“Ema”, oitavo filme de Larraín, tem pré-estreia online em 50 países

Por Maria do Rosário Caetano

“Ema”, o mais inusitado e estilizado dos filmes do chileno Pablo Larraín, tem, neste Dia do Trabalho, sua pré-estreia online. O filme será lançado simultaneamente em 50 países, sendo o Brasil um deles. A plataforma Mubi e a distribuidora Imovision somaram forças para apresentar, gratuitamente e por apenas 24 horas, o oitavo longa do mais conhecido dos cineastas chilenos da atualidade.

Larraín, de 43 anos, dirigiu o perturbador “Tony Manero”, o politizado “No”, sobre o plebiscito que derrotou a ditadura Pinochet, bons perfis de “Neruda”, o poeta premiado com o Nobel, e “Jackie”, sobre a viúva Kennedy e, depois, senhora Onassis. Mas seu filme mais notável é, sem dúvida, “O Clube”, inquietante e dolorosa incursão em tema tabu – os envolvimentos de religiosos católicos com a pedofilia.

Nos melhores trabalhos de Larraín destaca-se Alfredo Castro, seu ator-fetiche e colaborador (inclusive nos roteiros dos primeiros filmes). O grande intérprete, que brilhou, também, no venezuelano “De Longe te Observo” (Lorenzo Vigas, 2016, Leão de Ouro em Veneza), vinha de sólida experiência no teatro quando deu vida a um homem qualquer, alucinado pelo John Travolta de “Embalos de Sábado à Noite” e, depois, a um lúgubre legista que dissecava corpos de presos políticos assassinados pela repressão pinochetzista. Porém, com o passar do tempo, ele foi de protagonista a coadjuvante, até chegar a pequenas participações. Em “Ema”, está ausente. Mas Catalina Saavedra, a excelente atriz que protagonizou o obrigatório “A Criada” (Sebastián Silva, 2009) aparece em papel coadjuvante.

Que ninguém espere de “Ema” o que viu nos sete filmes anteriores do cineasta e também produtor de importantes títulos chilenos (como “Glória”, com Paulina García, e “Uma Mulher Fantástica”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, ambos dirigidos por Sebastián Lélio). Larraín, registre-se, integra uma das famílias mais importantes do Chile. Seu pai, o senador Hernán Larraín, e a mãe, a empresária Madalena Matte, apoiaram o Governo Pinochet. O que não impediu que o filho fizesse “No”, finalista ao Oscar internacional e crítico à ditadura militar chilena.

“Ema”, o filme que chega fugazmente ao streaming, dividiu a crítica em Veneza 2019, festival que o teve na competição pelo Leão de Ouro, e ao ser lançado, em setembro do ano passado, no Chile. Quem gostou de “No” e da arrebatadora atmosfera de “O Clube”, não deve gostar de “Ema”. Mesmo que a intenção fosse fugir do naturalismo, Larraín parece perdido ao abraçar o cotidiano de jovens com o quais parece não ter nenhuma familiaridade.

A jovem bailarina que dá nome ao filme é interpretada pela chilena Mariana Di Girolamo, de 29 anos, mas que aparenta bem menos. Com cabelos muito oxigenados, ela parece uma pós-adolescente disposta a aprontar todas. Casada com o coreógrafo Gastón (o mexicano Gael García Bernal), 20 anos mais velho (na trama, pois na vida real o ator tem 41 anos), os dois resolvem adotar um menino colombiano. Depois que o filho provoca acidente com fogo (elemento essencial na narrativa), sua adoção será revista. Afinal, o ato piromaníaco do menor resultará em graves queimaduras no rosto da irmã de Ema. A mãe adotiva devolve a criança ao Serviço Nacional de Atendimento a Menores. E a relação com o marido tornar-se cada vez mais problemática.

A jovem bailarina agrupa-se numa espécie de “pandilla callejera” e começa a dançar pelas ruas e praças. Suas performances são erotizadas, selvagens, destrutivas. Se o filho adotivo brincou com fogo e se deu mal, ela se impôs limites? Não. Ema continua com sua alma piromaníaca. E rebelde.

Na trilha sonora (assinada por Nicolas Jaar e Tomasa del Real), há muito reggaetón. Principalmente nas performances callejeras. A fotografia de Sérgio Armstrong tem seu impacto, mas o filme não envolve o espectador. Pelo menos aquele que esperava de Larraín filmes densos como os protagonizados por Alfredo Castro (os angustiantes “Tony Mamero” e “Post Morten”) ou por elenco poderoso como o coletivo que interpretou os religiosos isolados pela alta hierarquia da Igreja chilena em um clube distante. Clube onde se ouvia apenas o barulho do mar e o latido furioso dos cães. Espaço de purgação do pecado da pedofilia.

Resta ver se as plateias mais jovens se interessarão pela estranha (e antipática) personagem de Mariana Di Girolamo e por seu insosso (e estéril) marido.

Ema
Chile, 102 minutos, 2019 
Direção:
Pablo Larraín
Produção: dos irmãos Pablo e Juan de Dios Larraín (Fábula Filmes)
Elenco: Mariana Di Girolamo, Gael García Bernal, Catalina Saavedra, Santiago Cabrera, Paola Giannina, Mariana Loyola, Gianina Frutero, Christian Suárez, Amparo Noguera.
Somente neste dia primeiro de maio, gratuitamente na plataforma Mubi. A exibição especial poderá ser acessada via site mubi.com/ema e em aparelhos iOS. Em parceria com a Imovision.

 

FILMOGRAFIA
PABLO LARRAÍN
(Santiago do Chile, 16 de agosto de 1976)

2019 – “Ema”
2017 – “Jackie”
2016 – “Neruda”
2015 – “O Clube”
2012 – “No”
2010 – “Post Morten”
2008 – “Tony Manero”
2006 – “Fuga”

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