Gramado terá segunda edição virtual e competição sem diretores veteranos

Por Maria do Rosário Caetano

A quadragésima-nona edição do Festival de Cinema de Gramado, a segunda com transmissão virtual pelo Canal Brasil, volta à sua data histórica – o mês de agosto (de 12 a 21).

Ano passado, por causa da pandemia, o tradicional festival gaúcho aconteceu no final de setembro. Na manhã dessa terça-feira, 13 de julho, foram anunciadas as listas de filmes de longa e curta-metragem (brasileiros e gaúchos) e de longas latino-americanos selecionados entre “mais de 800 títulos inscritos”.

A curadoria, formada com a atriz argentina Soledad Villamil, partner de Ricardo Darín no oscarizado “O Segredo dos seus Olhos”, e com o crítico gaúcho Marcos Santuário – o cineasta Pedro Bial só participou da seleção do ano passado –, selecionou sete longas brasileiros e quatro latino-americanos, ao invés dos seis do ano passado.

A competição brasileira – lembrou Santuário – continua com “sete títulos vindos de todos os Brasis”. Dessa vez, não há nomes de veteranos, como ano passado, que exibiu (e premiou pela direção) “Aos Pedaços”, de Ruy Guerra.

Os selecionados de 2021 são “Jesus Kid”, de Aly Muritiba, representando o Paraná, a ficção científica terceiromundista- pernambucana “Carro Rei”, de Renata Pinheiro, o gaúcho “A Primeira Morte de Joana”, de Cristiane Oliveira, o paulista “O Novelo”, de Claudia Pinheiro, e os cariocas “Homem Onça”, de Vinícius Reis, “A Suspeita”, de Pedro Peregrino, e “Álbum em Família”, de Daniel Belmonte.

A se notar: um detentor do Kikito de melhor filme, o baiano-paranaense Aly Muritiba (laureado em 2016, com “Ferrugem”), regressa à disputa com trama protagonizada por Paulo Miklos e incursão pela metalinguagem. O titã tem se dedicado, cada vez mais, ao cinema e dois anos atrás ganhou o Kikito de melhor ator por seu desempenho em “O Homem Cordial”, de Iberê Carvalho.

Há, na competição brasileira, quatro filmes dirigidos por nomes masculinos e três por diretoras-mulheres. Renata Pinheiro é, além de realizadora de quatro longas-metragens, uma das mais festejadas diretoras de arte do país. Cristiane Oliveira estreou com sensível “Mulher do Pai”, filme que uniu brasileiros e uruguaios e somou muitos elogios. A paulistana Claudia Pinheiro chega com longa protagonizado por elenco black, no qual destacam-se Rocco Pitanga, Taís Lago, Graça Andrade, André Ramiro (de “Tropa de Elite”), Michel Gomes (de “Cidade de Deus”), Sidney Santiago, Nando Cunha e Rogério Brito.

Dois dos sete selecionados passaram por festivais internacionais. “Homem Onça” (“Jaguar Man”), com Chico Diaz, Sílvia Buarque, Bianca Byington e Emílio Mello, foi exibido em festival asiático dedicado ao cinema de arte. “Carro Rei”, com Matheus Nachtergaele à frente de elenco de rostos novos, competiu em Roterdã, na Holanda. Todos os longas selecionados são 100% inéditos em território brasileiro. Já dos curtas não se exigiu ineditismo.

A produção latino-americana, que ano passado expandira-se até o México, voltou a restringir-se à América do Sul. E foi reduzida em um terço. Tomara que ano que vem a mostra dedicada ao cinema de fala hispânica retome seu alcance histórico e chegue ao Caribe e ao país asteca.

O uruguaio “La Teoría de los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández Pujolo, traz no elenco nomes muito familiares ao público gramadense – Cesar Troncoso, premiado com um Kikito por “O Banheiro do Papa” e com um Kikito de Cristal por sua trajetória, Veronica Perrota, atriz e diretora de, entre outros, o delicioso “Os Golfinhos Vão para o Leste”, e Horacio Camandulle, de “Gigante”. O brasileiro Roberto Brindelli, de origem hispano-americana, também está no elenco.

O chileno “Gran Avenida”, de Moises Sepulveda, o argentino “Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky, e o boliviano “Pseudo”, de Gory Patiño e Luis Reneo, completam a enxuta lista de produções oriundas da América Platina e Andina.

Os troféus-homenagem (Oscarito, Eduardo Abelin, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado) serão, este ano, somados num único prêmio dedicado “a todos os profissionais do audiovisual brasileiro”. Marcos Santuário reforçou que “a homenagem será destinada a toda cadeia de produção de nosso cinema”, nesse momento difícil que atravessamos.

Dois eventos dedicados à ampliação do alcance do festival – o Educavídeo e a Mostra de Cinema Universitário – acontecerão, também, no espaço virtual. O primeiro, no dia 12 de agosto, nas redes sociais do evento. O segundo, na tela da TV Educativa, dias 14 e 15, acompanhado de debate sobre “os rumos do novíssimo cinema brasileiro”.

E, finalmente, a Prefeitura Municipal usará a vitrine festivaleira para anunciar a implantação da Gramado Film Commission, que nasce com a intenção de atrair produtores de todo país para filmagens e gravações na Serra Gaúcha.

A TV Educativa do Rio Grande do Sul, que quase foi desmantelada por gestões privatistas, regressa revigorada à cobertura do festival.

Abaixo, as listas de todos os filmes selecionados para a quadragésima-nona edição de Gramado. Ano que vem, os organizadores esperam comemorar, de forma presencial, os 50 anos do mais badalado dos festivais brasileiros.

LONGAS BRASILEIROS

. “A Primeira Morte de Joana” (RS), de Cristiane Oliveira
. “Carro Rei” (PE), Renata Pinheiro
. “O Novelo” (SP), de Claudia Pinheiro
. “Jesus Kid” (PR), de Aly Muritiba
. “Homem Onça” (RJ), de Vinícius Reis
. “A Suspeita” (RJ), de Pedro Peregrino
. “Álbum em Família” (RJ), de Daniel Belmonte

LONGAS LATINO-AMERICANOS

. “Gran Avenida” (Chile), de Moises Sepulveda
. “La Teoría de los Vidrios Rotos” (Uruguai, Brasil e Argentina), de Diego Fernández Pujol
. “Planta Permanente” (Argentina e Uruguai), de Ezequiel Radusky
. “Pseudo” (Bolívia), de Gory Patiño e Luis Reneo

CURTAS BRASILEIROS

. “A Beleza de Rose” (Ceará), de Natal Portela
. “A Fome de Lázaro” (Paraíba), de Diego Benevides
. “Animais na Pista” (Paraíba), de Otto Cabral
. “Aonde Vão os Pés” (Paraná), de Débora Zanatta
. “Da Janela Vejo o Mundo” (Paraná), de Ana Catarina Lugarini
. “Desvirtude” (Rio Grande do Sul), de Gautier Lee
. “Entre Nós e o Mund”o (São Paulo), de Fabio Rodrigo
. “Eu Não Sou um Robô” (Rio Grande do Sul), de Gabriela Lamas
. “Fotos Privadas” (Rio de Janeiro), de Marcelo Grabowsky
. “Memória de Quem (Não) Fui” (Rio de Janeiro), de Thiago Kistenmacker
. “O que Há em Ti” (São Paulo), de Carlos Adriano
. “Per Capita” (Pernambuco), de Lia Leticia
. “Quanto Pesa” (Maranhão), de Breno Nina
. “Stone Heart” (Amazonas), de Humberto Rodrigues

LONGAS GAÚCHOS

. “Cavalo de Santo” (Porto Alegre), de Mirian Fichtner e Carlos Caramez
. “Extermínio” (Cachoeira do Sul), de Mirela Kruel
. “A Colmeia” (Porto Alegre), de Gilson Vargas

CURTAS GAÚCHOS

. “Jardim das Horas” (Porto Alegre), de Matheus Piccoli
. “Cacicus” (Santa Cruz do Sul), de Bruno Cabral e Gabriela Dullius
. “Era uma Vez… uma Princesa” (Porto Alegre), de Lisiane Cohen
. “Depois da Meia Noite” (Caxias do Sul), de Mirela Kruel
. “Para Colorir” (Porto Alegre), de Juliana Costa
. “Um Dia de Primavera” (Porto Alegre), de Lisi Kieling
. “Nave Mãe” (Sapucaia do Sul), de Gisa Galaverna e Wagner Costa
. “Rota” (São Leopoldo), de Mariani Ferreira
. “Tormenta” (Porto Alegre), de Emiliano Cunha e Vado Vergara
. “Não Sou Eu” (Porto Alegre), de Theo Tajes
. “Comboio pra Lua” (Pelotas), de Rebeca Francoff
. “Fé” (Porto Alegre), de Thais Fernandes
. “Tom” (Porto Alegre), de Felippe Steffens
. “Solilóquio” (Porto Alegre), de Marcelo Stifelman
. “Nilson Filho do Campeão” (Santa Cruz do Sul), de Diego Tafarel
. “Eu Não Sou um Robô” (Porto Alegre), de Gabriela Lamas
. “Desvirtude” (Porto Alegre), de Gautier Lee
. “Noite Macabra” (Canoas), de Felipe Iesbick
. “Love do Amor” (Restinga Sêca), de Fabrício Koltermann
. “Isso me Faz Pensar” (Porto Alegre), de Hopi Chapman
. “Brecha” (Pelotas), de Helena Thofehrn Lessa
. “Rufus (São Leopoldo), de Eduardo Reis
. “Hora Feliz” (Porto Alegre), de Alex Sernambi
. “Trem do Tempo” (Pelotas), de Vitor Rezende Mendonça

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