Gauchão entrega prêmios aos melhores curtas em festa transmitida ao vivo pela TV Assembleia
Por Maria do Rosário Caetano, de Gramado (RS)
A festa de entrega dos prêmios aos melhores curtas-metragens do Rio Grande do Sul, competição promovida pela Assembleia Legislativa do Estado e pelo Festival de Gramado, consagrou a animação “Só Sei que Foi Assim”, de Giovanna Muzel, aluna da Universidade Federal de Pelotas. O filme conquistou o Troféu Assembleia (entregue pela deputada Juliana Brizola) e cheque no valor de R$8 mil, além do reconhecimento da Crítica, representada por júri da ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul).
A festa dos Troféus Assembleia foi das mais animadas e prestigiadas (pelos atores Thiago Lacerda, Tayla Ayala e Murilo Rosa, que entregaram prêmios). E teve trilha sonora ao vivo, com a música bem-humorada e contagiante do Trio Nikolaievsky (ou Grupo Niko Tributo). Tudo com transmissão ao vivo pela TV Assembleia.
Os jovens realizadores premiados vibraram com o reconhecimento. A diretora e roteirista Juh Balhego ficou tão feliz com seu primeiro prêmio (ver lista abaixo) que pulou nos braços do ator Murilo Rosa. Apesar da surpresa, Murilo conseguiu manter-se de pé. Quando ela recebeu o segundo prêmio, de melhor roteiro, a atriz Tayla Ayala brincou, bancando a forte e insinuando que poderia aguentar (anteparar) o pulo da gaúcha. Balhego, um pouquinho mais contida, só abraçou calorosamente a atriz. E justificou sua alegria. “É a primeira vez que o Gauchão (nome popular do Prêmio Assembleia) premia uma roteirista negra. Estou muito feliz”.
Houve agradecimentos com conteúdo profissional e outros bem politizados. Nesta categoria, destacaram-se a atriz Janaína Kremer (de vários filmes de Jorge Furtado), que hoje, além de atuar, é professora universitária. Ela reafirmou “a necessidade de todos lutarem em defesa da universidade pública”, criticou o governo atual “por seu desprezo pela arte e pela cultura” e evocou o ex-governador Olívio Dutra, que criou a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde ela exerce o magistério. Depois, avisou que estava feliz em receber, além do troféu, prêmio em dinheiro. “Cadê meu cheque?”, brincou. Depois, convocou a turma do filme “Sonata”, que lhe rendeu a láurea, a tomar um trago. “Hoje”— prometeu — “vou dar uma de Francis McDormand que, ao receber o Oscar (por “Três Anúncios de um Crime”) avisou que ia pagar uma tequila para todos”.
Ausente da festa por estar fazendo doutorado na Europa, o cineasta (e professor) Boca Migotto, eleito o melhor diretor por “Dia de Mudança”, pediu a seu representante que “convocasse a todos os presentes a lutar e resistir a este momento obscurantista”. Momento de “incompreensão da importância simbólica e fonte criadora de empregos que é o audiovisual brasileiro”.
Os apresentadores da festa, os gaúchos Marla Martins e Roger Lerina, deram um show de simpatia e sintonia com os artistas premiados. Roger até avisou, quando o telão do Palácio dos Festivais apresentou imagens de manifestação de cineastas “Pela Cultura! Contra a Censura!”, ocorrida no começo da noite: “vejam como o Festival de Gramado é democrático. Ao mostrar esta manifestação, comprovamos que o Tapete Vermelho não é palco só de badalação”. Os aplausos soaram calorosos.
O Trio Niko Tributo fez participação na medida certa. Sua pontuação musical era oportuna e divertidíssima e eles brincaram com o apelido do perfeito de Gramado, que subiu ao palco para entregar um prêmio. João Alfredo de Castillos Bertolucci, o Fedoca, foi saudado, na maior sem cerimônia, na base do “Fê, fê, fedoca”. Thiago Lacerda, que subiu ao palco com um vistoso poncho pampeano, também ganhou estribilho musical personalizado pelos instrumentistas-cantores.
O júri — formado com Amaranta César, Antônio Júnior, Carla Osório, Cínthia Domit e Rodrigo de Oliveira — justificou a premiação de “Só Sei que Foi Assim” por suas “qualidades artísticas e por ser produção gerada por uma universidade pública”, no momento em que estas instituições são desprestigiadas pelo governo federal”.
Confira os vencedores:
. “Só Sei que Foi Assim”, de Giovanna Muzel — melhor curta pelo juri oficial e Prêmio da Crítica
. “Dia de Mudança” – melhor diretor (Boca Migotto), melhor fotografia (Pedro Clezar)
. “Sonata” – melhor atriz (Janaína Kremer)
. “É Assim que Você se Paresse” – melhor ator (Clemente Viscaíno)
. “Quero Ir para Los Angeles”— melhor produção-executiva (Juh Balhego e Daniela Israel), melhor roteirista (Juh Balhego)
. “Who’s That Man Inside my House”?” – melhor montagem (Lucas Reis), melhor direção de arte (Thai Ribeiro)
. “Kerexu” – melhor trilha sonora (Antônia Garai Kerexu)
. “Endotermia” – melhor edição de som (Marcos Lopes e Tiago Bello)