sátira política, tornou-se objeto de controvérsia e censura, especialmente em conjunto com a ascensão do nazismo.
Outras histórias que valem a pena ser conferidas e que trazem um olhar diferente para temáticas já conhecidas são A História de um Cão, que retrata a bonita trajetória de amizade de um menino e um cão durante a Segunda Guerra Mundial, bem como Tel Aviv on Fire, que traz como protagonista o palestino Salam, que, sem perspectivas, vai trabalhar em uma telenovela popular entre israelenses e palestinos. Salam se esforça para tramar reviravoltas buscando atender aos espectadores de ambos os lados. O que não é nada fácil.
Os amantes da sétima arte ainda poderão conferir a última atuação do premiado ator suíço Bruno Ganz, no filme A Tabacaria (2018), de Nikolaus Leytner. Ganz, que faleceu em fevereiro de 2019, interpreta o psicanalista Sigmund Freud no filme baseado no best-seller internacional “The Tobacconist”, escrito por Robert Seethaler, que com a história sobre um jovem e sua amizade com Freud, durante a ocupação nazista de Viena.
Nesta edição do festival, as mulheres seguem muito bem representadas em obras que destacam o seu papel de liderança em vários momentos da história. Dirigido por Scott Schwartz, o premiado Golda em Cena, relata a ascensão de Golda Meir, de seu nascimento na Rússia, a migração com a família para os EUA à líder política, sendo uma das fundadoras e quarta primeira-ministra do Estado de Israel. No filme, sua vida é transformada em um evento cinematográfico de poder esmagador e triunfo inspirador, graças também ao trabalho da atriz Tovah Feldshuh, que se reinventa no papel da líder política.
A programação traz ainda outros fortes personagens femininos, é o caso do documentário 93 Queen, no qual um grupo de mulheres ortodoxas desafia o status quo de sua comunidade patriarcal para criar o primeiro serviço de ambulância só de mulheres de Nova York. No centro desse enredo, está a advogada e mãe de seis, Rachel Freier, que quer criar um serviço voluntário alternativo para oferecer atendimento médico de emergência a mulheres hassídicas, respeitando suas crenças religiosas. Em um cabo de guerra ideológico, os religiosos temem um cavalo de Troia de ideias feministas radicais.
Dentro do espectro musical, está a produção alemã It Must Schwing!, com direção de Eric Friedler, que mostra a incrível história de dois imigrantes judeus (Alfred Lion e Francis Wolff), que, em 1939, fundaram a lendária gravadora de jazz Blue Note Records, em Nova York. A gravadora se dedicava, exclusivamente, à gravação da música jazz americana e desenvolveu seu próprio estilo e som de gravação inconfundíveis. A Blue Note Records descobriu e produziu uma impressionante lista de estrelas internacionais do jazz. Isso incluiu Miles Davis, Herbie Hancock, John Coltrane, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Thelonious Monk e Quincy Jones. Numa época em que os músicos afro-americanos nos EUA eram discriminados e colocados no ostracismo, Blue Note os respeitava como artistas e iguais.
Ainda com a música como pano de fundo, está o filme-concerto Os Mortos Cantam Novamente, com direção de Judit Elek. Vivendo e trabalhando na Transilvânia, o compositor, musicólogo e educador Mihály Miksa Eisikovits foi uma figura importante na vida cultural da Romênia. No final dos anos 1930, Eisikovits notou as melodias cantadas pelos judeus hassídicos e, sem qualquer auxílio técnico ou conhecimento de hebraico, iídiche ou aramaico, ele usou a transcrição fonética para gravar as letras. Fiel à música que foi anotada e agora é decodificada, “The Dead Sing Again” traz à vida o mundo no qual Eisikovits foi uma das últimas testemunhas.
Outro destaque da categoria é O Violinista, de 2019, que conta a história da origem por trás de um dos musicais mais amados da Broadway e suas raízes criativas no início dos anos 1960 em Nova York, quando a “tradição” estava em declínio. Pela primeira vez, entrevistas com os criadores da peça revelam como o tremendo sucesso e impacto mundial do Fiddler e sua subsequente adaptação cinematográfica é mais apropriadamente vista através da lente da agitação social na América do meio do século XX.
Os filmes brasileiros também ganham um lugar especial no festival. Um deles é o documentário Alma Imoral, que reflete sobre os conceitos de corpo e alma, tradição e transcendência, obediência e ruptura, através do livro “A Alma Imoral”, de autoria do rabino Nilton Bonder. O filme questiona o que acontece quando o “corpo moral” – normalmente apontado como instrumento importante para a preservação da espécie humana – se torna estreito e passa a ser um obstáculo ao futuro da humanidade. A direção é de Sylvio Tendler.
O futebol não poderia ficar de fora e é fio condutor do tocante De Volta ao Maracanã, onde um avô, um pai e um filho viajam de Israel para o Brasil, terra natal do avô, para assistir aos jogos do Mundial. A viagem, apesar de vibrante e cheia de energia, é também turbulenta. Durante a jornada, surgem obstáculos que ameaçam destruir os sonhos da família. Aos poucos, eles vão descobrindo a complexidade das relações entre pai e filho, o carinho necessário para cultivá-las e a facilidade assustadora de destruí-las.
Já o cinema israelense fica em evidência com grandes cineastas premiados, com Avi Nesser, de Outra História, e Ran Tal, com O Museu. Não é possível deixar de fora dessa lista o marcante Não Ortodoxo, filme de abertura do Festival de Jerusalém deste ano, no qual um viúvo, sem dinheiro e sem conexões, é incitado a agir quando sua filha é expulsa de uma prestigiada escola religiosa apenas por não ser ashkenazi (judeus oriundos da Europa). Alimentado por muita força de vontade e por um sentimento de equidade, Yaakov e seus amigos se unem para formar um partido ortodoxo que represente o grupo dos Sefaradim (judeus oriundos da Península Ibérica). Um desafio ao establishment que mudou a cena política de Israel. Com base em eventos reais, o filme mostra os bastidores do ativismo e da política com suspense e muito humor.
A programação completa de filmes e horários está disponível no site http://www.ahebraica.org.br/festival-de-cinema-judaico.
23º Festival de Cinema Judaico de São Paulo
Data: 3 a 14 de agosto
Locais: Sala Hebraica – Rua Hungria, 1000 – Pinheiros – Ingresso à venda (somente para as sessões deste teatro) na Central de Atendimento ou na Ticketfácil (www.ticketfacil.com.br) / MIS – Museu da Imagem e Som – Av. Europa, 158 – Ingressos pelo site www.mis-sp.org.br / IMS – Instituto Moreira Salles – Av.Paulista, 02424 – Bela Vista – Ingressos pelo site www.ims.com.br / Sesc Bom Retiro – Al. Nothmann, 185 – Bom Retiro – Ingressos pelo site www.sescsp.org.br.