“Las Niñas” é o grande vencedor dos Prêmios Goya
Por Maria do Rosário Caetano
O filme “Las Niñas”, da estreante Pilar Palomero, foi o grande vencedor na cerimônia virtual dos Prêmios Goya, atribuídos, anualmente, pela Academia de Arte Cinematográfica da Espanha. A festa, comandada por Antonio Banderas, direto de Málaga, reafirmou a força feminina no novo cinema ibero-americano.
Opera-prima, ou seja, obra de diretor(a) estreante, “Las Niñas” foi eleito o melhor filme, derrotando a super-produção “Adu”, de Salvador Calvo, difundida planetariamente pela Netflix.
Além do prêmio principal, o longa-metragem de Pilar Palomero conquistou o Goya de melhor fotografia (para a boliviana Daniela Cajías) e roteiro original (da própria cineasta, que evocou memórias da pré-adolescência em Saragoza). Na categoria “revelação”, a jovem cineasta conquistou mais dois “cabeçudos” (apelido carinhoso dado ao troféu, um volumoso busto do maior dos pintores espanhóis): melhor opera-prima e melhor direção.
“Adu”, porém, não foi esquecido. Salvador Calvo foi eleito o melhor diretor. E mais: um adolescente da África árabe, Adam Mourou, ganhou o Goya de “ator revelação”. E a equipe de som, captado em filmagens em vários países do continente africano e no enclave de Melilla, levou seu troféu. Por fim, a Academia reconheceu a direção de produção deste filme de tom épico, que soma três histórias e dialoga com o cinema espetáculo.
Já “Las Niñas” é um pequeno filme (se comparado com “Adu”). Ao evocar lembranças de seus tempos de escola, Pilar Palomero centra sua narrativa na pré-adolescente Célia (a estreante Andrea Fandós). Ela estuda em recatado colégio de freiras, na Saragoza da década de 1990, e vive pequenas histórias cotidianas, até a chegada de Brisa, garota descolada, que ouve rock e veste roupas diferentes. O filme foi fotografado pela boliviana Daniela Cajías, que fez história. Foi a primeira diretora de fotografia (atenção ao gênero feminino) a ganhar um Goya.
Mais um cineasta espanhol levou um “cabeçudo” para casa – Fernando Trueba. Já premiado com o Oscar de melhor filme internacional (com “Sedução – Belle Époque”, na década de 1990), o madrilenho viu o drama histórico colombiano “El Olvido que Seremos” (“Memórias de meu Pai”), eleito como a melhor produção ibero-americana. Personagem (Héctor Abad Gómez, médico e ativista dos Direitos Humanos na conflagrada Medelim dos anos 1970), trama e ambientação são 100% colombianos. Mas diretor e ator-protagonista (Javier Cámara) vieram da Península Ibérica. Trueba, com sua incursão hispano-americana, derrotou o chileno “O Agente Duplo”, documentário-sensação de Maite Alberti, o guatemalteco “L a Llorona”, de Jayro Bustamante, e o mexicano “Ya No Estoy Aqui”, de Fernando Frías.
Na categoria melhor filme europeu, o britânico “Meu Pai”, dirigido pelo francês Florian Zeller e protagonizado por Antony Hopkins e Olivia Colman, derrotou “O Oficial e o Espião”, de Roman Polanski, o polonês “Corpus Christi”, de Jan Komasa, e a produção internacional “Falling”, de Viggo Mortensen, que representou a Dinamarca.
O triunfo de “El Año del Descubrimiento”, de Luis Lópes Carrasco, eleito o melhor documentário, foi dos mais sólidos. Afinal, o filme superou obras ficcionais e levou, também, o Goya de melhor montagem.
Confira os vencedores:
. “Las Niñas”, de Pilar Palomero – melhor filme, melhor fotografia (Daniela Cajías), roteiro original, melhor filme de diretora estreante, diretora revelação
. “Adu”, de Salvador Calvo – melhor diretor, ator revelação (Adam Nourou), direção de produção, som (Juan Ferro e Nicolas Poulpiquet)
. “El Año del Descubrimiento”, de Luis Lópes Carrasco – melhor filme documentário, melhor montagem (Sérgio Giménez)
. “Meu Pai”, de Florian Zeller (Inglaterra) – melhor filme europeu
. “El Olvido que Seremos” (“Memórias de meu Pai”), de Fernando Trueba (Colômbia) – melhor filme ibero-americano
. “La Galina Turuleca” – melhor filme de animação
. “Anne” – melhor atriz (Patricia López Arnaiz), melhor atriz revelação (Jone Laspur), roteiro adaptado (David Perez e Marina Parés)
. “Não Matarás” – melhor ator (Mario Casas)
. “La Boda de Rosa”, de Icíar Bolaín – melhor atriz coadjuvante (Nathalie Posa)
. “Sentimental”– melhor ator coadjuvante (Alberto San Juan)