Florianópolis exibe, em seu centro histórico, 115 filmes do Mercosul
Por Maria do Rosário Caetano
O FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul) quer ver os cinéfilos catarinenses e seus convidados (muitos vindos de países do Mercosul) circulando e ocupando o centro histórico da cidade. Por isto, os 115 filmes que participarão de oito mostras competitivas, informativas e especiais serão exibidos no Museu da Escola Catarinense, no Hotel Majestic, no Teatro Álvaro de Carvalho e em cinco salas do Cineshow, no Beiramar Shopping.
Antonio Celso dos Santos, diretor-geral do FAM, justifica o regresso ao centro de Florianópolis: “nosso evento foi criado para difundir o cinema de nossa região e projetar nossa cidade, de tantas belezas, no imaginário dos países que integram o Mercosul”. Ele lembra que “de tempos em tempos, realizamos mudanças de nossas sedes e, agora, mais que nunca sentimos ter chegado o momento de retorno aos espaços do centro histórico”.
Para marcar seu caráter de festival dedicado ao cinema do Mercosul, o filme de abertura (nesta quinta-feira, 26 de setembro) será o documentário brasileiro-uruguaio “Eduardo Galeano Vagamundo”, de Felipe Nepomuceno, sobre o autor do ensaístico e emblemático “Veias Abertas da América Latina”. O festival prossegue até 2 de outubro, quando serão entregues os troféus Panvision aos vencedores de diversas competições (Longas ficcionais de países do Mercosul, Longas documentais, Curtas Mercosul, Curtas infanto-juvenis, Videolips e do Rally Universitário Floripa).
Esta, que é a 23ª edição do FAM, apresenta números dignos de verdadeira maratona cinematográfica. Além dos 115 filmes selecionados para os vários segmentos do festival, há dezenas de atividades reflexivas (debates, encontros e seminários), que se somarão ao Fórum Audiovisual do Mercosul. O FAM, afinal, teve seu gérmen originário neste tradicional fórum de debates.
O festival catarinense cresceu muito. Quem pensou que ele murcharia neste ano de crise econômica, enganou-se. “Teremos pela primeira vez” – destaca Antonio Celso – “mostra competitiva de longas ficcionais do Mercosul”. Antes, o FAM concentrava sua competição em longas documentais e curtas-metragens. Serão exibidas cinco ficções vindas da América hispânica e uma do Brasil (o cearense “Pacarrete”, de Allan Deberton).
Depois de conquistar, na mostra brasileira do Festival de Gramado, oito Kikitos (incluindo os de melhor filme pelo júri oficial e pelo júri popular), “Pacarrete” enfrentará concorrência latino-americana. Ou seja, cinco filmes falados em espanhol (dois argentinos, um colombiano, um boliviano e outro fruto de parceria entre o Equador e o Uruguai).
Marcélia Cartaxo é a protagonista absoluta de “Pacarrete”. Ela interpreta uma bailarina já sexagenária, que sonha voltar a dançar justo na festa comemorativa dos 200 anos de sua cidade natal, Russas, interior do Ceará. Tida como louca, Pacarrete será escanteada pelas autoridades, que a trocarão por barulhentas bandas de forró, sob o argumento de os munícipes não estarem nem aí para clássicos de ballet. Com seu desempenho, Marcélia vem encantando plateias de todo país. Foi premiada em Gramado, plaudida de pé no Cine Ceará e será homenageada no Los Angeles Brazilian Film Festival, em outubro.
Para festejar a atriz paraibana, de 55 anos, o FAM programou, em seu núcleo histórico, sessão especial de “A Hora da Estrela” (Suzana Amaral, 1985), filme que a revelou. Por ele, Marcélia recebeu um troféu Candango, no Festival de Brasília, e o Urso de Prata, em Berlim.
O calendário cinematográfico do FAM conta com 60 atividades complementares. A mais curiosa delas é o Rally Universitário, que reúne filmes realizados em maratona cinematográfica, na qual os participantes produzem cinco curtas-metragens ao longo de 100 horas contínuas, durante o desenrolar do festival.
Outro segmento que receberá atenção especial é o “Work in progress” (composto com filmes em processo de finalização). Seis produções serão exibidas em sala VIP, portanto, em condições ideais. Após as sessões, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Boca a Boca conversarão com o público, que dará suas opiniões sobre o que viu. O feedback será elaborado e entregue aos realizadores e produtores para que possam avaliar a resposta dos espectadores. “Os dados” – pondera Antonio Celso – “poderão ser usados no aprimoramento dos filmes”.
O FAM contará, ainda, com um Encontro de Coprodução, cujo maior interesse é aproximar produtores brasileiros de colegas dos países vizinhos. Haverá, ainda, seminários e oficinas.
O festival catarinense não tem nenhum preconceito contra o cinema comercial. Tanto que apresentará a trilogia “De Pernas pro Ar”, protagonizada pela atriz Ingrid Guimarães, conhecida como “a rainha do blockbuster”.
O público catarinense poderá, ainda, assistir a filmes premiados com o Troféu Grande Otelo, no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. O critério de escolha foi o voto popular: os eleitos são “Chacrinha, o Velho Guerreiro”, de Andrucha Waddington, e “Uma Noite de 12 Anos”, do uruguaio Álvaro Brechner. Este filme, que venceu na categoria “melhor produção ibero-americana”, conta a história de três militantes tupamaros, presos e torturados durante a ditadura militar no país platino. Um deles, José Mujica, seria eleito, décadas depois e por duas vezes, presidente do Uruguai.
Os vencedores das oito mostras competitivas do FAM receberão, além do Troféu Panvision, mais de R$ 200 mil em prêmios oferecidos por empresas parceiras (em produtos e serviços cinematográficos).
Para a Mostra Curtas Catarinense, espaço destinado à produção do Estado, foram selecionados 11 filmes, vindos dos municípios de Palhoça, Chapecó e Blumenau para somar-se à produção de Florianópolis. Na Mostra Curtas Mercosul, serão exibidas 21 produções. A Mostra Infanto-juvenil apresentará 12 filmes de curta e média duração (nos dias 30, 1º e 2), com entrada franca para todos e com estudantes de escolas públicas e privadas como alvo principal.
Na Mostra Videoclipe, composta com 13 títulos, destaca-se o catarinense “Ore Kunhangue – Mbya Resiste”, falado em guarani e gravado na cidade de Palhoça.
Confira a lista dos filmes da programação do festival:
Longas-metragens (Ficção Mercosul)
. “Niña Errante”, de Rubén Mendoza (Colômbia)
. “Cenizas”, de J.S. Jacome (Equador-Uruguai)
. “El Rio”, de Juan Pablo Richter (Bolívia)
. “Yo Niña”, de Natural Arpajou (Argentina)
. “El Rocío”, de Emiliano Grieco (Argentina)
. “Pacarrete”, de Allan Deberton (Brasil)
Longas-metragens (Documentário Mercosul)
. “Gran Orquestra”, de Peri Azar (Argentina)
. “Zurita”, de Alejandra Carmona (Chile)
. “Eduardo Galeano Vagamundo”, de Felipe Nepomuceno (Brasil-Uruguai)
. “Bando, um Filme De:”, de Lázaro Ramos e Thiago Gomes (Brasil)
. “Espero (Tua) Revolta, de Eliza Capai (Brasil)
. “Missão 113”, de Sílvio Da-Rin (Brasil)
Longas-metragens Catarinenses
. “Crisálida – O Filme”, de Serginho Melo
. “Tekoayhu – Amizade”, de Chico Faganello
. “O Espiral de Contos de Deolindo Flores”, de Rodrigo Araújo e Thiago L. Soares
. “A Maravilha do Século”, de Márcia Paraíso
. “Abrindo as Janelas do Tempo”, de Santiago Asef
Outras Sessões
. “Cara Sucia”, de Gastón Gulart (Arg/Esp/Suíça)
. “Un Gauchito Gil”, de Joaquin Pedrotti (Argentina)
. “Idade da Água”, de Orlando Senna (Brasil) – Sobre a questão da falta de água no planeta e o papel da Amazônia
. “Los Silencios”, Beatriz Seigner (Brasil/Col/França)
. “Desarquivando Alice Gonzaga”, de Betse de Paula, na Sessão Recam
. “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral (núcleo histórico)
. “ Mocinho e Bandido”, de Guto Bozzetti (Brasil)
. “O Grito”, de Luiz Alberto Cassol (Brasil)
. “Escola sem Sentido”, de Thiago Foresti (Brasil)
. “A Jornada”, de Jonathan Ferr (Brasil)
. “Mormaço”, de Marina Meliande (Brasil)
. “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral (Brasil)